Vidas
Destroçadas – Capítulo Nr° 1/1
ÚLTIMA
HORA:
Vidas
destroçadas é um grupo criado por vários lesados após acidentes de trabalho,
que estão a ser vítimas de erros e injustiças por parte de empresas,
seguradoras, médicos e outros intervenientes. Após conhecer a história de
alguns membros, a `Revista Repórter X Editora Schweiz´ decidiu dar voz a
este grupo, de forma a ajudar a dar visibilidade aos seus casos, para que se
comecem a ver desfechos mais positivos do que aqueles que têm acontecido. Na
primeira entrevista, João Quelhas questionou os fundadores principais deste
grupo, Rui Fialho e João Pedro Antunes, bem como outros dois
lesados, de seu nome Fernando Bandeira e Victor Carlos.
Rui
Fialho
reside na Suíça desde 2009, em Zürich. Em 2011 sofreu um acidente de trabalho,
que inicialmente não foi declarado como tal. Continuou a trabalhar e, passadas
umas semanas após o acidente, foi ao hospital, onde lhe foi receitada uma
medicação e foi administrada uma injecção. As mazelas derivadas de lesões não
tratadas começaram a aparecer mais tarde, e em 2015 ocorreu mais um sinistro, em
que lhe caiu uma chapa de ferro na cabeça. Esse acidente foi declarado, mas no
hospital apenas fizeram avaliações superficiais, não recorrendo ao auxílio da
radiologia para fazer o devido diagnóstico. Desse embate resultaram lesões na
cervical, que a SUVA não quer assumir e, por isso mesmo, hoje entende que
apenas são elaboradas análises superficiais, para que não haja registos de
lesões no dia do acidente. Entre 2015 e 2017, as idas ao médico foram
constantes e apenas receitavam medicação. Todo este acumular de situações levou
a que, em Abril de 2017, fosse obrigado a deixar de trabalhar, e foi aí que
começou a perceber que médicos, seguradoras e instituições intervenientes
mentem aos lesados, afirmando ter provas desta afirmação, acreditando que
existe um “complot” entre estes e até com as próprias empresas, havendo um
interesse mútuo de todas estas entidades em defender-se e ignorar os lesados.
Afirma que, desde essa data, há um histórico de mentiras, manipulação e ameaças
e os relatórios médicos estão repletos de contradições. Foi uma vítima de
manipulação tão visível que, para se defender, mesmo sabendo que não é legal, viu-se
obrigado a gravar conversas com médicos, pois estes diziam uma coisa e nos
relatórios escreviam outra. Para Rui é incrível como a Suíça, estando entre os
primeiros países do mundo com melhores condições médicas e hospitalares, age de
tal forma incorretamente, levando os queixosos a ter que ir aos seus países de
origem fazer exames, para conseguirem perceber os problemas e conseguirem
relatórios médicos válidos. Com Rui aconteceu exactamente o mesmo. Durante
muito tempo, as suas dores foram consideradas como psicológicas e musculares.
Depois de começar a agitar as redes sociais com denúncias, conseguiu uma
opinião neutra e, no espaço de 8 meses, fez três operações, o que contradiz as
afirmações médicas de dores psicológicas. Foi operado à cervical; o ombro
direito tinha tendões rasgados e só em 2020 descobriu uma lesão na lombar. Ao
fim de 4 anos e meio, as dores numa perna continuaram, e descobriu que tinha um
problema numa anca e foi agendada uma cirurgia para o início deste Outubro.
