O silêncio que grita, acidente, dor e negligência na suíça:
Era manhã nas obras que levantam a grande genebra, onde o suor se mistura ao ferro e ao pó suspenso no ar. Mas a 15 de novembro de 2017, um homem viu a sua vida mudar num instante, não por queda ao chão, mas por queda no abandono. Uma carga pesada foi lançada do alto de um edifício de cinco andares, atingindo-lhe a cabeça e as costas, deixando-o sem sentidos. O operador da máquina, não habilitado para tal, fugiu sem prestar auxílio e nunca foi interrogado. A verdade ficou soterrada entre o ruído das máquinas e o silêncio das instituições.
Passaram-se anos. A dor tornou-se sombra diária, sempre presente, sempre viva. As consultas sucederam-se, os relatórios multiplicaram-se, mas a justiça ficou à porta. Onde deveria existir cuidado, encontrou-se suspeita. Onde deveria haver investigação, reinou a omissão. A polícia que testemunhou o acidente permitiu que as provas desaparecessem. A suva e a ai exigiram demonstrações de sofrimento como se o corpo humano fosse mentira a provar. O tempo transformou-se numa luta desigual, o homem contra o sistema, a dor contra a negação.
A promessa de cirurgia foi retirada no próprio dia. A fisioterapia, quando ajudava, foi cortada. A incapacidade física foi ignorada, ordenando-se o regresso ao trabalho como se a dor fosse imaginação. Quando o corpo não responde, mas a autoridade obriga, nasce a violência invisível, aquela que destrói devagar, sem ruído, sem testemunhas, apenas com o coração cansado de lutar.
Quantos mais? Quantos trabalhadores, vindos de outras terras, sustentando famílias e sonhos, são reduzidos a números de processo, a relatórios contraditórios, a decisões escritas longe das dores que carregam? O silêncio do poder é sempre maior que o grito do homem simples, mas a verdade não morre só porque tentaram calá-la.
Se a justiça não vier, a palavra virá. Se a porta se fechar, a voz levantará. A dignidade não se mendiga, defende-se. A dor de um trabalhador não é desperdício, nem sobra, nem ruído. É testemunho vivo de uma vida que continua, apesar de tudo.
Aqui fica o relato para memória, através da revista Repórter X para consciência, e para que ninguém diga, amanhã, que não sabia.
autor: Domicio Gomes
Revista Repórter X Editora Schweiz Oficial

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