História do parto por “cesariana”.
Por José Rafael Trindade Reis
A primeira cesariana bem-sucedida
foi realizada na Suíça em 1500
Mas…
… não foi nenhum por nenhum médico
… não foi nenhuma parteira
… então?
foi por um castrador de porcos
chamado Jacob Nufer, na sua sua esposa Elisabeth Alice Pachin.
Origem do nome cesariana
No mundo moderno, com o avanço da
medicina e da obstetrícia (especialidade médica que se dedica ao acompanhamento
da gestação e do parto), o procedimento chamado “cesariana”, “cesária” ou,
ainda, “parto em cesariana” tornou-se uma opção comum que, não necessariamente,
está relacionada com o risco de morte iminente à mulher parturiente ou ao feto.
Mas qual é a origem de tal
procedimento?
Por que possui esse nome tão
singular?
O nome tem sua raiz etimológica na
palavra latina “caedere”, que significa “corte”, “cortar”, mas há outra
referência também que se junta a essa: o nome do líder da República Romana,
Júlio César.
O parto por cesariana, segundo
algumas fontes historiográficas, remete ao nascimento do general líder da
República Romana, Júlio César, que foi retirado do ventre de sua mãe, Aurélia,
após a morte dela, e para salvar o bebê, os responsáveis pelos procedimentos
médicos da época. tiveram que optar pelo corte do ventre da mãe.
Essa história, a despeito de ser
exatamente verdadeira ou não, pois por muitos é considerada apenas uma
tentativa de colagem do nascimento de César ao mítico nascimento de Esculápio, revela,
no entanto, muito sobre tal prática e sobre a história da própria medicina.
O deus Esculápio (nome latino) ou
Asclépio (nome grego), comum tanto à civilização grega quanto à romana, é
considerado a divindade da medicina, do saber médico, ainda hoje o seu símbolo,
um cajado envolto por uma cobra, é utilizado como emblema de faculdades de
medicina.
Pois bem, neste mito, esculápio
teria também sido retirado do ventre de sua mãe, Corônis, por Apolo, antes de
cremar-lhe o corpo. Essa referência mitológica já denota um apreço especial do
saber médico por práticas que vão além da estrutura natural com vistas à
preservação da vida.
No entanto, na Antiguidade e na
Idade Média, a maior parte dos relatos de cesariana acentua que o procedimento
era aplicado apenas em caso de morte da mãe.
Os relatos do primeiro parto em
cesariana com a mãe viva remontam ao ano de 1500, e esta cesariana foi
realizada por um homem comum, que, ao que consta, nada sabia de detalhes
técnicos da medicina da época., de seu nome era Jacob Nufer.
A história conta-se em poucas
palavras:
Após vários dias de trabalho de
parto e com a ajuda de treze parteiras, Elisabeth a esposa de Jacob, não
conseguia dar à luz, o seu marido, completamente desesperado, e em risco de
perder a esposa e a criança, faz um apelo desesperado às autoridades locais
para o autorizarem a efectuar um corte na barriga da mulher e retirar a
criança, como costumava fazer aos animais.
Depois de muita insistência de
Jacob, perante as confusas autoridades locais face ao insólito do seu pedido,
estes, perante a perspectiva dum parto malsucedido para a mãe e para a criança,
acabaram por aceder, e finalmente Jacob obteve a respectiva permissão das
autoridades locais para tentar retirar o bebé pela barriga.
Para o efeito Jacob usou uma lâmina
de barbear afiada, e a e criança nasceu viva e saudável, a mãe recuperou
normalmente a sua saúde, o talho no seu ventre cicatrizou normalmente e a
criança não teve sequer uma sequela, e Elisabeth ainda teve mais 5 filhos,
todos de parto natural, e até teve gêmeos.
O bebé nascido de parto nada
convencional para a época viveu sempre com saúde até os 77 anos.
Para quem não sabe, os castradores
de porcos eram homens muito habilidosos no manuseio da faca, e frequentemente
retiravam as crias de animais pela barriga, durante os partos considerados
difíceis em animais como éguas, vacas, cadelas, ovelhas e porcas de modo a
poderem salvar as crias quando entendiam que a mãe poderia morrer.
A história do castrador pode
parecer implausível, mas se alguém alguma vez viu a habilidade de um castrador
de porcos em acção, a intervenção não parecerá tão estranha.
Inicio do uso da cesariana na
obstétricia.
Assim como Nufer, outros casos
semelhantes podem ter ocorrido também, tanto antes de 1500 quanto
contemporaneamente ao caso da pequena cidade suíça, mas o facto é que, como
relata o pesquisador Joffre Marcondes de Rezende, apenas no século XVIII a
cesariana foi aplicada por médicos no domínio estrito da obstetrícia.
Também Langaard (1873), no seu
Dicionário de Medicina Doméstica e Popular, dá-nos o seu testemunho: “
“A introdução da cesariana na
prática obstétrica só teve início a partir do século XVIII. Tinha uma alta
mortalidade fetal e materna e só era praticada em casos muito especiais. Apesar
de que não se pode admitir que a operação seja absolutamente mortal, o número
das operadas que escapam com vida é muito limitado”.
De facto, a tendência da época
demonstrava uma clara preferência dos obstetras apenas para o uso do fórceps
ou, se necessário, a embriotomia, e somente no século XX a cesariana se tornou
uma operação rotineira para as mulheres grávidas.
Fontes:
História Internacional das Ciências
Cirúrgicas.
J.M. Rezende - A Primeira operação
cesariana em parturiente viva.
Claúdio Fernandes - Crónica da
história da medicina.