Condolências
à família e amigos
Faleceu
Manuel Beja.
“Sei
que muitos portugueses não estão a ter uma vida fácil na Suíça” “Não creio que
exista um futuro para o movimento associativo. O que vai existir são grupos de
interesses privados”.
Nota de
pesar:
O Ex. mo Sr. Manuel Afonso Lourenço Beja, natural de
Alcobaça, Leiria, foi durante muitos anos o Conselheiro das Comunidades
portuguesas na Suíça, Presidente da Comissão dos Fluxos Migratórios do Conselho
Comunidades Portuguesas (CCP).
É com grande tristeza que publicamos a notícia do seu
falecimento, ele que partiu deixando-nos muitas lições de vida, amizade,
associativismo, profissionalismo, ética e humanidade.
As palavras que vamos transcrever aqui, são praticamente as
últimas que o nosso admirável amigo citou junto dos políticos e da sociedade,
que sempre o admirou, principalmente os nossos emigrantes na Suíça.
“Quero desejar as boas vindas aos membros do governo aqui
em Zürich, desejar-lhes boa sorte neste tipo de reuniões, e dizer que é a
primeira vez em cinco décadas como emigrante neste país, que vejo uma mesa tão
bem representada, com membros do governo, a tentar falar com os portugueses
aqui na cidade de Zürich, e também por toda a Suíça nas zonas onde passaram.
Portanto, é uma iniciativa que louvo, que espero que seja realmente produtiva,
e que as mensagens que nós deixamos aqui, possam ser ditas lá em Portugal.
Quero dizer que é importante que a central de telefones da segurança social
funcione melhor, porque muitos dos problemas que os portugueses têm aqui com
Portugal e com a Segurança Social, estão ligados aos problemas telefónicos da
mesma. Por isso, era bom que a central fosse renovada, e colocassem realmente
um sistema mais eficiente nas respostas.
Senhor secretário de estado das comunidades, os portugueses
na Suíça são bons pagadores de impostos, pagamos impostos por obrigação, é o
nosso dever, mas há uma questão muito delicada, depois de décadas de trabalho
na Suíça, pretendemos regressar a Portugal, e vamos com as nossas reformas, e
ao chegar a Portugal, essas nossas reformas que nós pensamos que será uma
reforma digna para que possamos usufruir dela, mas existem valores que nos
impedem de regressar a Portugal, porque pertencemos ao sexto/sétimo escalão do
IRS, e se eu regressar a Portugal terei que pagar 45% da minha reforma como
impostos, ou seja quase metade, e realmente passei quase toda a minha vida na
emigração, a trabalhar e a pagar para ter a tal reforma digna, e agora quando
regressar a Portugal vão tirar-me praticamente metade, não me parece
interessante.
É claro que há formas de dar a volta a esta situação, nós
sabemos que elas vão ser praticadas, que estão a ser feitas, mas nós queremos
cumprir com a legalidade, queremos ir para Portugal, pagar os nossos impostos
como devem ser pagos, mas esta taxa de 45%, como é o meu caso e outros que
estão aqui nesta sala, é demasiado elevado.
Quando fui conselheiro das comunidades portuguesas,
apresentei este caso lá em Lisboa, houve uma reunião entre a Direcção geral dos
assuntos fiscais e a Direcção geral dos assuntos consulares, na qual eu estive
presente, há cerca de 3 anos, para discutir esse problema. A situação foi
apresentada e ainda continuamos à espera de uma resposta. Portanto, não sei se
seria possível, pois consta, não tenho certeza, que os quadros das
multinacionais em Portugal, pagam apenas um valor de 20% sobre os seus
salários.”
Durante muitos anos, Manuel Beja viveu os seus problemas e
os problemas da comunidade portuguesa na Suíça, tal como podemos constatar no
texto transcrito anteriormente.
A Revista Repórter X e
toda a equipa que a compõe, deseja as maiores condolências a toda a família e
amigos.
Director: Quelhas
Conselheiro: Pedro Nogueira
Revisão editorial, Sociólogo político:
Dr. José Macedo de Barros
Redactor:
Patrícia Antunes
Ajuda
Técnica, Sofia Oliveira
Correspondente:
Maria Kosemund
Manuel
Beja esteve presente no lançamento dos meus livros `Quelhas´: “O Livro da
Criança e Terra das Marias da Fonte”. Esteve ainda nos Serões Culturais.
