Bem-vindo a Cabo-Verde, um País onde as pessoas desaparecem e nunca mais
são encontradas
Sou Cabo-Verdiana, nascida e criada na Ilha de
Santiago, mais concretamente na cidade da Praia. Hoje, estou aqui para falar
pela terceira vez, resumidamente na Revista Repórter X, para o que fui
convidada, sobre o meu País, Cabo Verde.
A língua Oficial, e falada em Cabo-Verde, é a
portuguesa e falamos também o crioulo cabo-verdiano. Os exploradores portugueses descobriram e colonizaram as Ilhas desabitadas no Século XV. Usaram e
abusaram dos cabo-verdianos e outros africanos no tempo da escravatura, que
transportavam principalmente para o Brasil. Para além disso, usaram as mulheres
sexualmente, que sempre foram discriminadas, até aos tempos de hoje pelos
próprios habitantes!
No momento da sua independência de Portugal, em
1975, os cabo-verdianos emigraram para todo o mundo. “A mulher africana é
afrodisíaca, linda e, em qualquer parte do Mundo, elas são visualizadas com
diferentes olhares, pela sua sensualidade, pela cor ou também por racismo.”
Nessa altura, os portugueses também regressaram a casa como Retornados, deixando
lá todos os seus bens em Cabo-Verde, assim bem como nos Países de língua de
Expressão portuguesa, na África.
República de Cabo-Verde é um país insular, localizado num arquipélago, formado por dez Ilhas vulcânicas, na região oriental mediana do Oceano Atlântico, sendo uma das Ilhas não
habitada. Tem Ilhas vulcânicas, que compõem pequenas montanhas. Existe um
vulcão activo na Ilha no Fogo, mais concretamente na Chã das Caldeiras e é o
ponto mais elevado do Arquipélago, com 2829m. Também constituídos por Ilhéus
divididos em Ilhéus brancos e rasos, também o grupo barlavento com as Ilhas de
São Vicente, São Antão, São Nicolau, Santa Luzia, Ilha do Sal, Ilha da Boa
Vista e as Ilhas do Sotavento, Maio, Brava, Santiago e Fogo.
As temperaturas de Cabo Verde variam pouco nas
estações do ano; a temperatura máxima é entre 25 graus a 30 graus, enquanto as
mínimas variam entre 19 graus a 25 graus. Os meses mais frios são Março e
Dezembro e as chuvas ocorrem entre Agosto e Outubro, e a temperatura da água do
mar mantém-se durante todo o ano.
A Cultura de Cabo-Verde destaca-se pela língua
oficial, o português, que é aprendida nas escolas; a língua materna é o
crioulo, sendo falada nas diferentes Ilhas e de diferentes formas e dialectos.
O artesanato tem uma grande importância na
Cultura Cabo-Verdiana; a tecelagem e a cerâmica são apreciadas, e na música há
diversos géneros próprios, mas os ritmos mais destacados são caladera, funaná e
a morna, que agora é considerada património Mundial.
Cabo-Verde tem uma riqueza, que é o seu mar, que
é rico em espécies marinhas, que dá sabor à cozinha Cabo-Verdiana, com peixe e
mariscos.
Cabo-verdianos são povos que adoram festas; em
Fevereiro, em todas as Ilhas, é celebrado o Carnaval, mas as mais atractivas
são na Ilha de São Nicolau e São Vicente. Em Maio, o festival da Gamboa, na
cidade da Praia; em Janeiro, o Santo Amaro no Tarrafal; em Agosto, o festival
da Baía das Gatas; em São Vicente, que atrai vários turistas, e é uma festa com
projecção internacional.
A economia, em Cabo-Verde, sofre com escassez de
recursos naturais e com a seca prolongada, originando um solo pobre em várias
ilhas do arquipélago; a economia é mais elevada nas Ilhas, onde há Turismo.
Cabo-Verde é um País com alta taxa de
desemprego, principalmente na camada jovem; vários jovens terminam os estudos e
ficam desempregados, pelo que há muita pobreza. O salário mínimo é de 13 mil
escudos, o que numa família pobre quase não dá para nada, pelo que muitas
crianças não vão à escola, por falta de condições. Falta a alimentação saudável
e os medicamentos.
Várias famílias moram em casas de lata, passando
frio, e no tempo da chuva a situação piora; pessoas e crianças já morreram por
causa de incêndios nas barracas, por não terem condições. “Para além disso,
muitos Pais e principalmente parceiros de Mães solteiras pôem os filhos fora de
casa; muitos passam um mau bocado, principalmente fome e frio e submetem-se à
prostituição com mais facilidade.”
Em Cabo-Verde as crianças são submetidas a
prostituírem-se, principalmente em Mindelo, Santa Maria e Praia, onde vivo.
Algumas jovens prostituem-se por vaidade, mas outras por obrigação ou
necessidade. Os Pais, às vezes, são os autores morais. Em Cabo-Verde a
prostituição é forçada, tanto na camada jovem como nas crianças mais pequenas;
as pessoas fingem não ver, por medo e opressão.
“Em Cabo-Verde, nos últimos anos, houve vários
casos de violência com espancamento, violência verbal e outros casos, em que
até leva ao “feminicídio”, de forma expressiva. A sociedade culpa as
vítimas, dizendo que elas gostam de apanhar do parceiro, mas na minha opinião é
medo, vergonha e muitas vezes por dependerem financeiramente do parceiro. Se
uma relação não está dando certo, não precisa ter espancamento nem morte; nada
que uma conversa não resolva.”
Cabo-Verde está prestes a tornar-se um
narco-Estado! Em 2014, a Mãe do principal investigador anti-drogas foi
assassinada; em 2016, a Polícia Costeira apreendeu 28 Kg de cocaína num navio
de Bandeira do Brasil; em 2019, apreenderam 9,5 toneladas de cocaína num navio
de Bandeira do Panamá; várias pessoas são detidas com drogas nas fronteiras e
entre Ilhas. Dizem que o dinheiro das drogas circula em todas as Ilhas.
Infelizmente, nunca me meti nisso, porque se o fizesse nunca teria as grandes
dificuldades que tenho. A minha família vive dificuldades e, desde que o meu
Pai faleceu, as coisas pioraram; são sempre os menores que sofrem de
represálias e tortura.
Em Cabo-Verde a Medicina não é muito avançada;
temos o Hospital Central Agostinho Neto e também o Hospital Batista Sousa, em
São Vicente, mas não têm todos os equipamentos adequados para a saúde da
população. Nenhuma das Ilhas tem Hospitais qualificados, para tratar os doentes,
e as pessoas morrem, por causa da demora em serem evacuadas para o hospital
Central.
O atendimento não é lá grande coisa; só é bem
tratado quem tem condições financeiras elevadas. A discriminação, em Cabo-Verde,
acontece entre os Cabo-verdianos, quando os vadios acham que são mais que os
restantes, desprezando a língua da outra; uma pessoa com menos condições não é
bem tratada nos hospitais e nas escolas os filhos do advogado são tratados
melhor do que os filhos de um lavador. Têm mais respeito por um médico do que
por um condutor de autocarro, só porque o salário é diferente.
Bem-vindo a Cabo-Verde, um País onde as pessoas
desaparecem e nunca mais são encontradas, um País onde as Mães humildes saem
para buscar pão para os filhos e os Guardas-fiscais confiscam-nas e
agridem-nas; um País onde o povo não tem voz e as autoridades abusam. Os
governantes abusam e todos abusam, num País onde não há igualdade, nem
dignidade. A maioria do povo Cabo-verdiano é hipócrita.
“Há famílias desestruturadas. Há crise
governamental. Há pobreza intelectual. As pessoas prendem-se às memórias, com
medo de superar os problemas. Muitas meninas e meninos preferem e procuram a
Europa, através de outros amigos e nas Redes Sociais, e preferem prostituir-se
fora do País, como profissão inicial, do que ficar na miséria em Cabo-Verde.”
Testemunho; Sueliny Nunes
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