Acontece que a mesma foi desmarcada, pois dizem que a lesão é pequena para uma
prótese e grande demais para uma reparação. Depois de todo este desgaste
físico, monetário e psicológico, a sensação de pânico voltou, pois está
novamente a ser empurrado para a realização de infiltrações, que não quer
realizar e sente que está a recomeçar esta mesma luta, e inclusive o seu seguro
de advogados rescindiu contrato para não ter que defender a vítima. Rui fez
queixa em várias instituições, incluindo ordem dos médicos, advogados, comunicação
social, incluindo canais conhecidos que se recusaram a ajudar, levando a criar
a ideia de que há uma necessidade de abafar situações como esta que, sendo
descobertas, levariam a um escândalo internacional e à descoberta de muitas
ilegalidades. Uma delas é a quebra de sigilo profissional, por parte dos
médicos, que passam informações para seguradoras e empresas, e manipulam exames
que chegam ao médico de família de forma distorcida. Grandes instituições como
a IV, investem milhares em publicidade, mas deixam famílias a passar
necessidades, a viver de esmola e a implorar pelos seus direitos de
sobrevivência. Relativamente aos médicos, primeiro pensava que eram
incompetentes, depois percebeu que eram mafiosos. Sente-se uma cobaia nas mãos
de médicos estagiários. De momento vive com dor mas, depois das operações, a
sua qualidade de vida melhorou em 90%. Ainda tem o problema da anca por
resolver, e mesmo não estando inválido, se fizer esforços piora. A SUVA não
assume o acidente da cervical e por isso não paga nada. Neste momento está sem
salário. Já informou o tribunal de Berna, bem como as autoridades portuguesas,
e recusa-se a regressar a Portugal, de mãos a abanar. Tem muitas provas, e
gostava que lhe fosse permitido apresentá-las em tribunal. Durante esta
caminhada, encontrou pessoas que o tentaram ajudar, e perdeu amigos que não
imaginava perder.
Continua Pág. 24
Vidas Destroçadas – Capítulo Nr° 1/2
Continuação Pág. 10
ÚLTIMA
HORA:
João Pedro Antunes chegou à Suíça em 1999. Em 2006
sofreu o seu primeiro acidente, no Ticino. Foi-lhe concedida a oportunidade de
reintegração profissional, fazendo uma formação, de forma a trocar de área,
pois inicialmente trabalhava no granito. Na recta final dessa formação, em
2009, teve um segundo acidente, que resultou em mais de 25 operações, recheadas
de variados erros médicos, dos quais sofre hoje consequências. Ao início era
apoiado pela SUVA. Durante esta reintegração sofreu uma pequena depressão, pois
tinha uma família a seu cargo; depressão essa que piorou drasticamente após o
segundo acidente. Começou a aperceber-se das injustiças do serviço, mentiras
por parte dos médicos e manipulações, e por isso procurou ajuda judicial, junto
de advogados. O trabalho dos advogados fez o lesado gastar mais de 60 mil CHF,
e não resultou em nada, pois acredita, tal como Rui, que há um “complot” com os
serviços. Quando percebeu que estava a ser enganado e manipulado, sendo
empurrado para centenas de infiltrações e toma de medicamentos, a sua depressão
piorou e esteve internado numa clínica de psiquiatria. Começou a gravar
conversas de médicos, mesmo sabendo que era ilegal, pois apercebeu-se que
estavam a ser ocultadas informações e exames, e estavam a ser mostrados exames
que não eram do seu corpo. Teve que fazer exames fora, para ter acesso a
relatórios verdadeiros. A própria SUVA encaminhou-o para psiquiatras, e agora
não assume os custos. De momento, tem uma percentagem de invalidez pela AI,
reconhecida pelo tribunal, a partir de 2015 e até 2018. Uma vez que o acidente
foi em 2009, estão 6 anos de direitos perdidos e uma luta na justiça para ser
decidida uma invalidez de 25%. A SUVA, por sua vez, descartou
responsabilidades, pois afirma ser doença e não causa de acidente e, por isso
mesmo, está a caminho do tribunal Europeu para reclamar os seus direitos. Em
Outubro do presente ano, recebeu uma carta onde era convidado a regressar ao
seu país, sem direito a nada. João deixa-nos um testemunho de aproveitamento
por parte das entidades face às situações, sem pensar nos lesados e suas
famílias, levando estes a viver situações de pânico, pois não têm dinheiro para
sobreviver. Quando questionado como encara o futuro, afirma que se o presente é
difícil; não quer imaginar o futuro. A desgastante luta pelos seus direitos
levou-o a tentar o suicídio, algo de que não se orgulha, mas de momento
sente-se capaz de continuar a batalha pela sua esposa, o seu grande pilar e que
o salvou, e pelos seus 3 filhos. Pensar nas próximas cirurgias é algo que o
deixa em pânico, pois os erros médicos são constantes, e mesmo com o grande
investimento a nível de cuidados, a Suíça falha com falta de bons
profissionais. Também sabe, em contrapartida, que se não for operado, talvez
perca a mobilidade. Vive diariamente com dores em várias zonas do corpo,
recorrendo a medicamentos como SOS. Tem um apoio de 22% da SUVA (1003 CHF) e
43% da AI (1079 CHF), que quase não chega para a renda de casa.
