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quinta-feira, 4 de dezembro de 2025

Olga Cardoso, voz que acordou gerações com o programa Despertar:

Olga Cardoso, voz que acordou gerações com o programa Despertar:



A Olga e o Sala eram o meu 'despertar' na Rádio Renascença enquanto criança no qual ainda não tínhamos televisão. 

Morreu aos noventa e um anos Olga Cardoso, a mulher cuja voz iluminou as manhãs de tantos de nós, como um gesto simples que nos trazia o dia pela mão. Partiu na madrugada de três de Janeiro, após internamento no Hospital de São João, no Porto, vítima de um acidente vascular cerebral, depois de longa luta contra o Parkinson. A notícia chegou pela mão emocionada de António Sala, companheiro de tantas alvoradas.

Nascida em Miragaia, entrou ainda menina na vida sonora da nação, dando voz a radionovelas na Orsec em mil novecentos e quarenta e nove. Passou pela Rádio Porto e pelo Rádio Clube do Norte, até que, em mil novecentos e sessenta e quatro, encontrou na Rádio Renascença o palco onde o seu timbre se tornaria casa para milhares.

Entre mil novecentos e setenta e nove e dois mil, foi alma do programa Despertar, primeiro com Fernando de Almeida, depois, e para sempre na memória colectiva, ao lado de António Sala. A dupla moldou as manhãs do país, oferecendo humor, ternura e imaginação num tempo em que a rádio era farol, companhia, e, para muitas crianças, o único lume aceso antes do quotidiano se erguer. As emissões desde Viena, Sevilha, Macau, a Expo, aviões, barcos e submarinos mostravam uma coragem alegre, quase de aventura, que fazia da rádio um território vivo.

A sua presença estendeu-se ao teatro, com Hotel Sarilhos, e à música, com gravações nos anos oitenta. Já com cinquenta e nove anos, estreou-se na televisão ao apresentar A Amiga Olga, na Tvi, onde conquistou outro público, sem perder a simplicidade que sempre a definiu.

A última manhã do Despertar foi transmitida a vinte e oito de Janeiro de dois mil, despedida serena de um percurso que marcou gerações. Regressaria por alguns meses com António Sala em Clássicos da Renascença. Mais tarde fixou-se em Coimbra, colaborando com rádios regionais e trabalhando como relações públicas até dois mil e quinze.

Deixa três filhos, quatro netas e uma herança afectiva rara, feita de carácter, generosidade e conversas longas, daquelas que lembram o valor antigo da proximidade. Fica a saudade, queda suave, mas cheia de luz, da voz que acompanhou a infância de um país e que, para muitos, foi o primeiro raio de cada dia.

Que descanse em paz, e que o seu eco continue a despertar em nós a memória das manhãs mais puras.

autor: Quelhas 

Revista Repórter X Editora Schweiz Oficial

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