Debate autárquico na Póvoa de Lanhoso deixa mais dúvidas do que certezas:
Fizemos uma psicanálise sobre comentários feitos no directo!
O debate dos três candidatos à Câmara Municipal da Póvoa de Lanhoso, realizado ontem numa rádio local, acabou por se transformar num momento pouco esclarecedor para os povoenses. Ao invés de confronto de ideias, assistiu-se a um alinhamento de justificações e repetições, com espaço reduzido para verdadeira oposição.
A transmissão ficou marcada por falhas técnicas e pelo corte frequente do microfone do candidato da CDU, enquanto a candidata da coligação foi várias vezes interrompida pelo actual presidente sem que os responsáveis da entrevista tivessem a coragem de o repreender. O cenário agravou-se pelo facto de a rádio em causa ter sido oferecida pelo próprio presidente ao seu amigo, hoje membro da assembleia municipal, o que levanta suspeitas sobre a imparcialidade do espaço.
Ao contrário do que se poderia esperar, o tempo não foi distribuído de forma justa. O actual presidente beneficiou de cerca de uma hora, enquanto os dois restantes candidatos, em conjunto, tiveram apenas outra hora, já bastante condicionada pela actuação dos comentadores. Estes intervieram repetidamente, com observações inapropriadas e má gestão do programa, acabando por “roubar” tempo aos candidatos: Fátima Alves perdeu cerca de 8 minutos, António Nogueira cerca de 11 minutos, além de outros intervalos que foram cortados na prática.
No balanço de quatro anos de governação, sem maioria absoluta, não se viram sinais de progresso. Promessas não cumpridas, ausência de obras estruturais e uma Câmara preenchida com novos funcionários em busca de fidelização eleitoral marcaram o mandato. Ainda assim, o presidente procura novo fôlego apresentando um rol de promessas renovadas, sem ter concretizado as anteriores.
Durante o debate, o candidato da CDU acusou a Câmara de ter uma dívida superior a 20 milhões de euros. O actual presidente, Frederico Castro, justificou-se com a promessa de uma via estruturante, afirmando que já gastou verbas nos projectos e que, se ganhar, a obra avançará. A questão que se impõe é clara: se perder, que destino terão esses investimentos? Serão milhões enterrados em papéis, sem qualquer obra no terreno?
Enquanto a coligação defende ciclovias e melhores acessos de entrada e saída da vila, a CDU insiste em ligações às estradas que unem outros concelhos, apontando para uma estratégia mais ampla de mobilidade. É neste cenário que se levanta a dúvida: será a dívida municipal justificada por uma promessa de via circular que pode nunca sair do papel? Ou ficará a Póvoa de Lanhoso com uma despesa inútil, afundada em milhares de euros gastos em projectos, sem obra feita?
No debate, questões prementes como os sem-abrigo a viver em automóveis ou a ocupação nocturna de estruturas junto ao centro de saúde ficaram completamente ausentes. Em contrapartida, voltou à mesa a proposta de elevar a vila a cidade, quando nem como vila de referência a Póvoa tem conseguido afirmar-se.
A ausência do candidato do Chega também gerou comentários. Ao recusar participar, acabou por se esquivar a um confronto de ideias, reforçando a ideia de que a candidatura prefere slogans à responsabilidade política.
No final, ficou a sensação de que não houve verdadeiro debate. Para muitos, o encontro pareceu mais um “podcast de amigos”, uma conversa leve, sem chama nem confronto, que pouco contribuiu para esclarecer os povoenses. O risco é claro: mais do que informar, este debate pode ter confundido ainda mais os eleitores.
autor: Quelhas
Revista Repórter X Editora Schweiz Oficial