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domingo, 28 de abril de 2019

Sindicalista Rogério Sampaio, Aboliu a Lei Estagional na Suíça, especial espaço Revista Repórter X na rádio, Nasci para Cantar, e no MEO Canal - Sindicalista quer ser politico no seu país de Origem, Guiné-Bissau, onde já começou a dar os primeiros passos, depois da reforma que o levou a Portugal.


Programa 27 Cap. I

Sindicalista Rogério Sampaio, especial espaço Revista Repórter X na rádio, Nasci para Cantar, e no MEO Canal

No 27º programa, trouxemos um tema diferente dos que já foram abordados até hoje. Tivemos presente o sindicalista Rogério Sampaio, ligado às comunidades portuguesas, Guiné-Bissau, e todos os que vivem em países de língua e expressão portuguesa. A nossa missão, juntamente com a NPC, é levar a cultura portuguesa a todos os cantos do planeta. Hoje, particularmente, vamos elucidar os nossos ouvintes para as problemáticas da emigração.

Vamos resumir 34 anos de emigração desta figura, neste pequeno texto e nesta pequena entrevista. Antes de emigrar, vivia na Guiné-Bissau. Aos 18 anos foi para a força aérea portuguesa e foi mandado para o ultramar. Quando regressou, fez curso de sargento e foi para Angola. Em 1974, aquando da independência, pediu para regressar a Portugal e ir para o seu país de origem, Guiné-Bissau, colónia portuguesa, e dar formação de helicóptero. O pedido foi aceite pelo seu país mas nunca lhe deram a oportunidade, acabando por ficar em Portugal. O seu pai era natural do Alentejo. Quando casou, decidiu ir para a Suíça, com a sua esposa, com ideia de ficar 3 ou 4 anos, mas entretanto já passaram 34. Rogério diz que a emigração é uma armadilha, pois as pessoas começam por ganhar salários superiores áquilo que têm no país onde estavam e de repente acham que são capazes de comprar tudo e mais alguma coisa. As pessoas fazem créditos para carros, surgem os filhos, e depois o regresso torna-se impossível. As pessoas têm que tentar amealhar, sem contrair empréstimos ou dívidas, pois se o fizerem, nunca mais vão conseguir desfazer-se de todas as armadilhas inerentes a isso, e o regresso aos seus países torna-se impossível. Não se arrepende de ter emigrado, pois mesmo na Suíça, com muito trabalho, conseguiu construir o seu estatuto, e hoje pode regressar a Portugal satisfeito pelo trabalho que fez.
Rogério foi Secretário Sindical, uma profissão para si interessante, que dá oportunidade de contactar com uma panóplia extensa de pessoas e culturas, das diferentes comunidades, conhecer a realidade da emigração, tornando-se uma profissão gratificante. Reside em Zürich, onde se pratica o alemão. No início foi um desafio para si aprender a língua, as leis, a sua cultura, as questões sociais e económicas do país, que tentou explorar ao máximo, de forma a poder integrar-se da melhor forma possível. Nunca se sentiu discriminado pelos suíços. A língua faz parte da integração, e ninguém se consegue integrar se não souber comunicar no seu país de acolhimento. Na sua opinião, os portugueses acomodam-se demais, e não se empenham em aprender e em frequentar cursos da língua, se necessário for para aprenderem, levando a que haja mais desemprego para os portugueses. A mão-de-obra portuguesa é das melhores pelo mundo, se não a melhor, e são tratados como os suíços, se souberem falar, mas o povo não quer fazer formação.
Rogério fez parte da Federação das associações portuguesas na Suíça, onde tinham reuniões no conselho federal da Suíça, e debatiam problemas da emigração. Foi nesse contexto, que lutou muito, junto com outras pessoas, para que as comunidades portuguesas pudessem hoje usufruir de muitos direitos. António Mestre foi um dos homens ligados a Rogério, trabalhou na banca, e que junto com ele se reformou, e regressou agora a Portugal. Mestre fez parte, junto com Rogério, da associação de Lenzburg, criando um boletim informativo, que saiu na Suíça durante 10 anos consecutivos. Criaram também o folclore e futebol de Lenzburg, entre outras coisas. O primeiro traje de folclore foi feito pela esposa e irmã do sindicalista. Tudo isso foi por água abaixo, e tudo o que Mestre, Rogério, e outros criaram, não foi cuidado pelos mais jovens, sendo a língua um dos entraves, pois as pessoas que foram emigrando não conseguem aprender o suficiente para estarem sempre dentro das associações. O interesse dos jovens também foi desaparecendo, os interesses foram individualizados e por exemplo, a associação Lenzburg, não deixava que o folclore fizesse dinheiro e tivesse uma caixa só para si. Todo o dinheiro angariado, no folclore, era automaticamente tomado pela associação. A partir do momento que começaram a criar grupos e individualizar interesses, a banca e os seguros também entraram dentro das associações e arruinaram por completo o movimento associativo.
Rogério foi Secretário Sindical das regiões de Zürich e de Schaffhausen, e sentia-se o pai de toda a gente, pois todos os que tinham problemas o procuravam. A dificuldade na língua é um dos maiores factores que dificulta a procura de habitação, junto dos organismos. As pessoas não sabem ler uma carta, por exemplo.
                                                                              
