J'Accuse
parce que… A
injustiça moderna
por Clea Vieira
Essa poderia ser mais
uma Carta Aberta (como a de Émile Zola) porém essa é endereçada a
ninguém ou, para os mais dramáticos, um discurso de ódio travestido de moralismos
e ideologias ultrapassadas.
Para outros uma
declaração de uma rebelde sem causa ou, ainda, uma dialética às avessas. Mas
não, está mais para uma transmutação, por assim dizer, do Totalitarismo -
devido ao desprezo pela realidade dos fatos.
Há exatos sete anos vivo
aqui na Suíça, e com uma bagagem de lixo emocional (que nem é minha) equivalente
ao triplo desse tempo, clamo por devolvermos os cargos de chefia na Suíça aos
suíços. Sim, está cada dia pior trabalhar e conviver com estrangeiros como eu
aqui: que alegam buscar uma vida mais estruturada, mas as pessoas são, em sua
maioria, totalmente desestruturadas (para não maldizer desequilibradas) psicologicamente.
A sensação que temos é
que, embora vivamos num Estado laico, no âmbito laboral somos dhimmi (dhimma):
onde julgam que, por sermos (de países) cristãos temos menos direitos e
somos menos capazes de estarmos em posições de responsabilidades e até mesmo
excluídos. O que se vê é um despotismo disfarçado, onde não precisam de lei
para outorgar o terror perpetrado nas lideranças pois partem da premissa que o
poder detém a razão.
O empregado que passa
por diversas situações vexatórias, humilhantes e até mesmo degradantes acaba
perdendo seu instinto de auto-conservação. E seu psiquê é colocado em questão,
sua moral encarcerada numa inóspita colônia penal, pois, infelizmente, no final,
o errado é quem está certo.
Assim como eu, tenho
certeza que muitos já passaram por problemas desnecessários criados por colegas
de trabalho que se julgam superiores ou melhores quando que, na verdade, são
infinitamente descompensados mental e fisicamente. São oriundos de países político
e sócio economicamente falidos, sem falar que a maioria alega perseguição
religiosa e chegam aqui e fazem tudo aquilo que um dia disseram estar fugindo.
Se é correto afirmar que
somos a média das pessoas que mais convivemos, tenho uma péssima notícia a dar:
estamos todos fadados a sermos piores seres humanos do que já éramos. O culto
ao dinheiro se sobrepõe ao intelecto. Um palco de ódio amplificado entre os
trabalhadores aqui estão e, infelizmente, nós estrangeiros estamos, a curto e
médio prazo, personificado o Bem e o Mal, refutando nosso objetivo inicial: a
busca por uma vida melhor e mais justa.
Independente das raças
que mais cometem infrações entre os colegas de trabalho, há de se concordar que
a qualidade dos serviços caem consideravelmente, por exemplo, no aeroporto de
Zurique - mundialmente um dos mais conceituados no quesito segurança. Lá eu
pude vivenciar coisas que são dignas de capítulos inteiros de novela mexicana
com requinte de crueldade de Hitchcock.
Um dos episódios ocorreu
na cozinha da SSP, quando eu trabalhava de madrugada. Para elucidar o caso todo
o chefe de equipe (croata) é obrigado a fazer curso de primeiros
socorros e quando eu tive mau súbito o primeiro a se abster de qualquer ajuda
foi o próprio, alegando "ter muito trabalho" e eu,
inconsciente (e lá fiquei por 15 minutos, segundo testemunha), fui
observada pelo colega que se negou me deixar sozinha em cima da pia de metal,
como se eu fosse um pedaço de carne para ser usado mais tarde nos sanduíches,
que mesmo sem saber falar os idiomas locais ou inglês, soube falar a linguagem
universal dos anjos: o amor, e tentou me reanimar como podia até eu estar aqui
para contar a vocês o que passei.
Se a existência
precede a essência, em pouquíssimo tempo a Suíça estará corrompida,
inundada e afogada em diversas religiões e seitas, crenças e mau caratismo
exacerbado. Porém, assim como Émile Zola em J'Accuse, espero que haja
inquérito, até mesmo processo em tribunal criminal a fim de surgir a verdade
por tantas "Cléas" largadas a própria sorte e pior, no lugar mais
seguro do país!
O país? É de primeiro
mundo! Eu vim de um país de terceiro mundo. Mas o serviço aqui, hoje em dia, é
de quinta categoria. Pois, onde todos se calam são cúmplices, ao menos por
fraqueza de espírito.
Principalmente aqueles
que tiveram em suas mãos provas e relatos de terceiros das injustiças que
ocorrem nós bastidores e, ainda assim, abafam, são tão culpados quanto.
Chefes de equipe que
gritam palavras de baixo calão, destratam - como uma jovem chefe de equipe da
Mr. Clean e um rapaz da Splendida (ambos portugueses) - humilham, fazem
piada e espalham informações de cunho pessoal para demais parece ser requisito
básico para estar na liderança. Pessoas com carta de condução é exigido, mas
desvio de conduta e caráter são fatores eliminatórios. Impossível crer em algo
diferente disso mediante tamanha enxurrada de críticas e demissões voluntárias
e involuntárias que ocorrem mês após mês.
Enquanto uma famosa
mundial rede de fast food faz questão de exaltar seus melhores funcionários do
mês, aqui a coisa funciona de forma celeuma: quem humilhou mais funcionários,
mais exaltado ele é (do nada a Vebego pós uma albanesa que fez um inferno na
minha vida). Transformam, então, os gabinetes de recursos humanos em
inatacáveis gabinetes de guerra santa, para encobrir a má gestão, acobertam
ilegalidades, cometem crimes jurídicos ao inocentar sabidamente um ou mais
culpados (volto a SSP, onde mesmo com papel carimbado e assinado em mãos
negaram a veracidade do documento e além de não estornar o valor do material
devolvido, chamaram meu filho de mentiroso e ele voltou com nome e sobrenome da
responsável sem eu falar nada).
Curioso que haja tantos
jovens com menos de 25 anos na liderança de equipes enquanto que eles há pouco
tempo atrás não conseguiam nem ter obediência e/ou respeito aos próprios pais.
O que dirá comandar com sabedoria pessoas mais experientes na vida que elas.
Confundem liberdade com machismos sobre a vida alheia, como ouvi de uma chefe
de equipe de 22 anos da Honegger, que nada sabia da vida, que eu não precisava
de muitas horas de trabalho porque meu marido é suíço. O que essa ninfeta sabe
de necessidade se teve tudo muito rápido e nada aprendeu?
A assimilação está longe de resolver tais
problemas enquanto estes ainda forem encarados como "casos
isolados" porque o mundo gentio se calou. A retórica é: calaram-se por
medo, comodidade e/ou benefício próprio?
- Eu “Quelhas” subscrevo
tudo que a Clea diz, porque sei bem quem mais passou por esta injustiça de
abusos de poder e descriminação laboral entre outros! A maior parte dos Chefes
são pessoas NÃO gratas!
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