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domingo, 28 de abril de 2019

Um pouco da história das bengalas em Gestaçô, Baião - Há apenas três artesões em Portugal e estão em extinção


Arte


Um pouco da história das bengalas em Gestaçô, Baião


Toda a gente sabe o que são bengalas e logo associam as mesmas a um apoio de qualquer pessoa incapacitada, em caso de acidente ou velhice. Mas pouca gente sabe que as grandes toneladas de bengalas, feitas em Baião, são comercializadas para lojas e universidades, na queima das fitas.

As primeiras oficinas de bengalas surgiram em Gestaçô, Concelho de Baião nos finais do Séc. XIX. Alexandre Pinto Ribeiro foi o pioneiro, surgindo então, em 1902, a primeira Oficina de bengalas. “O negócio estava a ser rentável e mais tarde abriram-se mais oficinas!” O Artesão fabricava bengalas e paus de guarda-chuvas e já naquela altura dava emprego a muita gente, sendo, durante muitos anos, o ganha-pão das pessoas daquela freguesia. Com a modernização do tempo, as fábricas começaram a fazer as mesmas peças em plástico, daí começando a baixar as vendas e hoje existe só três artesãos em Baião. Esta arte de fabrico manual de bengalas para Tunas, para deficientes e ainda para decoração, estão em vias de extinção, porque não há seguidores na aprendizagem. No restante território nacional não existem bengaleiros.

Vou apresentar-vos um dos sobreviventes deste ramo, no artesanato das bengalas, de seu nome Idalino da Fonseca Miranda, a esposa Arminda e a Filha Marina; deram-nos a honra de conhecer este ramo na produção de bengalas. Estiveram connosco em directo, desde Baião, a mostrar como fazem o seu trabalho, diariamente, e a explicar-nos o processo de confeccionar bengalas, desde a colheita da matéria-prima até ao toque final. Miranda é artesão, nomeadamente bengaleiro. Faz este trabalho desde os 10 anos; portanto, há 47 anos que fazer bengalas é a sua profissão. A matéria-prima das bengalas é uma árvore chamada Lódão. Estas árvores crescem junto de águas e terrenos húmidos, preferem os solos ricos do norte de Portugal e existem principalmente na zona do Rio Douro, nas margens adjacentes a Baião e Resende. Esta árvore consegue também resistir em solos secos e rochosos, verões longos e secos. Pode ter uma longevidade entre 200 a 600 anos.
A altura destas árvores varia dos 15 aos 30 metros. O tronco é robusto e recto, com a casca cinzenta, quase lisa, sem estrias nem fendas marcadas. A copa é redonda, com muitos ramos erectos e raminhos finos ligeiramente pendentes. A floração ocorre entre Março e Maio e o fruto é uma drupa carnuda, lisa, esférica, rodeada de pelos na base, sendo comestível e doce, de cor roxo escuro ou quase negro por fora, quando maduro, e o interior é amarelo quando maduro. A maturação ocorre entre Setembro e Outubro e o fruto permanece na árvore até ao Inverno. O seu crescimento é lento, pois em dez anos pode crescer apenas 1,5m, dependendo sempre do solo onde se encontra. Esta espécie pega facilmente de estaca. É muito usada como árvore ornamental em parques urbanos, jardins e ruas por causa da sua tolerância à poluição. Cerca de 16% das cerca de 5 mil árvores existentes na capital portuguesa são desta espécie. É usada para efeitos medicinais, uma vez que é adstringente.
A sua madeira flexível, compacta e elástica, é muito apreciada para fazer aros de barris, remos, esquis, cajados, cabides, janelas, pipas, esqueletos de estudo, pavimentos, portas, artigos desportivos, entre outros. A madeira também é boa para queimar e fazer carvão.
A raiz e o lenho usaram-se em tempos para curtir as peles. Da sua raiz extrai-se ainda um corante amarelo usado para tingimentos na indústria têxtil.



Bengalas

Há apenas três artesões em Portugal e estão em extinção


Depois de conhecermos esta espécie de árvore, vamos ficar a perceber como se desenvolve todo o processo de confecção das bengalas.
A árvore, depois de ser cortada, gera muitos rebentos, podendo atingir cerca de 60 ou mais rebentos. Quando estão na espessura ideal, são cortados para as bengalas, e demoram cerca de 2 anos a estar prontos a colher novamente. Esta madeira é chamada madeira de Lodo.
A madeira é comprada ao lavrador e paga à unidade (cada vara tem um preço). No fim de cortada, são contadas as unidades e pagas à peça. Posteriormente, esses “paus”, como lhe chama Idalino Miranda, são cortados com uma pequena motosserra, a esposa apara-os muito bem, e transportam-nos até casa numa carrinha. Já em casa, são cortados à medida, para depois ser dado o tratamento, até se tornarem numa bengala. Diariamente corta, em média, 1300 unidades. Quando é um dia bom, normalmente fazem o transporte das mesmas nesse dia, caso contrário, deixam no campo e transportam noutro dia, tudo de uma só vez, numa ou em várias cargas.
Depois de cortados à medida, os lodos são colocados no forno, com a finalidade de remover a casca que têm por fora. Para acender o forno, muitas vezes usa restos desse mesmo material ou lodos que são muito tortos e não servem para confeccionar as bengalas. Utiliza também rama de carqueja, que ajuda a aumentar a combustão e enxofre para que comece a arder imediatamente. Os lodos ficam no forno, a aquecer, entre 10 a 15 minutos, e de seguida é retirada a casca, com ajuda de uma faca, e sempre protegidos com luvas. É mais fácil de manusear o material para fazer a bengala quando está seco, e não verde.
Após remover a casca, uma das extremidades dos lodos é colocada dentro de um pote com água a ferver, para que fique mais maleável, e de seguida são levados a uma máquina, chamada chapa de vergar, que tem duas formas. Nesta etapa, é dada a forma à bengala. Se tiver ajuda, consegue dobrar cerca de 2000 por dia.
De seguida, com um maçarico, o lodo é aquecido, para que possa ser endireitado. Depois de estarem direitas, são serradas, para que fiquem com o tamanho pretendido, que são cerca de 90 cm. Posteriormente, lixa-se e faz-se o polimento, para depois fazer a etapa final que é a coloração, com tinta aguada, que demora cerca de meia hora a secar.
Quando é necessário, faz gravuras nas bengalas como desenhos ou frases, com a ajuda de alguns instrumentos.
As bengalas são essencialmente comercializadas para as universidades, na queima das fitas. São fornecidas todas da mesma cor, e depois fazem a coloração de acordo com a cor da cartola e do curso de cada um.
Cada bengala sai do armazém de Miranda a um custo de 2€.
Há cerca de 20 anos, não faziam apenas as bengalas universitárias. Confeccionavam bengalas trabalhadas, inclusive de senhora, com a pega em T, entre outras.

Miranda não faz exportações, mas há bengaleiros que fazem.

Idalino Miranda e a sua esposa Arminda estarão na Suíça no dia 6 de Abril no Clube Amigos da Gandra e dia 7 no GDCPL Lenzburg – Tertúlia, a festejar connosco o Aniversário da Revista.

Entrevista: Quelhas
Revisão editorial; Sociólogo político
Dr. José Macedo de Barros




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