Fernando Bandeira vive na Suíça desde 1990. Em 2013
teve um acidente, caindo de 5 metros de altura. Imediatamente começaram as
mentiras, pois os relatórios médicos afirmam que a queda foi de 1.5 m de
altura. A sua queda resultou na fractura da tíbia e duas vértebras da coluna, e
após a cirurgia foi informado que tinha tudo corrido dentro dos trâmites
esperados, o que não se verificou real, pois as dores eram imensas. Depois de
mais de uma dezena de operações e dores, durante mais de 2 anos, mudou para
outro cantão da Suíça, e procurou um novo médico, sendo detectada uma torção da
perna. Após exames radiológicos, verificou-se que a perna estava torta 15
graus, o que contradizia os relatórios do hospital antigo. Deixar a perna torta
durante 3 anos, resultou numa destruição da anca, joelho e coluna. Após uma
cirurgia, onde partiram a perna, para consertar a lesão, com as consequências
de um erro médico que se arrastou durante mais de 3 anos, acarretou mazelas
graves e irreversíveis, vivendo há mais de 8 anos com dores constantes. É
acompanhado por psiquiatras, por ordem da SUVA, pois apresenta uma depressão
profunda. As suas dores não lhe permitem sequer dormir mais de 4h por noite.
Durante 7 anos foi ajudado pela SUVA, mas em 2020 recebeu uma carta que
informava o corte dessa ajuda e, por isso, está há mais de um ano sem receber
nenhum apoio, pois afirmam ser problemas de saúde e não causas do acidente. Com
4 filhos menores, Fernando vê-se obrigado a recorrer a ajudas familiares, para
conseguir manter a sua família, estando de momento a criar dívidas, que não
sabe se um dia vai poder pagar. Não consegue proporcionar à família a vida que
eles merecem, e isso deixa-o frustrado e desanimado. Todo o dinheiro gasto em
advogados revelou-se inútil, e mesmo com inúmeras limitações a nível físico,
não conseguindo subir ou descer escadas, estar sentado muito tempo ou em pé,
entre muitas outras, afirmam que a vítima pode trabalhar. Sente-se envergonhado
e nunca pediu nenhum tipo de ajuda à social, pretendendo apenas que sejam
reconhecidos os seus direitos, depois de 30 anos de trabalho. Vê um futuro
negro à sua frente, se continuar assim sem solução possível. Foi empurrado de
médico para médico, muitas vezes estagiários, que não tinham qualquer
conhecimento a nível do seu caso. Com 4 filhos e falta de remuneração há 13
meses, vê-se num beco sem saída. Neste Momento já há movimentos, a tentar dar
ajuda a esta família.
Continua
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Vidas Destroçadas – Capítulo Nr° 1/3
Continuação Pág. 24
ÚLTIMA
HORA:
Victor Carlos tem 35 anos e vive na Suíça há 13 anos.