Tivemos alguns encontros no qual reunimos para falar sobre a Comunidade.
Participou algumas vezes na Revista Repórter X.
(Já
conhecia o Manuel Beja, mesmo antes de emigrar para a Suíça).
Em
agradecimento fiz-lhe um Blogue, que agora vou tentar remodelar em honra de
Manuel Beja, homem, que fica para a história da Comunidade Portuguesa na Suíça.
“Divulgar
a língua e cultura portuguesa fora de Portugal é sempre de louvar.
É bom que
os nossos escritores se aproximem mais das comunidades.
Esse elo
de ligação deseja-se se queremos colocar a nossa língua no plano que ela merece
estar no mundo.
Obrigado
João Carlos Veloso por esta passagem em Zurique.
Manuel Beja – Conselheiro das
Comunidades portuguesas na Suíça
Zurique O8-12-2007”
Ex. Conselheiro das Comunidades portuguesas
na Suíça
MANUEL
BEJA vive (u) os problemas da comunidade
“Sei que
muitos portugueses não estão a ter uma vida fácil na Suíça” “Não creio que
exista um futuro para o movimento associativo. O que vai existir são grupos de interesses
privados”.
Mesmo afastado do mundo sindical, porque o
Manuel Beja está reformado, acompanha bem de perto os problemas da comunidade.
O Manuel Beja foi o primeiro sindicalista português e durante muitos anos foi
uma voz ativa no seio da comunidade portuguesa. Critico, um acérrimo defensor
dos seus ideais e dos valores que acredita que servem para que a sociedade seja
melhor e mais solidária. Mesmo afastado do Sindicato e do Conselho das
Comunidades, continua atento a tudo que diga respeito à comunidade portuguesa
que vive na Suíça.
- Estás afastado das lides sindicais, dado
que estás reformado, mas acompanhas ainda os problemas da comunidade
portuguesa?
Manuel Beja – Eu vivo os problemas da
comunidade portuguesa. Claro que acompanho à distância, mas com uma enorme
preocupação. O passado é passado, vivi uma situação que me deixou muito
satisfeito aquando do processo da integração da comunidade na Suíça, quando
terminou o estatuto sazonal, mas nos dias de hoje as coisas mudaram,
infelizmente. Sinto que existe uma maior precaridade nos dias de hoje, e muito
pouca disponibilidade de as pessoas colaborarem com o mundo associativo.
- O que é que mais te preocupa?
Manuel Beja – Bem, estou numa situação em que
já entrei na terceira fase da vida. Esta terceira fase da vida dá muito para
pensar. Um dos assuntos que realmente preocupa é a situação dos pensionistas
portugueses. Muitos gostariam de ir para Portugal gozar a sua reforma, muitas
sem serem valores elevados, mas muitos não o fazem, porque Portugal é pouco
sensível e fecha as portas a todas estas pessoas, que investiram uma vida no
país, e que estão sujeitos a uma carga fiscal desproporcionada a quem nunca fez
nada, mesmo nada, pelos seus filhos emigrantes. Portugal, para com os
emigrantes, procedeu sempre com uma política de hipocrisia e de cinismo.
Concedem muitos benefícios aos estrangeiros que desejam radicar-se em Portugal,
mas ainda não encontraram uma solução para os emigrantes reformados que desejam
radicar-se em Portugal.
- Pensas que existe má vontade
política?
Manuel Beja – Penso que há medo. Medo das
pessoas, medo de assumir uma posição e medo do poder do capital. Porque na
realidade o problema, como é o meu, dado que estou reformado e tenho a
residência na Suíça, penso que se poderia conseguir uma solução equilibrada e
justa, porque Portugal nunca contribuiu em nada para a minha situação e não é o
país que me paga a minha reforma. Porque as cargas fiscais que Portugal aplica
a todos os cidadãos portugueses, como é evidente, como a nós que um dia
desejamos regressar em definitivo, são taxas exageradas e desproporcionais a
quem nunca contribuiu e nada fez pelo nosso bem-estar. Seria aceitável Portugal
encontrar uma taxa que fosse ao encontro do que as pessoas pagariam nos países
de acolhimento.
- Mas existe um decreto-lei que isenta os
portugueses por um período de 10 anos?
Manuel Beja – Conheço essa lei, sei que
existe, mas, no entanto, essa lei não é clara e não é totalmente abrangente e
precisa. E não é clara que se fique totalmente isento de impostos. Tem de haver
uma política clara e um decreto que vá direcionado apenas para os portugueses
que viveram e recebam reformas de um outro estado-membro, o que não é o caso.
