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quinta-feira, 4 de dezembro de 2025

O corpo humano não é cobaia

O corpo humano não é cobaia:


O hospital envia cartas suaves como quem oferece ciência, mas nós sabemos que por trás delas há a sombra antiga do corpo dado sem voz.
Eles dizem estudo, dizem progresso, dizem futuro, mas muitas vezes o que se faz é colheita de vidas, pele, sangue e tempo, sem que o consentimento seja livre como mandaria a dignidade humana.
Há quem assine papéis na pressa da dor, na angústia da doença, no medo de morrer. Papéis que tantas vezes libertam o hospital da responsabilidade e deixam o paciente entregue ao acaso, como se a vida dele fosse ensaio, rascunho ou hipótese.
Assina-se a esperança, mas por vezes assina-se a própria morte, e ninguém diz.

É estranho ver agora convites públicos para estudar a pele dos doentes e recolher biópsias, como se o sofrimento fosse matéria disponível, como se o corpo do povo fosse campo de prática, como se doar pedaços de si fosse dever cívico.
Dizem que é ciência, mas soa a propaganda.
Dizem que é voluntário, mas sabemos como a vida aperta quando se procura cura.
Dizem que é para o bem de todos, mas quem vigia quem vigia?

Os hospitais estudam-nos todos os dias.
Estudam-nos quando nos internam, quando nos operam, quando nos tratam.
E nem sempre com a clareza do consentimento informado, verdadeiro, transparente, sem pressão e sem medo.
A carta enviada mais parece anúncio de laboratório: faltam cobaias, tragam-se pessoas.

Mas o corpo humano não é bicho para dissecar à força, nem estatística para tabelas.
Se querem estudar a doença, estudem primeiro a consciência e a responsabilidade.
Se querem aprender sobre cura, aprendam sobre respeito.
Se precisam de corpos para investigação, então que os ofereçam os que mandam, os que decidem, os que escrevem protocolos, ou que levem para lá cães, se acharem que é justo entregar quem não fala e não se defende.

A ciência que se faz sem coração é fogueira que queima o futuro.
E a medicina que esquece o paciente como pessoa deixa de ser cura e passa a ser indústria.

Que ninguém seja número, nem cobaia, nem carne de laboratório.
A vida humana tem nome, rosto, história e sagrado.
E isso não se estuda, respeita-se.

Revista Repórter X Editora Schweiz Oficial

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