A pobreza chique na voz de Ricardo
Calheiros
A imigração não é uma solução, é um paliativo. Não vai à doença, vai aos
sintomas. E transforma-se numa doença.
Há cerca de 20 anos pensei emigrar para a Austrália. Contactei a embaixada
em Lisboa e forneceram-me vários documentos. Neles eu tinha que indicar a minha
formação superior, provas da mesma, experiência profissional, nível das línguas
que sei falar. Precisava de ter um contrato de trabalho. Dentro das minhas
habilitações poderia corresponder às quotas que reflectiam as necessidades da
economia Australiana.
Há poucas semanas reparei que o PSD nos ajustes à lei da imigração não quis
aplicar quotas, como se quotas significasse algum tipo de discriminação.
Na verdade, o mundo chegou a isto. Há quotas do bem e do mal. Os partidos,
os comentadores na televisão, nos programas desportivos, em muitas empresas, em
Hollywood, não é SÓ pelo mérito que escolhem, mas sim pelo género, pela
nacionalidade, pela raça. Ou seja, porque és mulher, africano, asiático, hétero
ou homossexual, ou de nacionalidade A, B ou C vou-te fazer o favor de te dar um
lugar em nome da tolerância e diversidade.
Isto sim é preconceito. Limitar a escolha de um ser humano, não ao que é
capaz, mas mediante o seu órgão genital, orientação sexual, nacionalidade ou
cor da pele.
E o mesmo se passa na imigração, com a política da porta aberta, porque há
pessoas que procuram uma vida melhor, porque tem de existir igualdade e têm o
direito de prosperar. A questão é que este critério não tem em conta as
necessidades do país, mas obedece a um projecto político, um pouco à imagem do
que acontece nos Estados Unidos dos Democratas ou na Espanha de Sanchez. O
projeto político que visa atrair imigrantes menos qualificados, que entram sem
contrato de trabalho, muitos deles ilegalmente, sem condições para terem uma
vida melhor. Esses serão os novos dependentes, os eternamente agradecidos à
esquerda e que irão retribuir eleitoralmente nas próximas gerações permitindo
perpetuar no poder quem defende a igualdade, mas anda há décadas a empobrecer e
corromper o país.
O argumento é de que vêm aumentar a natalidade. Que vêm contribuir para a
segurança social. Que vêm trabalhar em sectores nos quais ninguém quer
trabalhar. O remédio está na imigração. Em abrir portas sem critério. Venham
eles. Vamos acabar com o SEF e criar a AIMA. Avante camaradas. Et voilà, o
descalabro total.
Na verdade esta solução não é a cura. É um paliativo. Não vai à doença. Vai
aos sintomas e transforma-se numa doença onde há choques económicos, culturais,
religiosos com visões muito distintas do que é viver em sociedade e democracia.
As questões CHAVE a colocar são estas:
Porque é que após tantos anos Portugal não é um país competitivo, continua
na cauda da Europa e é ultrapassado pelos países de leste em produção de
riqueza?
Porque é que um terço dos jovens emigra?
Porque é que os jovens que saem das faculdades, não encontram emprego e a
saída são call centers, vendas e turismo?
Porque é que em Portugal o ordenado médio está cada vez mais próximo do
ordenado mínimo?
Em bom português: porque é que os portugueses têm menos dinheiro no bolso e
menos condições para prosperar, ter casa e formar Família?
As questões são estas. E a resposta para isso não é trazer imigrantes.
Trazer imigrantes não qualificados é a perpetuação de um modelo que está a
destruir o país e a conclusão a que se chegou é de que o Estão, os políticos
falharam para com o povo.
Limpar retretes em Portugal não é diferente das retretes na Suíça; estar em
fábricas em Portugal não é diferente de uma fábrica na Holanda; ser-se
enfermeiro na Irlanda não é diferente de se ser enfermeiro em Portugal; ser-se
professor no Luxemburgo é a mesma actividade em Portugal. As pessoas preferiam
estar em Portugal, perto da Família, mas a diferença é que aqui recebem
esmolas, enquanto nesses países conseguem ter rendimentos, qualidade de vida,
prosperar. Já aqui não há acesso à habitação, o sistema nacional de saúde está
em ruínas, nas fábricas o trabalho é precário, não há incentivo ao
investimento, e a escola pública desrespeita os professores. Lá fora é uma
Pobreza Chique onde se pode ter qualidade de vida.
Cá, a solução? Trazer imigrantes que vêm dar resposta, não às necessidades
do país, mas disfarçar os erros de um Estado que falhou para com os cidadãos.
Entender isto permite-nos respeitar e receber dignamente os imigrantes.
Dizer isto não é racismo, não é xenofobia. É tocar numa ferida que não dá
jeito falar pois isto tem um nome quando se aponta o dedo à classe política:
Incompetência.
Portugal. É esta a herança que iremos deixar aos nossos filhos?
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