Sofreu um acidente há um ano, e aparentemente tinha corrido tudo bem. Deixou de
ter contacto com os cirurgiões, e apenas esteve com assistentes. Afirmam que
vai ser integrado num novo emprego, e não concorda. O primeiro relatório está
cheio de erros e mentiras, e tem provas disso. Foi assistido no local por uma
paramédica, que viu todo o aparato, e no relatório tudo foi apresentado de forma
distorcida, inclusive o objecto com que foi atingido e o peso do mesmo. Continua
a receber o ordenado por parte do patrão, e a sua filha nunca recebeu abono
desde o acidente, devido a erros com papéis e burocracias. Vê-se privado de
muitos aspectos da vida comum, pois vive com dores; não consegue sequer
caminhar por muito tempo. Foi pai há pouco tempo; não consegue disfrutar dos
primeiros meses de vida da criança como gostaria, e não consegue prever um
futuro risonho. Mesmo assim mantém a esperança que surjam novas oportunidades. Saiu
de Portugal com sonhos, e desde o acidente vê-se encurralado, a ganhar 80% do
seu rendimento. Tem filhos dependentes, a esposa teve que começar a trabalhar
para ajudar nas despesas. A SUVA tem tentado afectá-lo psicologicamente,
tentando obrigar Victor a regressar a Portugal e deixar de lutar pelos seus
direitos. A sua família tem sido um pilar imprescindível nesta situação de
vida, e caso não existisse a força que lhe dão, talvez já tivesse regressado a
Portugal, deixando os seus direitos para trás. Muitos lesados, cansados de
situações e lutas intermináveis a favor dos seus direitos, contra discriminação,
abusos de poder, ameaças e manipulação, regressam aos seus países de origem,
sem nada. Os seus filhos são vítimas de bullying, e todo o cansaço faz os
lesados desistirem dos seus direitos. As vítimas afirmam que os médicos,
tribunais, SUVA, IV/ AI, são baseados em sistemas corruptos, que tentam enganar
as pessoas e encobrir situações que levam lesados a viver sem possibilidades e
sem dignidade. Muitos deixam de lutar por medo de sofrer represálias, e pelas
dificuldades que sentem ao tentar chegar aos órgãos responsáveis. Vários
membros deste grupo foram para a porta da UNIA, entidade à qual entregaram uma
carta escrita, carta essa que também foi entregue às autoridades competentes de
Berna e à SUVA, onde pedem para que os seus direitos sejam cumpridos e sejam
respeitados. O objectivo é fazer crescer
o grupo e depois criar manifestações, para terem visibilidade.
`A
revista disponibilizou-se a ajudar no aumento de impacto e visibilidade, bem
como conseguir bens de primeira necessidade através doutrem para quem precisar,
assim como o grupo tem feito. Esta foi a primeira entrevista, de várias que
vamos realizar a diferentes lesados e nesta altura já fizemos 3 palestras com
variadíssimas pessoas de várias idades, sexos e profissões, a viver em diversos
Cantões pela Suíça (visíveis no Facebook e Youtube). O impacto já é tal, que as
pessoas lesadas por este sistema de saúde, já se estão a juntar ao Grupo Vidas
Destroçadas, para fazerem a força e a Comunicação Social já está atenta, rádios
on-line já falam e fazem programas sobre o “eldorado” na Suíça. Agora estamos a
fazer traduções em italiano, francês e alemão, para enviar às respectivas
Cumunas/ Gmainds – Câmaras Municipais, Governo helvético e comunicação
portuguesa e suíça. ´
A
RTP1 vem ao repórter X e, se eles me permitirem, irei dar isto a conhecer no
programa, que vou reflectir mais tarde.
Entrevista; Quelhas, Director
Revista repórter X
Entrevistados; Rui Fialho, João
Pedro Antunes, Fernando Bandeira, Victor Carlos
Transcrição
de Vídeos;
Patrícia Antunes
Revisão
Editorial;
Sociólogo político, Dr. José Macedo de Barros
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