No meu caso, com a minha reforma, eu pagaria uma taxa fiscal de 45% em
Portugal. Na Suíça pago 11%. Na minha situação existem milhares de portugueses,
não só os que trabalharam na Suíça, como aqueles da França, Alemanha,
Luxemburgo e todos os demais.
- Não será que se vive uma certa hipocrisia
quando se evoca a política da saudade, do investimento e, quando é para
esclarecer e clarificar uma situação, ninguém faz nada?
Manuel Beja – Sabes, o problema é que o
Estado não tem interesse em nos ouvir. Este problema já foi levantado há muitos
anos, e até à data ninguém nos quis ouvir. Nem querem. Sabes, eles evocam que
todos os portugueses têm de estar em pé de igualdade. Acho muito bem. Mas a
verdade é que estou fora de Portugal há mais de 40 anos e, se passar a minha
morada fiscal para lá, mais de um 1/3 da minha reforma vai para os cofres de
Portugal, tirando-me capacidade e alguma dignidade a uma qualidade de vida para
qual eu trabalhei num outro Estado, e que Portugal nunca contribuiu. Como tal,
seria mais justo encontrar uma taxa que fosse ao encontro do que se paga no
país de acolhimento. Eu investi algo em Portugal, mas muitos portugueses
investiram todo o seu suor na sua terra. E agora? Proporcionaram riqueza,
proporcionaram bem-estar pelos seus investimentos, muitos até substituíram o
Estado português ao ajudarem os seus familiares, e agora? Se recebes 3 mil,
tens de deixar mil aos cofres do Estado. Com este decreto-lei em vigor não
vamos a lado nenhum.
- Nunca a comunidade atingiu os números
atuais, somos perto de 280 mil na Suíça. Como vês esta evolução?
Manuel Beja – Apesar da livre circulação de
pessoas, a verdade é que sinto a comunidade muito mais insegura do que antes.
No estatuto sazonal, sabíamos que era um estatuto discriminatório, tinhas as
suas regras, mas sabíamos com o que poderíamos contar, neste momento estamos a
viver uma insegurança, porque muitas das pessoas vivem na precariedade dos
trabalhos a prazo e na dificuldade em encontrar o alojamento, que muitos por
vezes não podem pagar, porque não têm um posto de trabalho estável. Depois, os
ditos trabalhos à hora, em que os patrões se servem da disponibilidade destas
pessoas, que ficam reféns de as chamaram ou não. Estou a falar do setor das
limpezas, como exemplo. Existem outros. Como tal, existe uma precariedade e sei
que muitas pessoas vivem com extrema dificuldade, até porque o preço dos
alojamentos, o aluguer das casas, estão por preços exorbitantes, depois ainda
se tem de somar o seguro médico. Sei que muitos portugueses não estão a ter uma
vida fácil na Suíça. Tudo isto é um problema acrescido para uma plena
integração das famílias portuguesas na Suíça. Também é verdade que a comunidade
não se mobiliza como há uns anos. Por muito que se possa apontar o dedo aos
Sindicatos, falo de todos os Sindicatos, as pessoas devem acreditar no trabalho
destes, porque se muito foi conseguido nos últimos anos, estou a falar, por
exemplo, no setor da hotelaria, da construção, este último com a reforma
antecipada, aos 60 anos, uma grande vitória sindical, o setor das limpezas que
tem agora um contrato coletivo, fraco, mas existe uma base de trabalho, tudo
isso foi conseguido com o movimento Sindical. Se as pessoas que chegam agora à
Suíça encontram algumas regras e benefícios, mas claro está que muito ainda se
pode fazer, foi graças aos Sindicatos, e muitas delas agora afastam-se, o que é
uma pena e uma injustiça pelo trabalho realizado. Claro que sei que há falhas,
mas temos de ver o que de bom foi conseguido graças ao trabalho Sindical. E uma
base de apoio e de mobilização passa pelos Sindicatos.
- E o movimento Associativo?
Manuel Beja – Está moribundo e em fase de
desaparecer. Esta é a realidade. Muito poucas coletividades respeitam os
valores associativos. Futuro? Não creio que exista um futuro para o movimento
associativo. O que vai existir são grupos de interesses privados.
Artigo:
Adelino Sá - Gazeta Lusófona
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de Arquivo
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