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domingo, 5 de julho de 2020

Um país mais completo; abdicar de vir a Portugal nas férias














Maria Kosemund
Colaboradora Revista Repórter X


Um país mais completo



As vindas a Portugal constituem um dos rituais mais importantes das comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo. São um momento de reencontro com a família, com os amigos e com as raízes.

Sei que foi particularmente difícil aos nossos emigrantes abdicar de vir a Portugal nas férias da Páscoa. Também foi difícil para nós pedir esse sacrifício a quem já tanto sacrifica todos os dias. Disse-vos, na mensagem que tive a oportunidade de vos dirigir na altura, que não vir era um gesto de amor para proteger aqueles de quem mais gostamos. E foi. Como foi também um gesto de responsabilidade e uma vez mais um exemplo de abnegação que os nossos emigrantes deram e que todos reconhecemos e agradecemos.

Este esforço coletivo foi necessário e valeu a pena. Apesar de não termos ainda vencido definitivamente os desafios que esta pandemia nos coloca, há uma certeza que vos posso deixar: queremos que os nossos emigrantes venham a Portugal nestas férias de verão.


Serão umas férias diferentes, como tudo ficou diferente nos últimos meses. Não podemos ainda esquecer que temos uma responsabilidade para com os mais vulneráveis. Por essa razão, é fundamental que todos – dos mais novos aos mais velhos – respeitemos todas as medidas e recomendações das autoridades de saúde nestes reencontros.

Mas estas férias serão, por outro lado, um pequeno (grande) regresso à normalidade que verá milhares de portugueses de volta a sua casa. E desengane-se quem ache que este é um momento relevante apenas para os nossos emigrantes. Esta tradição, particularmente sentida nos meses de verão, é parte do pulsar e da identidade do nosso país.

E não me refiro sequer à importância económica destes fluxos, que é óbvia, mas que no momento atual está longe de ser a dimensão mais relevante. A tradição da vinda dos nossos emigrantes é parte do nosso património afetivo e cultural.

É no verão que muitos dos filhos dos nossos emigrantes têm o seu principal contacto com Portugal, com a nossa língua e com as nossas tradições. Os encontros com os avós, as brincadeiras com os primos ou os novos amigos. São memórias que guardarão para a vida, de um país que é também seu, mesmo que não tenham aqui nascido ou que aqui não possam morar.

É também muito graças aos nossos emigrantes que se realizam e sobrevivem muitas festas e romarias um pouco por todo o país. Este ano, infelizmente, muitas destas festas não se poderão realizar, mas estou certa de que o seu relançamento acontecerá em breve, em força e com um impulso decisivo dos nossos emigrantes.

Por último, permitam-me que saliente a dimensão afetiva desta tradição e que destaque a sua importância tanto para quem partiu como para quem ficou. Para os pais que aguardam o regresso dos filhos, para filhos que aguardam o regresso dos pais, para avós, netos, irmãos, amigos… Todos temos alguém que as circunstâncias ou a vontade levaram a emigrar e que ansiamos rever a cada verão.

E é por isso que a cada verão não temos apenas o regresso dos nossos emigrantes, mas temos acima de tudo um reencontro do país consigo próprio. Do país que ficou, com o país que partiu. E com este reencontro, cada casa, cada família, cada aldeia e Portugal voltam a ficar um bocadinho mais completos.

Berta Nunes
Secretária de Estado das Comunidades Portuguesas







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