Número total de visualizações de páginas

Traductor de Português para outras línguas

sexta-feira, 5 de outubro de 2018

Faleceu Manuel Beja - Ex. Conselheiro das Comunidades portuguesas na Suíça, Presidente da Comissão dos Fluxos Migratórios do Conselho Comunidades Portuguesas (CCP).



Condolências à família e amigos


Faleceu Manuel Beja.

“Sei que muitos portugueses não estão a ter uma vida fácil na Suíça” “Não creio que exista um futuro para o movimento associativo. O que vai existir são grupos de interesses privados”.





Nota de pesar:
O Ex. mo Sr. Manuel Afonso Lourenço Beja, natural de Alcobaça, Leiria, foi durante muitos anos o Conselheiro das Comunidades portuguesas na Suíça, Presidente da Comissão dos Fluxos Migratórios do Conselho Comunidades Portuguesas (CCP).

É com grande tristeza que publicamos a notícia do seu falecimento, ele que partiu deixando-nos muitas lições de vida, amizade, associativismo, profissionalismo, ética e humanidade.
As palavras que vamos transcrever aqui, são praticamente as últimas que o nosso admirável amigo citou junto dos políticos e da sociedade, que sempre o admirou, principalmente os nossos emigrantes na Suíça.

“Quero desejar as boas vindas aos membros do governo aqui em Zürich, desejar-lhes boa sorte neste tipo de reuniões, e dizer que é a primeira vez em cinco décadas como emigrante neste país, que vejo uma mesa tão bem representada, com membros do governo, a tentar falar com os portugueses aqui na cidade de Zürich, e também por toda a Suíça nas zonas onde passaram. Portanto, é uma iniciativa que louvo, que espero que seja realmente produtiva, e que as mensagens que nós deixamos aqui, possam ser ditas lá em Portugal. Quero dizer que é importante que a central de telefones da segurança social funcione melhor, porque muitos dos problemas que os portugueses têm aqui com Portugal e com a Segurança Social, estão ligados aos problemas telefónicos da mesma. Por isso, era bom que a central fosse renovada, e colocassem realmente um sistema mais eficiente nas respostas.

Senhor secretário de estado das comunidades, os portugueses na Suíça são bons pagadores de impostos, pagamos impostos por obrigação, é o nosso dever, mas há uma questão muito delicada, depois de décadas de trabalho na Suíça, pretendemos regressar a Portugal, e vamos com as nossas reformas, e ao chegar a Portugal, essas nossas reformas que nós pensamos que será uma reforma digna para que possamos usufruir dela, mas existem valores que nos impedem de regressar a Portugal, porque pertencemos ao sexto/sétimo escalão do IRS, e se eu regressar a Portugal terei que pagar 45% da minha reforma como impostos, ou seja quase metade, e realmente passei quase toda a minha vida na emigração, a trabalhar e a pagar para ter a tal reforma digna, e agora quando regressar a Portugal vão tirar-me praticamente metade, não me parece interessante.
É claro que há formas de dar a volta a esta situação, nós sabemos que elas vão ser praticadas, que estão a ser feitas, mas nós queremos cumprir com a legalidade, queremos ir para Portugal, pagar os nossos impostos como devem ser pagos, mas esta taxa de 45%, como é o meu caso e outros que estão aqui nesta sala, é demasiado elevado.

Quando fui conselheiro das comunidades portuguesas, apresentei este caso lá em Lisboa, houve uma reunião entre a Direcção geral dos assuntos fiscais e a Direcção geral dos assuntos consulares, na qual eu estive presente, há cerca de 3 anos, para discutir esse problema. A situação foi apresentada e ainda continuamos à espera de uma resposta. Portanto, não sei se seria possível, pois consta, não tenho certeza, que os quadros das multinacionais em Portugal, pagam apenas um valor de 20% sobre os seus salários.”

Durante muitos anos, Manuel Beja viveu os seus problemas e os problemas da comunidade portuguesa na Suíça, tal como podemos constatar no texto transcrito anteriormente.
A Revista Repórter X e toda a equipa que a compõe, deseja as maiores condolências a toda a família e amigos.


