Abro com uma e fecho com outra:
(metáfora ou adivinha)
Abro com uma e fecho com outra,
chave pequena, guardiã da casa,
sentinela do abrigo e da pressa,
fino metal onde mora o destino,
onde cabe o cuidado e a memória.
A chave é como um livro,
abre-se com uma capa e fecha-se com outra,
e no meio vive uma história inteira,
capítulos de regresso, partida, silêncio e pão,
porque cada porta é um parágrafo,
cada entrada uma página nova,
e cada saída um ponto final temporário.
Se a chave fica mal posta,
a casa torna-se prisão,
e não vale a chave do vizinho,
nem o telefone,
nem o grito,
porque o fogo e o medo não esperam,
e um minuto basta para perder o comboio,
ou perder a vida.
Por isso, a chave tem ritual,
tem altar humilde junto da porta,
um cinzeiro que não guarda fumo,
uma presilha que segura o dia,
um gesto sempre igual,
como quem faz o sinal da cruz antes de seguir caminho,
gesto que se repete até que o corpo o saiba sem pensar.
A metáfora é simples e antiga:
quem sabe guardar a chave,
sabe guardar a casa,
sabe guardar os seus,
e não se perde dentro nem fora.
Abro com uma e fecho com outra, o que é, o que é?
É a vida pedindo atenção ao mais pequeno dos gestos, para que a casa seja abrigo
e nunca armadilha.
autor: Quelhas
Revista Repórter X Editora Schweiz Oficial

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