Os sindicalistas tinham como função acompanhar essas pessoas e ajudar a resolver questões relacionadas com trabalho, habitação, escolas, entre outros. Até ao acordo bilateral entre Portugal e a Suíça, o homem apenas podia residir na suíça 9 meses, os filhos não tinham direito a frequentar a escola e as mulheres não tinham acesso ao mercado de trabalho, sendo obrigados muitos deles a viver longe das suas famílias. Este era o discriminatório estatuto sazonal. Muitas crianças estavam na escola, “a negro”, e os sindicalistas ajudavam as crianças e os seus pais a não ser expulsos.
Nessa altura, os homens emigrantes não podiam ter a família perto. Hoje já podem, com o permisso L levar a família, sendo que antes do acordo bilateral não podiam. Um homem que emigrasse com 20 anos, e estivesse 30 anos no estrageiro, tinha direito a estar 3 meses por ano com a família, ou seja, durante esses 30 anos apenas passaria 5 anos com a sua família.

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    Programa 27 Cap. II


Sindicalista Rogério Sampaio, especial espaço Revista Repórter X
na rádio, Nasci para Cantar, e no MEO Canal

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O pai não acompanhava o crescimento e educação dos filhos. Rogério e os seus companheiros fizeram uma batalha enorme, com a finalidade de tornar os contratos anuais e permitir que as famílias pudessem rumar juntas ao estrangeiro.
Durante esses colóquios, conseguiram sensibilizar as autoridades suíças para as problemáticas das crianças portuguesas. Mesmo com o acordo bilateral entre os dois países, não se conseguiu eliminar o estatuto sazonal. Depois do acordo com a União Europeia, em 2001, foram acordadas sete pastas, sendo uma delas sobre a livre circulação de pessoas, que permite que as famílias permaneçam juntas. Hoje, qualquer cidadão da União Europeia pode procurar trabalho na Suíça, durante 6 meses e, se encontrar um posto de trabalho, a comuna é obrigada a pedir um permisso para esse cidadão, sempre assinado pela polícia da emigração. Antes desse acordo, era a própria policia que tratava desses assuntos, o que amedrontava os emigrantes, mas com muita luta, conseguiram criar também a polícia de emigração.
Rogério é um sindicalista. Na altura da sua emigração, a maior parte das pessoas emigradas era analfabeta.
Rogério esclarece-nos relativamente às reformas dos emigrantes. Existem 3 pilares de reformas. O primeiro pilar é o AVS, que é um desconto de 5,15% no salário, em que a entidade patronal faz também um desconto de 5,15% e é acumulado para a altura da reforma aos 65 anos. A reforma só pode ser pedida aos 65 anos ou dois anos antes, chamada de reforma antecipada. Os sindicatos lutaram durante anos para conseguir também a reforma da construção pois o trabalho na construção civil é muito pesado, e então conseguem aos 60 anos uma pensão de 65% do seu último salário e aos 65 recebem a reforma normal.
O segundo pilar é a Pensionskasse (caixa de pensões), também chamados de fundos, e que toda a gente tem direito se receber mais de 22 mil CHF. por ano. Funciona por idades, e passo a explicar; a entidade patronal dá a essa caixa de pensões até aos 25 anos 4% do salário, dos 25 aos 35 anos 7%, dos 35 aos 59 10,7% e a partir daí 22%. Aqui está uma justificação para as pessoas mais velhas não estarem empregadas, pois o custo com elas é muito elevado e a empresa perde muito.
Este segundo pilar tem também a componente da segurança (morte, invalidez e órfãos), ou seja, se a pessoa tiver por exemplo um acidente e não puder trabalhar, recebe uma reforma desse segundo pilar e já não recebe o capital. Se morrer, os filhos e esposa também recebem uma reforma desse segundo pilar. As pessoas que levantam os fundos, depois recebem apenas a reforma AVS.
O terceiro pilar é uma espécie de seguro de vida. O que acontece é que os emigrantes, enquanto estão na Suíça, tentam sempre retirar do segundo de pilar, o dinheiro que precisam para carro, casa, entre outros, fazendo assim umas artimanhas, pois esse dinheiro só se pode receber quando as pessoas deixam a Suíça definitivamente. Muitos sazonais fizeram isso durante muitos anos, levantavam os seus fundos, regressavam aos seus países de origem e passados poucos meses regressavam à Suíça, não tendo noção que com isso estão a dar tiros nos próprios pés, pois quando chegar à altura da reforma, não vão receber do segundo pilar mas apenas a reforma do primeiro. O máximo que cada um pode receber de AVS são 2300 CHF., mas para os receber é preciso trabalhar 45 anos completos. No fim, cada emigrante acaba por receber entre 1200 e 1800 CHF. As pessoas que passam a vida a fazer essas artimanhas, não conseguem receber uma reforma que lhes dê para sobreviver.
A nível de AVS, a reforma é igual para todos, seja qual for a sua profissão, o seguro de pilar é em função do capital acumulado.

