Maria Kosemund
Colaboradora Revista Repórter X
Um país mais completo
As
vindas a Portugal constituem um dos rituais mais importantes das comunidades
portuguesas espalhadas pelo mundo. São um momento de reencontro com a família,
com os amigos e com as raízes.
Sei
que foi particularmente difícil aos nossos emigrantes abdicar de vir a Portugal
nas férias da Páscoa. Também foi difícil para nós pedir esse sacrifício a quem
já tanto sacrifica todos os dias. Disse-vos, na mensagem que tive a
oportunidade de vos dirigir na altura, que não vir era um gesto de amor para
proteger aqueles de quem mais gostamos. E foi. Como foi também um gesto de
responsabilidade e uma vez mais um exemplo de abnegação que os nossos
emigrantes deram e que todos reconhecemos e agradecemos.
Este
esforço coletivo foi necessário e valeu a pena. Apesar de não termos ainda
vencido definitivamente os desafios que esta pandemia nos coloca, há uma
certeza que vos posso deixar: queremos que os nossos emigrantes venham a
Portugal nestas férias de verão.
Serão umas férias diferentes, como tudo ficou diferente nos últimos meses. Não
podemos ainda esquecer que temos uma responsabilidade para com os mais
vulneráveis. Por essa razão, é fundamental que todos – dos mais novos aos mais
velhos – respeitemos todas as medidas e recomendações das autoridades de saúde
nestes reencontros.
Mas
estas férias serão, por outro lado, um pequeno (grande) regresso à normalidade
que verá milhares de portugueses de volta a sua casa. E desengane-se quem ache
que este é um momento relevante apenas para os nossos emigrantes. Esta
tradição, particularmente sentida nos meses de verão, é parte do pulsar e da
identidade do nosso país.
E
não me refiro sequer à importância económica destes fluxos, que é óbvia, mas
que no momento atual está longe de ser a dimensão mais relevante. A tradição da
vinda dos nossos emigrantes é parte do nosso património afetivo e cultural.
É no
verão que muitos dos filhos dos nossos emigrantes têm o seu principal contacto
com Portugal, com a nossa língua e com as nossas tradições. Os encontros com os
avós, as brincadeiras com os primos ou os novos amigos. São memórias que
guardarão para a vida, de um país que é também seu, mesmo que não tenham aqui
nascido ou que aqui não possam morar.
É
também muito graças aos nossos emigrantes que se realizam e sobrevivem muitas festas
e romarias um pouco por todo o país. Este ano, infelizmente, muitas destas
festas não se poderão realizar, mas estou certa de que o seu relançamento
acontecerá em breve, em força e com um impulso decisivo dos nossos emigrantes.
Por
último, permitam-me que saliente a dimensão afetiva desta tradição e que
destaque a sua importância tanto para quem partiu como para quem ficou. Para os
pais que aguardam o regresso dos filhos, para filhos que aguardam o regresso
dos pais, para avós, netos, irmãos, amigos… Todos temos alguém que as
circunstâncias ou a vontade levaram a emigrar e que ansiamos rever a cada verão.
E é
por isso que a cada verão não temos apenas o regresso dos nossos emigrantes,
mas temos acima de tudo um reencontro do país consigo próprio. Do país que
ficou, com o país que partiu. E com este reencontro, cada casa, cada família,
cada aldeia e Portugal voltam a ficar um bocadinho mais completos.
Berta
Nunes
Secretária
de Estado das Comunidades Portuguesas
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