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quinta-feira, 26 de setembro de 2024

Failde, pequena aldeia de Trás-os-Montes

Failde, pequena aldeia de Trás-os-Montes


Failde é uma pequena aldeia situada a poucos quilómetros (17) da cidade de Bragança, no nordeste transmontano de Portugal.

O Abade de Baçal cita um documento de 1221 (reinado de D. Afonso II) em que é feita uma composição de direitos foreiros entre a povoação de Failde e o poderoso Mosteiro de Castro de Avelãs, pelo que a instituição municipal, por carta de foral concelhio, terá de ser necessariamente posterior. Será também anterior a 1435, pois, nesse ano (reinando D. Duarte), surge um outro documento onde se noticia já a "Câmara de Failde e Carocedo".

Vou tentar partilhar com os leitores da Revista Repórter X uma pequena história sobre esta aldeia que, hoje, com os seus poucos habitantes, ainda se mantém intacta face à poluição. Esta pequena aldeia encontra-se situada junto à estrada do Penacal, seguindo em direcção a Parada, Izeda e outras aldeias da região.

Failde é uma aldeia pela qual não atravessam estradas; ao entrar em Failde, é necessário voltar atrás, pois não há saídas para outros destinos. Embora isso possa parecer uma desvantagem, é, na verdade, o contrário, pois evita a poluição comum em aldeias de trânsito. Assim, em Failde, respira-se ar puro e sente-se uma tranquilidade inimaginável. Na primavera e no verão, ouvem-se os cânticos dos pássaros, dos grilos e da natureza, que é um encanto, especialmente quando a primavera está em flor.

Failde outrora foi vila; ainda hoje se pode ver a casa onde estava a cadeia. Por essa razão, Failde tem um cruzeiro ou pelourinho, que é património do Estado, e também existia um tribunal. Antigamente, a população era muito elevada, com muitas famílias numerosas. Cada família tinha várias crianças; raras eram as que tinham apenas um ou dois filhos, sendo mais comum terem sete ou mais.

Em Failde cultivava-se linho, pão centeio e trigo, entre outros cereais. Havia teares, e os pastores de gado e cabras faziam parte do rendimento e da sobrevivência das gentes desta aldeia. Nos teares faziam-se tecidos, cobertores de lã, lençóis de linho, mantas, sacos e até roupas. Também havia um moinho comum na aldeia para moer cereais, e o pão era feito no forno de lenha. Nesta aldeia, cultivava-se a maior parte do que era necessário para o sustento das pessoas.

Havia ferreiro, cesteiros; as mulheres teciam, fiavam, bordavam, faziam rendas, camisolas e meias; os homens faziam calçado (socos), sapatos, carros de bois e tudo o que precisavam para os trabalhos agrícolas, vendendo também alguns produtos para conseguirem dinheiro para aquilo que não podiam produzir. Alguns faziam carvão ou brasas, que iam vender e utilizar para aquecer as casas de Bragança. Havia costureiras, alfaiates e pessoas que faziam de tudo para sobreviver. A união era notória, e as pessoas ajudavam-se mutuamente. A troca de mão-de-obra era comum nos trabalhos mais importantes, como as ceifas, as malhas, a recolha de feno, as batatas e as vindimas. O "mata-porco" era sempre uma festa para familiares e amigos.

Nas noites de inverno, depois do jantar nas próprias casas, costumava-se "velar" em casa de familiares e amigos. À luz de uma candeia a petróleo, contavam-se histórias, pois poucos sabiam ler ou escrever. As mulheres faziam meias, fiavam, dobravam as lãs e secavam as fraldas das crianças junto à lareira. Tudo era reciclado, ao contrário de hoje. Enquanto as mulheres trabalhavam, os homens contavam histórias da guerra, da caça e dos lobos que, nas noites frias e de nevoeiro, se aproximavam da aldeia à procura de alimento. As crianças, aterrorizadas, ouviam atentamente, aprendendo os ofícios e fazendo alguns deveres da escola. Muitas delas, no entanto, nem frequentavam a escola. Desta aldeia, e destas pequenas crianças, saíram grandes homens e mulheres, espalhados pelos quatro cantos do mundo.

Com o tempo, as gentes de Failde começaram a emigrar. Os filhos eram muitos e a pobreza era tanta que era necessário encontrar novos rumos. Acredito que tenham começado a emigrar nos primeiros anos de 1950, inicialmente para o Brasil e África, e depois, por volta de 1960/65, para França, Alemanha, entre outros países.

Nesta pequena aldeia transmontana, muitos grandes homens foram formados. Embora alguns tenham saído de Failde quase sem saber ler ou escrever, conseguiram grandes feitos, acumulando bens ou mesmo grandes riquezas. Outros tornaram-se figuras de relevo, ocupando altos cargos como advogados, doutores, professores, comissários, intendentes, polícias, guardas, enfermeiros, entre outros, tanto a nível nacional como internacional. Failde é uma aldeia com descendentes espalhados pelos quatro cantos do mundo.

Com isso, Failde é hoje uma aldeia com muito pouca população, pois grande parte das pessoas vive fora da zona, muitos emigrados. Muitos também saíram da aldeia para morar na cidade próxima, Bragança. Infelizmente, muitos não percebem que viver na aldeia é um privilégio sem igual e preferem as cidades, dizendo que o trabalho fica longe (apenas 17 quilómetros). Para quem vive em grandes cidades, essa distância é insignificante, mas para os que vivem nas aldeias, parece muito.

Hoje, Failde tem cerca de 23 habitantes permanentes, com outros que moram em Bragança, regressando nos fins de semana. Nos meses de verão, muitos emigrantes voltam para visitar familiares, amigos e a aldeia onde nasceram, aumentando a população temporariamente.

É triste ver uma aldeia que outrora foi vila, com uma rica história, a tornar-se cada vez mais deserta. Talvez haja um desinteresse geral pela riqueza das nossas origens, história e cultura, e pouco se faz para melhorar ou divulgar o que de bom está escondido nestes lugares únicos e maravilhosos, desconhecidos por muitos que adorariam conhecê-los.

Hoje, Failde tem uma escola abandonada por falta de crianças e um lar de idosos sempre cheio e com lista de espera. O lar, chamado Casa da Eira, foi construído há alguns anos e é conhecido em toda a região pela sua excelência. Existe também uma associação onde as pessoas se reúnem para momentos recreativos, como jogar cartas e tomar café. A casa da junta de freguesia, onde a representante da aldeia cuida da parte burocrática, também faz parte do património.

Todos sabemos que, hoje em dia, a tranquilidade e a paz num cantinho de natureza intacta tornam-se um paraíso. Aproveito com entusiasmo a oportunidade dada pela Revista Repórter X para escrever sobre esta aldeia escondida no meio da natureza selvagem e levá-la aos quatro cantos do mundo.

Por Hermínia Rodrigues Dorici


Revista Repórter X Editora Schweiz Oficial

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