Oficina
do Ouro, filigrana
Elsa Carneiro
Rodrigues é uma artesã da filigrana, esposa de Arlindo Monteiro, representando
a 4ª geração de família de ourives.
A Oficina do Ouro, situa-se
no lugar das Penas na freguesia de Sobradelo da Goma.
A oficina da Elsa, do
Arlindo e do seu sócio conta já com 11 pessoas a laborar. Mantém a origem
familiar. Que começou no avô Mandinho, também filho de ourives. Portanto, esta
tradição familiar já está a trabalhar na 5ª geração, com o filho dela, Fernando
Rodrigues. A primeira geração, supostamente, trabalhava também na prata e
cobre, essencialmente. O Avô da Elsa, sábio e de raízes populares, conhecido
por Mandinho, era da freguesia de Travassos e a avó, conhecida por Glorinha, era
da freguesia de Calvos, que acabou por ficar cega e que eu, tenho na memória
muito presente, na altura que eles viviam no Lugar do Chêlo.
Por norma, os homens
das gerações da família trabalharam sempre na ourivesaria. Na terceira geração,
todos começaram a trabalhar a Filigrana, como o “Coração do Minho em Ouro”,
símbolo promovido pela autarquia local; Abel Armando Silva, Manuel Armando
Silva (Neca, ex. presidente de junta) e Fernando Silva e o pai da Elsa,
Aurélio Silva, os mais conhecidos. Fernando Silva abriu loja em Braga e os
restantes mantêm ourivesarias em Sobradelo da Goma, na mão dos filhos. As
mulheres da família não seguiram a profissão e a Elsa é a primeira a dar
contributo, nesta 4ª geração, considerada a guerreira da família.
A Oficina do Ouro
começou com a união da Elsa e do marido Arlindo, em 1991. O Luís Monteiro fez
sociedade com a cunhada e com o irmão, em 2003, até aos dias de hoje.
Sem apoios públicos,
são convidados para exposições e feiras. Vendem para Viana do Castelo e
estrangeiro. Compram a matéria-prima num fornecedor de metais preciosos.
Transformam as barras puras em lingotes, e depois são puxados no cilindro, para
fiar. Moldam os objectos com entrevoltas de fio. Comercializam a filigrana,
embora também façam alianças e cordões, por exemplo.
Fazem parcerias com
outras oficinas de amigos e colegas sobradelenses. Dinamizam a actividade em
Sobradelo, criando maior força à marca. As habilidades passam por uma boa visão
e poder de concentração no minucioso.
Já estiveram em
televisão, para promover a empresa. Dá maior visibilidade à empresa e a esta
actividade, levando o nome da freguesia e do Concelho a todo o lado.
Os ourives de Póvoa
de Lanhoso, Sobradelo da Goma e Travassos, foram para a emigração, há mais de
15 anos, e ainda não há trabalho para o seu regresso!
Há quem diga que
havia demasiados trabalhadores para a procura. Eu mantenho a tese de que os
emigrantes não foram embora porque não havia trabalho, mas sim foram embora
para procurar uma vida melhor. O que a Elsa referiu é que agora, se todos
regressarem, não há trabalho para eles, porque entretanto pequenas empresas
caseiras fecharam, até algumas empresas dos que trabalhavam por conta própria e
em tantos anos formaram-se muitos ourives novos. Portanto, com a redução de
oficinas caseiras e novos aprendizes é que se todos regressassem não havia
emprego para todos.
Sobradelo da Goma,
Travassos e Gondomar são os que trabalham mais nisto, mas Elsa não sabe quem
produz mais. Talvez Viana do Castelo seja quem comercializa mais peças de ouro
em Portugal, provenientes destes e outros lugares. Trabalham com catálogos e
amostras, para evitar os assaltos. A entrega ao cliente é com o serviço de
empresas de segurança. Os clientes podem vir directamente buscar o produto, mas
não convém, por questões de segurança.
Os concorrentes
directos praticamente já não é preocupação, por se habituarem mais a cooperar;
há mais uma partilha de negócio e rede colaborativa, para responderem às
encomendas.
Usam forno Eléctrico
de 1100 graus celsius, para fundir o ouro puro e fazer a liga; 12,5% de prata e
12,5% de cobre, para fazer ouro de Lei de 19K. Vai à contrastaria do Porto, em
carros de segurança, por imposição governativa. O lingote obtido é puxado no
cilindro e esmagado em lâminas, que se transformam em rolos de fio. Fazem o
rendilhado com pinças e soldas.
Fazem peças para
adereços de ornamentação de vestuário nos grupos folclóricos, nomeadamente os
cordões de voltas, que são quase sempre fios de prata dourada, de banho ou
placa.
Como artesã, acredita
que a freguesia tem futuro e deseja que os filhos estejam ligados à freguesia,
pois encontra motivos de desenvolvimento, por exemplo no turismo fluvial, a
começar pela barragem das andorinhas, que lhe parece pouco dinamizada. A
freguesia está numa encruzilhada turística para o Gerês, Braga e cidades
importantes do distrito, tendo enorme potencial.
- Esta temática, da Oficina
do Ouro de Sobradelo da Goma, é incluída neste novo livro de Carlos Quelhas
sobre Sobradelo da Goma, relatando as memórias da freguesia e das suas gentes,
quer fixadas à terra ou na diáspora portuguesa.
Revista Repórter X
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