Autoritá Regionale di Protezione retira filhos no Ticino
Paula Cristina Silva Leal, mãe de dois filhos, residente em Zürich, procurou a Revista Repórter X, para de alguma forma tentar denunciar a sua situação e quiçá, conseguir fazer-se ouvir pelas autoridades competentes.
Segundo
Paula, tudo começou em 2013, quando o seu filho mais velho, Gabriel, nasceu.
Conforme as declarações prestadas por Paula, o pai da criança tinha ciúmes do
próprio filho, e inclusive quando Paula extraia o leite materno, para amamentar
o seu filho mais tarde, o ex-companheiro ia ao frigorífico, aquecia esse leite
e bebia-o. Foi agredida fisicamente inúmeras vezes e sofreu de violência
psicológica, havendo ainda a tentativa de impedir que a progenitora cuidasse do
filho com as devidas condições. Gabriel também era maltratado, tendo sido a
primeira vez quando tinha apenas 15 dias de vida. O ex-companheiro é acusado
pela mãe de Gabriel de provocar propositadamente um acidente na auto-estrada,
estando dentro do carro o seu filho e duas outras crianças. A protecção de
menores foi informada de todos estes actos, e nada foi valorizado.
Volvidos
três anos, em 2016, a relação acabou e Paula ficou com a guarda do filho. A
vida de Paula revelava-se cada vez mais difícil. Manteve a residência no cantão
dos Grisões e, mais tarde, mudou-se para o Ticino, mas o “inferno” continuou.
Paula acusa
o pai de Gabriel de andar com ele quase nu, em fralda na rua; chegou também
várias vezes a casa com queimaduras aparentemente do tamanho de um cigarro, com
fome e visivelmente perturbado. Mais tarde, encontrou o filho doente, com
febres elevadas e sem cuidados médicos. Tem fotografias como provas e chegou a
ir ao pediatra, que considerou as marcas de queimaduras inconclusivas. Perante
todas estas acusações, o pai remete-se ao silêncio e nem confirma, nem
desmente. Aparentemente, o pai não tem qualquer problema, mas Paula acredita
que sofre de perturbações e chegou a assistir à toma de Xanax, que o progenitor
comprava em Portugal. Pensa que o seu único vício é o cigarro, mas acusa o pai
de incutir à criança que a ingestão de bebidas alcoólicas, nomeadamente a
cerveja, é algo normal.
Em 2016, a
ARP Autoritá Regionale di Protezione estabeleceu um contrato com o valor da
pensão de alimentos, bem como os dias que o Gabriel estaria com o pai. Foi
acusada de usar o filho para manipular as autoridades inerentes à ARP. Em
Agosto de 2017, mudou-se para o Ticino e pediu ajuda às autoridades dessa zona.
As coisas complicaram-se ainda mais e Paula foi internada durante dois meses
numa clinica psiquiátrica, sem visitas nem acesso ao exterior; apenas podia
utilizar o telefone meia hora por dia. Paula afirma que sempre se sentiu bem
mentalmente e apenas mostrava alguns sinais de cansaço, devido a toda a
situação que vivia desde que o seu filho nasceu. Nessa altura, a criança foi
entregue a uma família SOS e foi essa família que se apercebeu, tal como a mãe,
que Gabriel tinha comportamentos agressivos e muito diferentes dos outros
meninos da sua idade. Foi diagnosticado autismo (doença neurológica). Gabriel
foi consultado por um pedopsiquiatra, e foi este que detectou esta doença. Em
Setembro de 2018, a criança foi devolvida à mãe, pois foi atestado pela
clínica, onde esta esteve internada, que não tinha qualquer problema psicológico.
Paula foi proibida de trabalhar, para que pudesse integrar novamente e de forma
gradual o filho em sua casa, bem como acompanhá-lo a todas as consultas e
tratamentos exigidos pelas autoridades. Gabriel não se relacionava com as
outras crianças; era agressivo, isolava-se, não comunicava e não era afectuoso.