Os jardineiros estão em luta para que possam ter a mesma reforma da construção, uma vez que o trabalho também é pesado. O entrave é que a jardinagem não tem contrato colectivo de trabalho, os contratos são individuais, entre trabalhador e entidade empregadora.
O que acontece também nos casais é o que chamam de “Splitting”, em que quando a esposa se reforma, tiram um valor à reforma do marido para acrescentar à dela, para compensar de certa forma o trabalho que tiveram com a educação dos filhos.
Nesta entrevista recordamos o nosso presado amigo Manuel Beja, que já partiu e tanto deu de si não só às comunidades portuguesas, como também a outras. Eram Rogério e Beja que davam as formações em Portugal, juntos dos portugueses e espanhóis. Todos os anos eram enviados para Portugal trabalhadores para fazer o período de Janeiro a Março, dando formações em Espanha e em Portugal, mais concretamente no Porto e em Lisboa. Rogério e Beja eram os sindicatos destacados para o efeito, e acompanhavam a entidade patronal para verificar se as formações estavam a ser administradas nos parâmetros pretendidos.
O emigrante, quando regressa a Portugal, pode fazer um requerimento para isenção de impostos durante algum tempo, segundo uma nova lei, publicada há muito pouco tempo, e por isso ainda confusa para todos os emigrantes.
Rogério foi membro do Conselho do País, organismo criado pelo Estado português, sendo conselheiros para emigração ao embaixador. Fazem uma reunião periódica, a cada 4 meses, para dar informação sobre as problemáticas da emigração. Sendo membro da federação, junto com Manuel Mendes e Beja, eram convocados pelo embaixador para dar opiniões e ideias para melhorar a emigração. Sente-se um político por natureza, e quer fazer politica mais tarde, após a reforma, e pretende candidatar-se como independente, na Guiné-Bissau, para melhorar a terra onde nasceu. Manuel Beja era filiado no Partido comunista português, sendo que os dois debateram muito esta questão. Rogério não concorda em seguir as linhas que os partidos incutem e sim fazer com que os cidadãos tenham melhores condições de vida, independentemente do Partido. Defende que a política partidária não é correcta; para si ser político é defender os interesses das pessoas.
O papel de um embaixador português na suíça, para Rogério, é inexistente.
Para a Guiné, existe uma embaixada na Bélgica, que cobre a Suíça, tendo na Suíça apenas um consulado suíço. Essa embaixada cobre também o Luxemburgo. Uma vez que a Guiné é um país pobre, não tem possibilidade de ter embaixada em todos os países.
Rogério é presidente da Associação Guineense, situada em Genebra.
Hoje em dia, não procuram as associações. As pessoas mais importantes na Suíça, para Rogério, e que lutaram pela comunidade portuguesa são Maria, Manuel Mendes, Manuel Mestre, Joaquim Ribeiro, Vítor Florêncio, Vítor Gil, Dr. Castro, Dr. Loureiro; são pessoas que merecem o nosso respeito. Rogério vai abandonar a Suíça, visitando este país apenas para férias e estar com os filhos e netos, mas sente que vai embora, depois de cumprir a sua missão.
Deixa uma mensagem a todos os emigrantes e a todos os ouvintes, desejando um bom ano de 2019 a todos e que Portugal continue a prosperar, para que as pessoas não necessitem de emigrar. Defende que a emigração é o último caminho, e só se recorre a ela quando o nosso país não nos pode dar aquilo que necessitamos. Depois de sair do seu país, a vida torna-se muito difícil, muitos têm sorte, outros não.
Agradecemos a este grande e ilustre senhor, por ter estado connosco, e por todos os conhecimentos que passou para nós.


Locução Radiofónica: Quelhas,
Alexandre Faria, Rogério Sampaio

Redactor: Patrícia Antunes
Revisão editorial: Sociólogo político
Dr. José Macedo de Barros




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