Especial
Daniel Bastos II
Joe Silvey, um pioneiro da sociedade
multicultural no Canadá
Continuação Pág. 07
No passado domingo, comemorou-se o dia nacional do Canadá, um feriado
simbólico que desde 1 de julho de 1867 assinala a independência deste
território do Reino Unido, através da união de três colónias britânicas, a
Província do Canadá, atual Ontário e Quebeque, e a Nova Brunswick e a Nova
Escócia.
Estabelecida em grande parte da América do Norte, a sociedade canadiana
destaca-se pela sua génese multiculturalista, intrinsecamente associada ao
facto de possuir um dos maiores índices de desenvolvimento humano. Na base da
mescla de grupos, idiomas e culturas étnicas que coexistem no Canadá,
encontra-se o pioneirismo luso, que muito antes do fluxo migratório das décadas
de 1950-60, teve no cabouqueiro Joe Silvey um percursor da presença portuguesa
no território.
Natural dos Açores, Joe Silvey ou José Silva, terá deixado a ilha do Pico
em 1846, ainda a entrar na adolescência, embarcando num barco baleeiro
americano. Esfumada a quimera do ouro que levou à época infindos aventureiros à
Califórnia, instalou-se na Columbia Britânica por volta de 1860, onde veio a
unir-se a Khaltinaht, neta do chefe índio Kiapilano, e de cuja relação nasceu a
filha, Elizabeth, a primeira criança de sangue europeu nascida em Vancouver.
Joe acabaria por se tornar, em 1867, o primeiro europeu a receber a
nacionalidade canadiana, tendo por essa altura aberto em Gastown um saloon
chamado The Hole in the Wall (O Buraco na Parede).
Após a morte da sua primeira mulher, o açoriano natural do Pico vendeu o saloon
e instalou-se em Stanley Park, onde se dedicou à pesca, tendo sido o primeiro a
conseguir uma licença oficial para pescar com a técnica da rede de cerco.
Até à sua morte em 1802, Joe casou-se ainda com a índia salish conhecida
como Lucy, de quem teve dez filhos, fixando-se em Read Island, onde comprou um
vasto terreno e partilhou parte da sua prosperidade derivada da atividade
piscatória com a comunidade local.
O pioneirismo de Joe Silvey na construção da sociedade multicultural no
Canadá levou a que em 25 de abril de 2015 a Câmara de Vancouver, onde vivem
e trabalham milhares de emigrantes portugueses, inaugura-se em Stanley Park um
monumento em sua homenagem. Este pioneirismo foi agora também alvo de
tributo em Portugal, através da inauguração, no final do mês de junho, de uma
estátua em Belém, executada pelo escultor Luke Marston, trineto de Joe, e um
profundo conhecedor das suas raízes lusas.
O projeto solidário da
rede médica portuguesa na Venezuela
A Comunidade Portuguesa na Venezuela, segunda maior comunidade lusa na
América Latina, a seguir ao Brasil, constituída por meio milhão de portugueses
e lusodescendentes, vive por estes tempos marcada pela angústia do
presente e a incerteza do futuro.
Esta intranquilidade é resultante da grave crise económica e social em que
mergulhou a pátria de Simón Bolívar, que ainda no início deste século
era o país mais rico da América do Sul, e onde na atualidade a população sofre
uma séria escassez de alimentos e medicamentos. O panorama socio-económico
sombrio regista a falta de comida, o aumento nos índices de mortalidade
infantil e materna, a privação de remédios essenciais, como antibióticos e
analgésicos, a carência de luvas, gazes, seringas ou produtos de limpeza.
A Comunidade Portuguesa na Venezuela não está imune à crise, sendo
conhecidas várias situações de compatriotas que já não conseguem satisfazer as
necessidades mais básicas. Situação que tem contribuído para o regresso de
milhares de luso-venezuelanos a Portugal, sobretudo à Madeira, onde nos últimos
anos, segundo o Governo Regional, já regressaram mais de quatro mil emigrantes
da Venezuela.
Mas é também nestes tempos sombrios de crise que se têm gerado genuínos
exemplos de resiliência e solidariedade no seio da Comunidade Portuguesa na
Venezuela. Como é o caso da Associação de Médicos Luso-venezuelanos
(Assomeluve), que durante o mês de julho delineou uma rede médica portuguesa
centrada em atender as necessidades prioritárias de saúde dos compatriotas.
Este projeto solidário, que conta com o apoio do Governo português, da
Embaixada de Portugal na Venezuela e dos consulados locais, tem, segundo a
gastrenterologista Clara Maria Dias de Oliveira, porta-voz da Assomeluve, como
principal missão “estabelecer as necessidades prioritárias dos portugueses na
Venezuela e prestar atenção médica geral e especializada"; irá começar em
cinco regiões da Venezuela, no Distrito Capital (Caracas, Miranda e Vargas) e
nos estados de Lara, Bolívar, Carabobo e Anzoátegui.
O exemplo de solidariedade praticado pela Associação de Médicos
Luso-venezuelanos em prol da Comunidade Portuguesa é digno de louvor e de
reconhecimento público e um sinal de esperança no futuro da Comunidade
Portuguesa na Venezuela.
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Artigo: Daniel Bastos
Revisão editorial: Sociólogo político
Dr. José Macedo de Barros
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