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segunda-feira, 19 de maio de 2025

Entre o frio e a indiferença: conversa com um pensionista em situação de rua em Bülach

Entre o frio e a indiferença: conversa com um pensionista em situação de rua em Bülach


Mais uma vez, a Revista Repórter X Editora Schweiz esteve presente nos caminhos de ferro de Bülach, onde continua a acompanhar o caso de um homem em situação de rua. A história repete-se, mas cada conversa revela novos detalhes e expõe, com mais clareza, as falhas do sistema social suíço.

O homem em causa, de origem argentina e com nacionalidade suíça, encontra-se perdido entre o desejo de mudar de vida e a resignação face ao destino. Num diálogo sociopsicológico, foi possível perceber que sofreu um grave acidente ao cair de um terceiro andar. Desde então, vive de uma pensão de invalidez que não lhe permite cobrir os custos básicos de vida: habitação, seguro de saúde, alimentação e vestuário. A realidade que enfrenta é comum a muitos na Suíça: uma pensão que não chega para sobreviver com dignidade num país onde um quarto pode custar mil francos e um apartamento ultrapassa facilmente os dois mil.

A situação agrava-se pelo consumo excessivo de álcool – cerveja e vodka – que lhe tira apetite, saúde e força para reagir. Confessou ainda sofrer de hiperlepsia, uma condição que se agrava com o álcool. Apesar disso, mostrou interesse em procurar ajuda social. Disse que iria mais tarde à assistência social, mas o passado mostra que já lhe foi oferecida ajuda – que acabou por recusar. Quando a assistência social foi chamada, ele rejeitou o apoio, levando os serviços a abandonarem o caso.

A crítica mantém-se: os serviços sociais devem adaptar-se a casos como este. A abordagem fria e institucional não resulta. É necessário um contacto humano, empático, próximo, como aquele que a Revista Repórter X tem procurado estabelecer. A linguagem deve ser acessível, a escuta activa, e só depois se pode introduzir a proposta de ajuda oficial. A confiança tem de ser conquistada.

O homem mostrou sinais de querer reencontrar algum sentido de vida. Disse que gostava da ideia de voltar a ter companhia feminina, de cortar o cabelo, de vestir-se com dignidade. Foi-lhe sugerido que, ao cuidar da sua imagem, poderia atrair o interesse de mulheres do seu país natal ou até suíças, portuguesas ou italianas. Respondeu com um sorriso, sinal de que ainda vive nele um desejo de pertença e de estima.

Acrescentou ainda que tinha família, incluindo dois sobrinhos, mas confessou não manter contacto. Quando confrontado com a questão da culpa, respondeu que era repartida, embora assumisse maior responsabilidade pela sua parte. Admitiu ter escolhido este modo de vida – viver na rua, sujo, debilitado, com problemas de saúde – em vez de procurar ajuda junto da família ou dos serviços sociais. Ao mesmo tempo, sublinhou que não se sente verdadeiramente abordado ou compreendido.

É necessário que quem o procura ajudar – como os serviços sociais – o faça com sensibilidade, aproximando-se como um cidadão comum, com respeito, sem ferir a dignidade de quem, como ele, já está fragilizado. Apesar de dizer que irá procurar apoio, não há certezas. O acompanhamento contínuo será essencial.

Este é, na verdade, um trabalho que competiria à Segurança Social, e não a um repórter. No entanto, a Revista Repórter X Editora Schweiz não vira costas a estas histórias. A simples conversa foi, segundo o próprio, um consolo. Sentiu-se ouvido, respeitado e valorizado. E isso, por si só, já é um passo.

Rejeitado pela sociedade por viver na rua, mergulhado num conjunto de dificuldades, este homem continua a ser um retrato vivo de como o sistema falha. Falha quando entrega aos acasos da rua aqueles a quem não garante um mínimo de dignidade.


Revista Repórter X Editora Schweiz Oficial

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