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quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

Revista Repórter X Homenageia a cantora Linda de Suza, detentora da "Mala de Cartão" através do seu filho João Lança

A cantora Linda de Suza, intérprete de êxitos como "Um Português (Mala de Cartão)", morreu hoje, 28 Dez. 2022 aos 74 anos, devido a "insuficiência respiratória".




RETRATOS; João Lança,

Quero uma Oportunidade

 

João Lança filho de Linda de Suza explica a Revista Repórter, o estado de saúde da mãe, que aos 74 anos, se encontra numa casa de repouso nos arredores de Paris, o vício do tabaco, a vida caseira a reforma, as memórias e apenas uma única certeza. A de que a cantora não pretende voltar a Portugal.

- Nas últimas semanas muitas notícias, algumas contraditórias, têm sido veiculadas sobre o estado de saúde de Linda de Suza, que em setembro foi internada de urgência. Qual é a situação da sua mãe neste momento?

- A minha mãe encontra-se, atualmente, numa casa de repouso, nos arredores de Paris, depois de ter deixado o hospital no dia 27. Está em convalescença ainda não sabemos bem durante quanto tempo, mas eu acredito que deva ser por uns bons meses. O que interessa dizer é que está a recuperar e bem acompanhada.

- Mas que problema de saúde é que ela teve em concreto?

- Teve de dar entrada de urgência no hospital por causa de uns picos de febre alta repentinos. Teve tudo a ver com as sequelas que ficaram de quando, em 2020, apanhou covid-19 e uma infeção pulmonar. Tudo isso foi agravado pelo facto de a minha mãe continuar a fumar dois a três maços de cigarros por dia. Entretanto também tinha deixado de se alimentar e por isso até foi bom ela ter sido internada, porque agora já está a ganhar peso.

- O João não a consegue trazer para Portugal? Ela não fala nisso ou já não pensa mesmo em regressar?

- No final de setembro falei-lhe no assunto, até porque era mais fácil para mim vê-la todos os dias, mas ela definitivamente não quer. Diz que já são 50 anos de França e que é ali que tem a sua casa a sua vida e a sua carreira. É uma escolha dela e eu não posso julgar.

- Fala em carreia, mas como está neste momento a carreira da Linda de Suza em França?

- Há uns quatro anos que está completamente parada temos de ser honestos, mas ainda há muita gente que a segue e que pergunta por ela. O problema é que a minha mãe já perdeu muito da voz por causa do tabaco. E depois estão sempre a inventar polémicas e isso também não ajuda.

- Nem vê a possibilidade de voltar a gravar discos?

- Não. Isso vai ser muito complicado, sobretudo por causa da voz. Vontade e ideias não lhe faltam, mas vai ser mesmo muito difícil.

- Vieram notícias de França a dizer que a Linda de Suza estava gravemente doente, com distúrbios psicológicos graves e outras notícias até diziam que ela tinha morrido!

- Eu como sei toda a verdade essas coisas passaram-me completamente ao lado. Eu nem me dou ao trabalho de justificar ou responder. Como é que as pessoas inventam estas coisas?! Devem ter uma vida muito vazia. É pura maldade e crueldade.

- E a sua mãe não se deixa abater com essas notícias?

- Não, porque eu não deixo que elas lhe cheguem. Ainda por cima ela não tem internet, nem redes sociais e por isso nem lê essas coisas.

- Como é a vida de Linda de Suza e Paris atualmente?

- Ela vive sozinha, mas sempre rodeada de amigos, quatro em especial, que vão rodando entre eles para que ela esteja sempre acompanhada. Eu estou sempre em contacto com esses amigos e falo com ela também, de dois em dois dias! Fazemos muitas videochamadas e numa das últimas conversas ela até me disse: ”Não percas o fogo!”

- Há uns anos escreveu-se que a sua mãe vivia com dificuldades financeiras por causa de uma reforma de 400 euros. Isso é verdade?

- Não. A reforma da minha mãe é muito superior a isso. Não é nenhuma fortuna, mas está mais perto dos 1500 euros, fora os direitos de autor que ela recebe de três em três meses.

- Mas em 2015 ela dizia que tinha sido roubada por agentes e produtores durante muitos anos?

- Diga-me um nome de um artista que nunca tenha sido roubado. Diga-me um, que eu digo-lhe que é mentira.

- O João ainda se lembra de ter ido para Paris com a sua mãe, apesar de muito pequeno (4 anos)?

- Recordo-me do meu primeiro dia de escola, que chorei muito.

- Mas recorda-se de sair de Portugal?

