O cenário confirmou-se. José Sócrates apresentou esta noite a demissão do cargo de primeiro-ministro. Sócrates diz que "a sofreguidão pelo poder explica esta crise política", "evitável" e "inoportuna". Mas afirmou que será novamente candidato nas próximas eleições legislativas.
Num discurso pautado por recados à oposição, José Sócrates demitiu-se este noite do cargo de primeiro-ministro. Numa curta declaração Sócrates afirmou que a crise política dos últimos dias era perfeitamente "evitável" e "inoportuna".
O ainda primeiro-ministro descreveu um "cenário lamentável", aquilo que se passou hoje na Assembleia da República.
"Hoje todos os partidos da oposição rejeitaram as medidas que o governo propôs para evitar que Portugal recorresse à ajuda externa. E fizeram-no sem apresentar alternativas à negociação. A oposição tirou ao governo todas as condições para continuar a governar", acrescentou.
O primeiro-ministro demissionário alertou para as consequências "negativas" de um programa de ajuda externa "para as pessoas, para as famílias e para as empresas", e disse que foi exactamente essa a sua luta que tem vindo a travar "há vários meses".
Sócrates reiterou que até ao "último minuto" mostrou total disponibilidade para negociar com os partidos o novo pacote de medidas da austeridade.
"Fiz inúmeros apelos à responsabilidade e pedi a todos [os partidos] que pensassem duas vezes no que iam fazer. Lamento que tenha sido o único a fazer esse apelo e lamento ainda mais que nenhuma outra força política tenha respondido a esse apelo”, declarou José Sócrates na sua comunicação ao país.
"Calculismo político" e "sofreguidão do poder" explicam esta crise
Claramente direccionado para o PSD, José Sócrates responsabilizou o principal partido da oposição pelo cenário de crise política que levou à sua demissão acusando os sociais.-democratas de "calculismo político" e "sofreguidão pelo poder".
"As dificuldades das famílias ficaram reféns do calculismo político (...) Esta crise política, neste momento, tem consequências gravíssimas sobre a confiança que Portugal precisa de ter junto das instituições e dos mercados financeiros”, advertiu.
“Quando o Estado Português precisa de ter uma voz forte na Cimeira Europeia, há quem não hesite em enfraquecer irremediavelmente as instituições portuguesas, e quando o interesse nacional deveria estar acima de qualquer outro interesse, há quem não hesite em colocar o interesse partidário acima do interesse nacional”, disse, aumentando o tom das suas críticas à oposição.
Tal como era já esperado, num cenário de eleições antecipadas, José Sócrates anunciou que será candidato às próximas legislativas.
"Irei submeter-me à vontade dos portugueses. Tenho confiança na energia, na vontade e na capacidade dos portugueses. Eu confio em Portugal", finalizou Sócrates.
@SAPO
23 de Março de 2011
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