Um pouco da história das bengalas em Gestaçô, Baião
Toda a
gente sabe o que são bengalas e logo associam as mesmas a um apoio de qualquer
pessoa incapacitada, em caso de acidente ou velhice. Mas pouca gente sabe que
as grandes toneladas de bengalas, feitas em Baião, são comercializadas para
lojas e universidades, na queima das fitas.
As
primeiras oficinas de bengalas surgiram em Gestaçô, Concelho de Baião nos
finais do Séc. XIX. Alexandre Pinto Ribeiro foi o pioneiro, surgindo então, em
1902, a primeira Oficina de bengalas. “O negócio estava a ser rentável e
mais tarde abriram-se mais oficinas!” O Artesão fabricava bengalas e paus
de guarda-chuvas e já naquela altura dava emprego a muita gente, sendo, durante
muitos anos, o ganha-pão das pessoas daquela freguesia. Com a modernização do
tempo, as fábricas começaram a fazer as mesmas peças em plástico, daí começando
a baixar as vendas e hoje existe só três artesãos em Baião. Esta arte de
fabrico manual de bengalas para Tunas, para deficientes e ainda para decoração,
estão em vias de extinção, porque não há seguidores na aprendizagem. No
restante território nacional não existem bengaleiros.
Vou apresentar-vos
um dos sobreviventes deste ramo, no artesanato das bengalas, de seu nome Idalino
da Fonseca Miranda, a esposa Arminda e a Filha Marina; deram-nos a honra de
conhecer este ramo na produção de bengalas. Estiveram connosco em directo,
desde Baião, a mostrar como fazem o seu trabalho, diariamente, e a explicar-nos
o processo de confeccionar bengalas, desde a colheita da matéria-prima até ao
toque final. Miranda é artesão, nomeadamente bengaleiro. Faz este trabalho
desde os 10 anos; portanto, há 47 anos que fazer bengalas é a sua profissão. A
matéria-prima das bengalas é uma árvore chamada Lódão. Estas árvores crescem
junto de águas e terrenos húmidos, preferem os solos ricos do norte de Portugal
e existem principalmente na zona do Rio Douro, nas margens adjacentes a Baião e
Resende. Esta árvore consegue também resistir em solos secos e rochosos, verões
longos e secos. Pode ter uma longevidade entre 200 a 600 anos.
A
altura destas árvores varia dos 15 aos 30 metros. O tronco é robusto e
recto, com a casca cinzenta, quase lisa, sem estrias nem fendas marcadas. A
copa é redonda, com muitos ramos erectos e raminhos finos ligeiramente
pendentes. A floração ocorre entre Março e Maio e o fruto é uma drupa carnuda,
lisa, esférica, rodeada de pelos na base, sendo comestível e doce, de cor roxo
escuro ou quase negro por fora, quando maduro, e o interior é amarelo quando
maduro. A maturação ocorre entre Setembro e Outubro e o fruto permanece na
árvore até ao Inverno. O seu crescimento é lento, pois em dez anos pode crescer
apenas 1,5m, dependendo sempre do solo onde se encontra. Esta espécie pega facilmente
de estaca. É muito usada como árvore ornamental em parques urbanos, jardins e
ruas por causa da sua tolerância à poluição. Cerca de 16% das cerca de 5 mil
árvores existentes na capital portuguesa são desta espécie. É usada para
efeitos medicinais, uma vez que é adstringente.
A sua
madeira flexível, compacta e elástica, é muito apreciada para fazer aros de
barris, remos, esquis, cajados, cabides, janelas, pipas, esqueletos de estudo,
pavimentos, portas, artigos desportivos, entre outros. A madeira também é boa
para queimar e fazer carvão.
A raiz
e o lenho usaram-se em tempos para curtir as peles. Da sua raiz extrai-se ainda
um corante amarelo usado para tingimentos na indústria têxtil.
Bengalas
Há
apenas três artesões em Portugal e estão em extinção
Depois de conhecermos
esta espécie de árvore, vamos ficar a perceber como se desenvolve todo o
processo de confecção das bengalas.
A árvore, depois de ser
cortada, gera muitos rebentos, podendo atingir cerca de 60 ou mais rebentos. Quando
estão na espessura ideal, são cortados para as bengalas, e demoram cerca de 2
anos a estar prontos a colher novamente. Esta madeira é chamada madeira de
Lodo.
A madeira é comprada ao
lavrador e paga à unidade (cada vara tem um preço). No fim de cortada, são
contadas as unidades e pagas à peça. Posteriormente, esses “paus”, como lhe
chama Idalino Miranda, são cortados com uma pequena motosserra, a esposa
apara-os muito bem, e transportam-nos até casa numa carrinha. Já em casa, são
cortados à medida, para depois ser dado o tratamento, até se tornarem numa
bengala. Diariamente corta, em média, 1300 unidades. Quando é um dia bom,
normalmente fazem o transporte das mesmas nesse dia, caso contrário, deixam no
campo e transportam noutro dia, tudo de uma só vez, numa ou em várias cargas.
Depois de cortados à
medida, os lodos são colocados no forno, com a finalidade de remover a casca
que têm por fora. Para acender o forno, muitas vezes usa restos desse mesmo
material ou lodos que são muito tortos e não servem para confeccionar as
bengalas. Utiliza também rama de carqueja, que ajuda a aumentar a combustão e
enxofre para que comece a arder imediatamente. Os lodos ficam no forno, a
aquecer, entre 10 a 15 minutos, e de seguida é retirada a casca, com ajuda de
uma faca, e sempre protegidos com luvas. É mais fácil de manusear o material
para fazer a bengala quando está seco, e não verde.
Após remover a casca,
uma das extremidades dos lodos é colocada dentro de um pote com água a ferver,
para que fique mais maleável, e de seguida são levados a uma máquina, chamada
chapa de vergar, que tem duas formas. Nesta etapa, é dada a forma à bengala. Se
tiver ajuda, consegue dobrar cerca de 2000 por dia.
De seguida, com um
maçarico, o lodo é aquecido, para que possa ser endireitado. Depois de estarem
direitas, são serradas, para que fiquem com o tamanho pretendido, que são cerca
de 90 cm. Posteriormente, lixa-se e faz-se o polimento, para depois fazer a
etapa final que é a coloração, com tinta aguada, que demora cerca de meia hora a
secar.
Quando é necessário,
faz gravuras nas bengalas como desenhos ou frases, com a ajuda de alguns
instrumentos.
As bengalas são
essencialmente comercializadas para as universidades, na queima das fitas. São
fornecidas todas da mesma cor, e depois fazem a coloração de acordo com a cor
da cartola e do curso de cada um.
Cada bengala sai do
armazém de Miranda a um custo de 2€.
Há cerca de 20 anos,
não faziam apenas as bengalas universitárias. Confeccionavam bengalas
trabalhadas, inclusive de senhora, com a pega em T, entre outras.
Miranda não faz
exportações, mas há bengaleiros que fazem.
Idalino Miranda e a sua
esposa Arminda estarão na Suíça no dia 6 de Abril no Clube Amigos da Gandra e
dia 7 no GDCPL Lenzburg – Tertúlia, a festejar connosco o Aniversário da
Revista.
Entrevista:
Quelhas
Revisão
editorial; Sociólogo político
Dr.
José Macedo de Barros
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