 

 


Filho de Linda de Susa

Mala de Cartão

 

- É curioso, porque eu tenho algumas imagens iguais àquelas que se veem no filme, ela com a famosa mala de cartão e comigo ao colo.

- Quando é que se deu conta da verdadeira história da sua mãe?

- Acho que foi por volta dos meus 11/12 anos quando começamos a pensar um bocadinho mais sobre aquilo que está à nossa volta. Antes disso, nunca me apercebi das coisas, porque também nunca me faltou nada. Ela podia deixar faltar para ela, mas para mim nunca. E depois recordo-me que a nossa vida melhorou de um dia para o outro por essa altura.

- E como é que foi para si lidar com essa mudança repentina e com uma mãe que subitamente era uma estrela em Paris?

- Foi muito engraçado, porque para todo o lado para onde ia, eu era sempre a mascote. E adorava aquilo. Acompanhava sempre os músicos e os técnicos durante as férias, no verão, e a partir dos 14 anos os concertos todos. Claro que passar a adolescência em viagens, em bons hotéis e rodeado de adultos era espetacular e isso também me fez crescer muito.

- E quando é que começou a perceber que também a música podia ser o seu caminho?

- Foi justamente nessa altura. Quando se fazia o check sound, eu ia para os instrumentos e começava a tocar neles. Acho que se apurou ali o meu gosto pela música. Logo aos 14 anos, a minha mãe oferece-me um piano e esse piano ainda é o mesmo com o qual faço as minhas composições.

- Mas gostava da música da sua mãe?

- De algumas sim, sobretudo porque eram bem-feitas e tinham bons arranjos. Mesmo uma música como ´Tiroliro´, que tinha só dois acordes, foi feita com uma orquestra de 60 músicos e feita pelo orquestrador Jean-Claude Petit que é um dos maiores do mundo.

- Mas a determinada altura decidiu voltar para Portugal? Porquê?

- Voltei com os meus 28 anos, em 1996, logo eu que dizia que Portugal “nunca”. É uma história engraçada. Em minha casa só se falava em francês, mas quando eu conheci por lá a minha mulher (portuguesa) entrei de repente numa família tradicional onde se falava português. Comecei então a aprender a minha língua. Depois veio uma altura em que eu quis conhecer o sítio onde nasci, na Amadora, na Falagueira. E foi aí que comecei a sentir o apelo das minhas raízes. Um dia virei-me para a minha mulher e disse-lhe: “Eu acho que é altura de ir viver para Portugal”, algo que a deixou muito admirada. Como tínhamos dois filhos, com 8 e 4 anos, ela disse-me logo: “Se formos não voltamos”. E foi a melhor coisa que fiz na minha vida.

- Mas veio para Portugal para fugir de alguma forma do peso do nome da sua mãe?

- Se calhar, inconscientemente, sim. Uma coisa é certa, quando cheguei foi com a ideia de fazer o meu próprio trabalho sem usar o nome dela. Se calhar, se o tivesse feito, hoje era mais conhecido.

- Mas está agora a lançar um novo disco, ´A Cor da Minha Alma´ quando já não o fazia há 20 anos. Porquê?

- Porque quando fiz o último disco, o ´Não paro de Sonhar´, muitos dos contactos que fiz diziam-me que, sem bailarinas com as pernas de fora, nunca ia conseguir nada. Diziam-me também que a minha música não era nem carne nem peixe. E eu, como nunca quis abdicar daquilo que sou nem da minha identidade, como nunca quis ´prostituir-me´ preferi fazer uma pausa, para conseguir manter sempre o meu caminho.

- O que andou a fazer então?

- Decidi ir para outros desafios e abrir um restaurante na zona do Areeiro, com a minha mulher. Estive com esse negócio durante dez anos, mas sem nunca deixar de fazer música. Um dia surgiu uma oportunidade irrecusável e acabei por vendê-lo. Foi com esse dinheiro que consegui fazer este novo disco.

- Mas nunca esmoreceu em relação à música?

- Eu acho que há público para tudo e só quero que me deem uma oportunidade, até porque ser filho de quem sou fechou-me mais portas do que abriu. Mas eu nunca paro de sonhar e acreditar sempre nos meus sonhos. Mesmo este disco, que me levou quatro meses a fazer, foi uma luta para encontrar uma equipa que quisesse pegar nele.

- E que relação ainda tem com Paris?

- Lisboa está-me no sangue, mas Paris é emoção, é a minha cultura primeira, afinal estive 28 anos em Paris. Eu estou mesmo estou mesmo entre as duas culturas.

 Texto inédito pelo colabortador;

Orlando Fernandes, Jornalista 


Revista Repórter X Editora Schweiz Oficial

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