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sábado, 4 de abril de 2020

Violência doméstica é um dos flagelos que afecta o mundo inteiro, relata a jovem Sueliny Nunes, desde Cabo-Verde


Violência doméstica é um dos flagelos que afecta o mundo inteiro, relata a jovem Sueliny Nunes, desde Cabo-Verde

Relatos da jovem Sueliny Nunes, desde Cabo Verde, ela que sonha, um dia ser escritora.

“Em Cabo-Verde, nos últimos anos houve vários casos de violência com espancamento, violência verbal e outros casos, em que até leva ao feminicídio, de forma expressiva.
Toda a mulher deseja um homem que lhe dê amor, carinho e protecção, não um homem que a espanca, que lhe bate e deixa marcas no corpo.
Muita vezes, os filhos são os mais prejudicados, porque quando o pai é agressor e a mãe vítima chega um dia que, depois de tanto espancamento, o agressor resolve tirar a vida da vítima; com a mãe falecida e o pai preso a criança muitas vezes fica nas instituições, se não tiver parentes. Muitas vezes, a criança fica traumatizada e, mesmo que receba amor e carinho no novo lar, nunca será igual ao amor da mãe.
A sociedade culpa as vítimas, dizendo que elas gostam de apanhar do parceiro, mas na minha opinião é medo, vergonha e muitas vezes por depender financeiramente do parceiro. Se uma relação não está dando certo não precisa ter espancamento  nem morte;  nada que uma conversa não resolva.
Os homens têm que respeitar as suas mulheres, principalmente por serem mães do(s) filho (os). Quando acontece uma violência, que muitas vezes leva à morte são vidas destruídas, sonhos interrompidas; muitas vezes as crianças, de tanto presenciar o seu pai bater na sua mãe, criam um instinto agressivo e, quando tiverem uma briga com a sua futura mulher, acham que a melhor forma de impor respeito é partir para a agressão.
Em toda a parte do mundo existe um número elevado de adolescentes e mães espancados e outros até assassinados pelos parceiros, muitas vezes por causa de ciúmes doentios, em que a melhor forma de evitar a violência é fazer denúncia à primeira ameaça; as mulheres têm que ser fortes e nunca admitir que nenhum homem levante as mãos para lhes bater, porque mulher foi feita para ser amada, protegida e respeitada, não espancada, nem assassinada.
Nunca permitam que um homem vos bata, para depois dar uma flor, porque flor não apaga as marcas na cara, nem as dores causadas.
Denunciar é a melhor forma de salvar uma vid; contudo, a maioria não o faz, por opressão!”
Este testemunho chegou-me pela Sueliny Nunes, que dias depois de me entregar este texto refere que o Padrasto a pôs fora de casa e que está a passar um mau bocado e que a mãe não pode fazer nada, porque a casa é do Padrasto, pelo que percebeu muito bem que se a mãe se opusesse iria ficar também sem tecto, juntamente com os outros filhos. Lá está, é nestes casos que há violência doméstica, verbal, psicológica e até sexual; não sei se é o caso, porque a Sueliny Nunes  não me contou. As meninas, em Cabo Verde, são muito inteligentes, sabem defender-se de forma a que ninguém as enrole, a não ser que queiram partilhar algo; aqui, elas sabem que é para publicação na Revista Repórter X na Suíça. A Sueliny Nunes  gostava de ser escritora, ser útil à sociedade cabo-verdiana, mas não tem como, não há como superar as dificuldades, há muita gente nestas condições. Há famílias desestruturadas. Há crise governamental. Há pobreza intelectual. As pessoas prendem-se às coisas, com medo de superar. Pedi-lhe para escrever sobre Cabo-Verde, mas diz não ter meios, não tem telefone capaz, não tem PC e, por isso, não consegue, mesmo a pagar. Aceitava, se pagassem antes, mas eu nunca o faria e só sendo estúpida o faria. Eu também trabalho e só depois é que recebo, não andamos com o carro à frente dos Bois. Elas podem contar histórias verdadeiras e pelo meio meias mentiras, para conseguirem dinheiro. Se bem que a pobreza faz com que estas criaturas humanas lindas podem ou tentem fazer algo para conseguirem ter uma vida melhor que aquela que nunca escolheram, e que deixa muito a penar. Na sequência deste texto, mais tarde quando confessa estar na rua a viver, logo no segundo dia, ela diz que preferia vir para a Europa prostituir-se que ficar na miséria em Cabo-Verde. Verdade. Fiquei boquiaberta pela coragem de dizer o que sentia com a amargura da vida.

Testemunho; Sueliny Nunes


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