Director: Quelhas
Conselheiro: Pedro Nogueira
Revisão editorial, Sociólogo político:
Dr. José Macedo de Barros
Redactor: Patrícia Antunes
Ajuda Técnica, Sofia Oliveira
Correspondente: Maria Kosemund











Manuel Beja esteve presente no lançamento dos meus livros `Quelhas´: “O Livro da Criança e Terra das Marias da Fonte”. Esteve ainda nos Serões Culturais. Tivemos alguns encontros no qual reunimos para falar sobre a Comunidade. Participou algumas vezes na Revista Repórter X.
(Já conhecia o Manuel Beja, mesmo antes de emigrar para a Suíça).
Em agradecimento fiz-lhe um Blogue, que agora vou tentar remodelar em honra de Manuel Beja, homem, que fica para a história da Comunidade Portuguesa na Suíça.

“Divulgar a língua e cultura portuguesa fora de Portugal é sempre de louvar.
É bom que os nossos escritores se aproximem mais das comunidades.
Esse elo de ligação deseja-se se queremos colocar a nossa língua no plano que ela merece estar no mundo.
Obrigado João Carlos Veloso por esta passagem em Zurique.

Manuel Beja – Conselheiro das
Comunidades portuguesas na Suíça
Zurique O8-12-2007”










Ex. Conselheiro das Comunidades portuguesas na Suíça

MANUEL BEJA vive (u) os problemas da comunidade

“Sei que muitos portugueses não estão a ter uma vida fácil na Suíça” “Não creio que exista um futuro para o movimento associativo. O que vai existir são grupos de interesses privados”.
Mesmo afastado do mundo sindical, porque o Manuel Beja está reformado, acompanha bem de perto os problemas da comunidade. O Manuel Beja foi o primeiro sindicalista português e durante muitos anos foi uma voz ativa no seio da comunidade portuguesa. Critico, um acérrimo defensor dos seus ideais e dos valores que acredita que servem para que a sociedade seja melhor e mais solidária. Mesmo afastado do Sindicato e do Conselho das Comunidades, continua atento a tudo que diga respeito à comunidade portuguesa que vive na Suíça.

- Estás afastado das lides sindicais, dado que estás reformado, mas acompanhas ainda os problemas da comunidade portuguesa?
Manuel Beja – Eu vivo os problemas da comunidade portuguesa. Claro que acompanho à distância, mas com uma enorme preocupação. O passado é passado, vivi uma situação que me deixou muito satisfeito aquando do processo da integração da comunidade na Suíça, quando terminou o estatuto sazonal, mas nos dias de hoje as coisas mudaram, infelizmente. Sinto que existe uma maior precaridade nos dias de hoje, e muito pouca disponibilidade de as pessoas colaborarem com o mundo associativo.

- O que é que mais te preocupa?
Manuel Beja – Bem, estou numa situação em que já entrei na terceira fase da vida. Esta terceira fase da vida dá muito para pensar. Um dos assuntos que realmente preocupa é a situação dos pensionistas portugueses. Muitos gostariam de ir para Portugal gozar a sua reforma, muitas sem serem valores elevados, mas muitos não o fazem, porque Portugal é pouco sensível e fecha as portas a todas estas pessoas, que investiram uma vida no país, e que estão sujeitos a uma carga fiscal desproporcionada a quem nunca fez nada, mesmo nada, pelos seus filhos emigrantes. Portugal, para com os emigrantes, procedeu sempre com uma política de hipocrisia e de cinismo. Concedem muitos benefícios aos estrangeiros que desejam radicar-se em Portugal, mas ainda não encontraram uma solução para os emigrantes reformados que desejam radicar-se em Portugal.

 - Pensas que existe má vontade política?
Manuel Beja – Penso que há medo. Medo das pessoas, medo de assumir uma posição e medo do poder do capital. Porque na realidade o problema, como é o meu, dado que estou reformado e tenho a residência na Suíça, penso que se poderia conseguir uma solução equilibrada e justa, porque Portugal nunca contribuiu em nada para a minha situação e não é o país que me paga a minha reforma. Porque as cargas fiscais que Portugal aplica a todos os cidadãos portugueses, como é evidente, como a nós que um dia desejamos regressar em definitivo, são taxas exageradas e desproporcionais a quem nunca contribuiu e nada fez pelo nosso bem-estar. Seria aceitável Portugal encontrar uma taxa que fosse ao encontro do que as pessoas pagariam nos países de acolhimento.