A ARP de
Locarno contratou a ajuda de uma entidade chamada SAE, que prestava apoio ao
domicílio, de forma a ajudar a estimular as capacidades cognitivas da criança,
muitas vezes com a presença de outra criança. Durante essas sessões, tentavam
também falar sobre os sentimentos e sobre os estados de espírito, tendo Gabriel
referido à educadora que era vítima de violência, por parte do pai.
Em Outubro
de 2019, mudou-se do Ticino para Zürich, pois naquele cantão deparava-se com
uma grande dificuldade em conseguir arranjar trabalho. Em Zürich conseguia ter
uma maior estabilidade económica, bem como uma casa e um trabalho estável.
Automaticamente,
foi-lhe retirado o seu filho de forma forçada pelas autoridades do Ticino
(Policia e assistente social), acusada de rapto do próprio filho, fazendo
acusações que a lesada considera sem cabimento. A criança foi entregue ao
progenitor, mesmo depois de já terem sido assinalados vários episódios de
agressão, que a protecção de menores de Locarno ignorou. O facto de Paula ser
solteira não foi o que causou a retirada do filho, mas sim o facto de acharem
que Paula é perigosa para a criança, bem como para o seu desenvolvimento físico
e emocional.
Os
terapeutas e a ARP do Ticino alegaram que levar o Gabriel para outro cantão e
todas as mudanças inerentes a isso, bem como conviver com a irmã e até com o
cão, iria provocar uma regressão no seu desenvolvimento, mas Paula alega que o
pai também trocou de casa e dessa forma o Gabriel também foi obrigado a trocar
de professoras, de escola, de terapeutas, de amigos, etc.
Paula vive
com a sua filha mais nova e tem o apoio social estatal, nas situações
burocráticas e de documentação, bem como monetariamente. De momento, está de
licença de maternidade da sua filha mais nova, e refere que a relação com o pai
da sua filha não sobreviveu, devido a todos os problemas com que se depara
relativamente à ARP e à guarda do seu filho mais velho.
A mãe não
tem qualquer contacto físico com o seu filho desde Maio, quando este esteve uma
semana de férias com ela. Para falar com o filho, muitas vezes telefona ao
ex-companheiro, que por sua vez lhe diz que para falar com ele terá que
telefonar para o próprio telefone do filho, sendo que Paula não concorda que
uma criança de 7anos tenha acesso livre às tecnologias de hoje em dia.
Paula vê-se
ainda obrigada a ouvir, sem nada poder fazer, as queixas que o filho lhe faz da
companheira do pai, que o amedronta bem como do filho mais velho da mesma, que
o prende no quarto e é verbalmente agressivo. A psicóloga que a ARP de Locarno
arranjou, em Zürich, para acompanhar o Gabriel, escreveu uma carta à mesma
entidade do Ticino e nunca obteve qualquer resposta por parte dessas
autoridades. Paula acredita que, nestas situações, tem que haver interesses
monetários por parte das autoridades, pois não vê razões para lhe retirarem o
filho, uma vez que tem outra filha e nunca consideraram que Paula era perigosa
para com ela.
Desta forma, damos por terminada esta entrevista,
e Paula agradece as portas que a Repórter X lhe abriu e a forma como a tentou
ajudar a chegar às autoridades competentes e capazes de a ajudar a ter os seus
direitos como mãe.
Nota Breve; As declarações citadas são exclusivamente da responsabilidade da
entrevistada, sendo que esta autorizou a publicação das mesmas nos meios de
comunicação social. A Revista Repórter X é isenta de opinião; apenas tem como
objectivo ajudar na resolução deste tipo de questões, fazendo os possíveis para
que estas entrevistas cheguem até às autoridades competentes e, dessa forma,
tentar melhorar a qualidade de vida da criança em questão.
Foto/entrevista: Quelhas
Entrevistada: Paula Leal
Artigo: patrícia Antunes
Revisão: Sociólogo, Macedo de Barros
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