“Existe uma consciência cada vez mais clara de vários setores da
produção intelectual brasileira de que os últimos anos foram estranhos, e
é importante ter consciência dessas questões”, disse Safatle. “Há uma
dificuldade para criar uma dinâmica interna em que uma obra remeta a
outra, exerça influência. Comparando nosso cinema com o
latino-americano, existe uma defasagem. Temos grandes escritores, mas
não uma dinâmica de grupo. Essa é uma questão muito específica do
Brasil.”
Uma das razões para esse problema, de acordo com Safatle, está no
fato de que grandes decisões que afetam o meio cultural são tomadas por
diretores de marketing de grandes empresas. “Isso vai impondo certo
modelo de difusão, de veiculação, adequado aos interesses corporativos
de certas empresas, e é claro que isso tem um impacto. Há 5.000 saraus
em São Paulo do qual sequer sabemos porque, do ponto de vista
financeiro, não têm o menor interesse. É preciso escapar desse modelo
para que a cultura brasileira seja novamente ouvida como merece ser
ouvida.”
Safatle, assim como Hatoum, foi chamado para substituir o poeta
egípcio Al-Barghouti, que perdeu ou teve furtado seu passaporte em
Londres e, portanto, não pôde participar do evento. Enviou, porém, uma
carta para o público, lida por Ángel Gurría-Quintana no início do
encontro. Em seguida, coube a Mamede Jarouche a leitura de Em Jerusalém,
um dos poemas de Al-Barghouti, que viu sua obra ser cantada pelos
manifestantes que ocuparam a Praça Tahrir há pouco mais de um ano.
Mas afinal, o que torna revolucionária uma obra de literatura? Mamede Jarouche, tradutor de As Mil e Um Noites,
fez questão de diferenciar duas linhas. Na primeira, a literatura é um
instrumento da revolução. Nessa vertente, estão os poemas, até os de má
qualidade, que são feitos para animar soldados, por exemplo, entoados
como cânticos de guerra. Na segunda, observa-se um movimento interno na
literatura, que busca um novo modo de produção literária, revolucionária
em si mesma.
Um exemplo? O Alcorão, disse Mamede. “Ele pode ser visto como texto
revolucionário, na medida em que se propõe como uma releitura para repor
as coisas no lugar, e mediante o qual foi criado um dos maiores
impérios que a humanidade conheceu. Antes dele, não havia nada
semelhante na poesia árabe.”
Hoje, segundo Jarouche, há uma eclosão de autores que se
apresentam como revolucionários apenas porque escrevem sobre a
revolução. “Não acho que seja uma literatura revolucionária. Esses
querem instrumentalizar ou ser instrumentalizados pela revolução.”
Não há arte revolucionária sem forma revolucionária. A famosa
frase de Maiakóvski foi citada por Safatle, que discorreu sobre como a
forma que usamos para nos expressar está ligada à nossa forma de pensar.
“A literatura tem a capacidade de expor o descontentamento contra nossa
maneira de pensar em determinada época. Existe uma ordem social que
busca se afirmar e essa ordem vai produzir um abalo na própria
gramática. Há momentos históricos em que já não é possível falar na
mesma forma, pensar do mesmo jeito.”
Milton Hatoum foi enfático ao apontar que a literatura não tem um
caráter doutrinário, de convencimento ou explicativo. Voltando a
Graciliano Ramos, sobre quem falou na Conferência de abertura, lembrou
que o alagoano se indispôs com a cúpula do Partido Comunista por não
aderir à linha do realismo socialista e da arte proletária e por ter se
recusado a alterar Memórias do Cárcere. “Foi um franco-atirador
dentro da própria militância”, disse Hatoum. “Graciliano tem um poder
muito mais esclarecedor do ponto de vista da consciência social do que
um texto doutrinário ou panfletário. E é aí que a força dele está.”
Hatoum encerrou a mesa com um dos textos que integram Um Solitário à Espreita, recém-lançado. Escrito em junho de 2012, Estádios novos, miséria antiga
parece premonitório, ao dizer: “Caprichem na maquiagem urbana e
escondam (pela milésima vez) a miséria brasileira, bem mais antiga que o
futebol. E quando a multidão enfurecida cobrar a dignidade que lhe foi
roubada, digam com um cinismo vil que se trata de uma massa de
baderneiros e terroristas. Digam qualquer mentira, mas aí talvez seja
tarde. Ou tarde demais.”
Eu, “Quelhas”, fui o 1° emigrante na história de Portugal, pré-candidato às eleições presidenciais. As televisões, rádios e jornais são quem faz a outra metade da vitória de um candidato e é por esse motivo que ganham quase sempre os presidentes encostados aos partidos do poder, e esta mentalidade tem de mudar. Todo o candidato tem de ser tratado por igual, pois a minha confiança é captar a atenção de todos os emigrantes e residentes em Portugal e combater a abstenção, logo serei um vencedor.
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