- Mas existe um decreto-lei que isenta os portugueses por um período de 10 anos?
Manuel Beja – Conheço essa lei, sei que existe, mas, no entanto, essa lei não é clara e não é totalmente abrangente e precisa. E não é clara que se fique totalmente isento de impostos. Tem de haver uma política clara e um decreto que vá direcionado apenas para os portugueses que viveram e recebam reformas de um outro estado-membro, o que não é o caso. No meu caso, com a minha reforma, eu pagaria uma taxa fiscal de 45% em Portugal. Na Suíça pago 11%. Na minha situação existem milhares de portugueses, não só os que trabalharam na Suíça, como aqueles da França, Alemanha, Luxemburgo e todos os demais.

- Não será que se vive uma certa hipocrisia quando se evoca a política da saudade, do investimento e, quando é para esclarecer e clarificar uma situação, ninguém faz nada?
Manuel Beja – Sabes, o problema é que o Estado não tem interesse em nos ouvir. Este problema já foi levantado há muitos anos, e até à data ninguém nos quis ouvir. Nem querem. Sabes, eles evocam que todos os portugueses têm de estar em pé de igualdade. Acho muito bem. Mas a verdade é que estou fora de Portugal há mais de 40 anos e, se passar a minha morada fiscal para lá, mais de um 1/3 da minha reforma vai para os cofres de Portugal, tirando-me capacidade e alguma dignidade a uma qualidade de vida para qual eu trabalhei num outro Estado, e que Portugal nunca contribuiu. Como tal, seria mais justo encontrar uma taxa que fosse ao encontro do que se paga no país de acolhimento. Eu investi algo em Portugal, mas muitos portugueses investiram todo o seu suor na sua terra. E agora? Proporcionaram riqueza, proporcionaram bem-estar pelos seus investimentos, muitos até substituíram o Estado português ao ajudarem os seus familiares, e agora? Se recebes 3 mil, tens de deixar mil aos cofres do Estado. Com este decreto-lei em vigor não vamos a lado nenhum.
  
- Nunca a comunidade atingiu os números atuais, somos perto de 280 mil na Suíça. Como vês esta evolução?
Manuel Beja – Apesar da livre circulação de pessoas, a verdade é que sinto a comunidade muito mais insegura do que antes. No estatuto sazonal, sabíamos que era um estatuto discriminatório, tinhas as suas regras, mas sabíamos com o que poderíamos contar, neste momento estamos a viver uma insegurança, porque muitas das pessoas vivem na precariedade dos trabalhos a prazo e na dificuldade em encontrar o alojamento, que muitos por vezes não podem pagar, porque não têm um posto de trabalho estável. Depois, os ditos trabalhos à hora, em que os patrões se servem da disponibilidade destas pessoas, que ficam reféns de as chamaram ou não. Estou a falar do setor das limpezas, como exemplo. Existem outros. Como tal, existe uma precariedade e sei que muitas pessoas vivem com extrema dificuldade, até porque o preço dos alojamentos, o aluguer das casas, estão por preços exorbitantes, depois ainda se tem de somar o seguro médico. Sei que muitos portugueses não estão a ter uma vida fácil na Suíça. Tudo isto é um problema acrescido para uma plena integração das famílias portuguesas na Suíça. Também é verdade que a comunidade não se mobiliza como há uns anos. Por muito que se possa apontar o dedo aos Sindicatos, falo de todos os Sindicatos, as pessoas devem acreditar no trabalho destes, porque se muito foi conseguido nos últimos anos, estou a falar, por exemplo, no setor da hotelaria, da construção, este último com a reforma antecipada, aos 60 anos, uma grande vitória sindical, o setor das limpezas que tem agora um contrato coletivo, fraco, mas existe uma base de trabalho, tudo isso foi conseguido com o movimento Sindical. Se as pessoas que chegam agora à Suíça encontram algumas regras e benefícios, mas claro está que muito ainda se pode fazer, foi graças aos Sindicatos, e muitas delas agora afastam-se, o que é uma pena e uma injustiça pelo trabalho realizado. Claro que sei que há falhas, mas temos de ver o que de bom foi conseguido graças ao trabalho Sindical. E uma base de apoio e de mobilização passa pelos Sindicatos.

- E o movimento Associativo?
Manuel Beja – Está moribundo e em fase de desaparecer. Esta é a realidade. Muito poucas coletividades respeitam os valores associativos. Futuro? Não creio que exista um futuro para o movimento associativo. O que vai existir são grupos de interesses privados.

Artigo: Adelino Sá - Gazeta Lusófona

 Fotos de Arquivo

Sem comentários: