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domingo, 9 de outubro de 2022

Bem-vindo a Cabo-Verde, um País onde as pessoas desaparecem e nunca mais são encontradas


Bem-vindo a Cabo-Verde, um País onde as pessoas desaparecem e nunca mais são encontradas


 

Sou Cabo-Verdiana, nascida e criada na Ilha de Santiago, mais concretamente na cidade da Praia. Hoje, estou aqui para falar pela terceira vez, resumidamente na Revista Repórter X, para o que fui convidada, sobre o meu País, Cabo Verde.

 

A língua Oficial, e falada em Cabo-Verde, é a portuguesa e falamos também o crioulo cabo-verdiano. Os exploradores portugueses descobriram e colonizaram as Ilhas desabitadas no Século XV. Usaram e abusaram dos cabo-verdianos e outros africanos no tempo da escravatura, que transportavam principalmente para o Brasil. Para além disso, usaram as mulheres sexualmente, que sempre foram discriminadas, até aos tempos de hoje pelos próprios habitantes!

 

No momento da sua independência de Portugal, em 1975, os cabo-verdianos emigraram para todo o mundo. “A mulher africana é afrodisíaca, linda e, em qualquer parte do Mundo, elas são visualizadas com diferentes olhares, pela sua sensualidade, pela cor ou também por racismo.” Nessa altura, os portugueses também regressaram a casa como Retornados, deixando lá todos os seus bens em Cabo-Verde, assim bem como nos Países de língua de Expressão portuguesa, na África.

República de Cabo-Verde é um país insular, localizado num arquipélago, formado por dez Ilhas vulcânicas, na região oriental mediana do Oceano Atlântico, sendo uma das Ilhas não habitada. Tem Ilhas vulcânicas, que compõem pequenas montanhas. Existe um vulcão activo na Ilha no Fogo, mais concretamente na Chã das Caldeiras e é o ponto mais elevado do Arquipélago, com 2829m. Também constituídos por Ilhéus divididos em Ilhéus brancos e rasos, também o grupo barlavento com as Ilhas de São Vicente, São Antão, São Nicolau, Santa Luzia, Ilha do Sal, Ilha da Boa Vista e as Ilhas do Sotavento, Maio, Brava, Santiago e Fogo.

As temperaturas de Cabo Verde variam pouco nas estações do ano; a temperatura máxima é entre 25 graus a 30 graus, enquanto as mínimas variam entre 19 graus a 25 graus. Os meses mais frios são Março e Dezembro e as chuvas ocorrem entre Agosto e Outubro, e a temperatura da água do mar mantém-se durante todo o ano.

 

A Cultura de Cabo-Verde destaca-se pela língua oficial, o português, que é aprendida nas escolas; a língua materna é o crioulo, sendo falada nas diferentes Ilhas e de diferentes formas e dialectos.

 

O artesanato tem uma grande importância na Cultura Cabo-Verdiana; a tecelagem e a cerâmica são apreciadas, e na música há diversos géneros próprios, mas os ritmos mais destacados são caladera, funaná e a morna, que agora é considerada património Mundial.

 

Cabo-Verde tem uma riqueza, que é o seu mar, que é rico em espécies marinhas, que dá sabor à cozinha Cabo-Verdiana, com peixe e mariscos.

 

Cabo-verdianos são povos que adoram festas; em Fevereiro, em todas as Ilhas, é celebrado o Carnaval, mas as mais atractivas são na Ilha de São Nicolau e São Vicente. Em Maio, o festival da Gamboa, na cidade da Praia; em Janeiro, o Santo Amaro no Tarrafal; em Agosto, o festival da Baía das Gatas; em São Vicente, que atrai vários turistas, e é uma festa com projecção internacional.

 

A economia, em Cabo-Verde, sofre com escassez de recursos naturais e com a seca prolongada, originando um solo pobre em várias ilhas do arquipélago; a economia é mais elevada nas Ilhas, onde há Turismo.

 

Cabo-Verde é um País com alta taxa de desemprego, principalmente na camada jovem; vários jovens terminam os estudos e ficam desempregados, pelo que há muita pobreza. O salário mínimo é de 13 mil escudos, o que numa família pobre quase não dá para nada, pelo que muitas crianças não vão à escola, por falta de condições. Falta a alimentação saudável e os medicamentos.

 

Várias famílias moram em casas de lata, passando frio, e no tempo da chuva a situação piora; pessoas e crianças já morreram por causa de incêndios nas barracas, por não terem condições. “Para além disso, muitos Pais e principalmente parceiros de Mães solteiras pôem os filhos fora de casa; muitos passam um mau bocado, principalmente fome e frio e submetem-se à prostituição com mais facilidade.”

 

Em Cabo-Verde as crianças são submetidas a prostituírem-se, principalmente em Mindelo, Santa Maria e Praia, onde vivo. Algumas jovens prostituem-se por vaidade, mas outras por obrigação ou necessidade. Os Pais, às vezes, são os autores morais. Em Cabo-Verde a prostituição é forçada, tanto na camada jovem como nas crianças mais pequenas; as pessoas fingem não ver, por medo e opressão.

 

“Em Cabo-Verde, nos últimos anos, houve vários casos de violência com espancamento, violência verbal e outros casos, em que até leva ao “feminicídio”, de forma expressiva. A sociedade culpa as vítimas, dizendo que elas gostam de apanhar do parceiro, mas na minha opinião é medo, vergonha e muitas vezes por dependerem financeiramente do parceiro. Se uma relação não está dando certo, não precisa ter espancamento nem morte; nada que uma conversa não resolva.”

  

Cabo-Verde está prestes a tornar-se um narco-Estado! Em 2014, a Mãe do principal investigador anti-drogas foi assassinada; em 2016, a Polícia Costeira apreendeu 28 Kg de cocaína num navio de Bandeira do Brasil; em 2019, apreenderam 9,5 toneladas de cocaína num navio de Bandeira do Panamá; várias pessoas são detidas com drogas nas fronteiras e entre Ilhas. Dizem que o dinheiro das drogas circula em todas as Ilhas. Infelizmente, nunca me meti nisso, porque se o fizesse nunca teria as grandes dificuldades que tenho. A minha família vive dificuldades e, desde que o meu Pai faleceu, as coisas pioraram; são sempre os menores que sofrem de represálias e tortura.

 

Em Cabo-Verde a Medicina não é muito avançada; temos o Hospital Central Agostinho Neto e também o Hospital Batista Sousa, em São Vicente, mas não têm todos os equipamentos adequados para a saúde da população. Nenhuma das Ilhas tem Hospitais qualificados, para tratar os doentes, e as pessoas morrem, por causa da demora em serem evacuadas para o hospital Central.

 

O atendimento não é lá grande coisa; só é bem tratado quem tem condições financeiras elevadas. A discriminação, em Cabo-Verde, acontece entre os Cabo-verdianos, quando os vadios acham que são mais que os restantes, desprezando a língua da outra; uma pessoa com menos condições não é bem tratada nos hospitais e nas escolas os filhos do advogado são tratados melhor do que os filhos de um lavador. Têm mais respeito por um médico do que por um condutor de autocarro, só porque o salário é diferente.

 

Bem-vindo a Cabo-Verde, um País onde as pessoas desaparecem e nunca mais são encontradas, um País onde as Mães humildes saem para buscar pão para os filhos e os Guardas-fiscais confiscam-nas e agridem-nas; um País onde o povo não tem voz e as autoridades abusam. Os governantes abusam e todos abusam, num País onde não há igualdade, nem dignidade. A maioria do povo Cabo-verdiano é hipócrita.

 

“Há famílias desestruturadas. Há crise governamental. Há pobreza intelectual. As pessoas prendem-se às memórias, com medo de superar os problemas. Muitas meninas e meninos preferem e procuram a Europa, através de outros amigos e nas Redes Sociais, e preferem prostituir-se fora do País, como profissão inicial, do que ficar na miséria em Cabo-Verde.”

 

Testemunho; Sueliny Nunes

 

 

 

 

 


Revista Repórter X Editora Schweiz Oficial

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