Estudei muitos anos no Instituto Pio XI,
colégio de freiras, no subúrbio do Rio de Janeiro
No final das contas, o amor não depende de quão bonito
alguém é, mas até que ponto ele é retratado em seu livro da fantasia (…) - Starobas
Renos
Desde muito cedo, conheci a dor da perda de minha mãe biológica, a
separação de meus irmãos, os maus tratos de minha avó paterna, o descaso das
famílias que não me quiseram e o bullying na escola por ser órfã. Desde muito
cedo conheci, também, que o antídoto para o mal da dor é o amor. Sim, eu fui
abençoada com o amor incondicional de minha mãe adoptiva, Dina, uma freira (que
não usava mais o hábito, mas perseverava na sua fé e amor a Jesus) que me doou
a sua vida, um futuro e, hoje, é o meu Norte. Com ela tomei gosto pela leitura,
pelos idiomas estrangeiros, pela caridade e, principalmente, a ter fé em si e
nos outros. Eu sou Clea Vieira, o quinto filho.
Estudei por muitos anos no Instituto Pio XI, colégio de freiras, no
subúrbio do Rio de Janeiro, no Colégio Pedro II, mas foi no Colégio Miguel
Couto, preparatório para vestibular, que descobri que, independente da carreira
que eu seguisse, eu queria escrever. E esse mea-culpa atribuo a Paulo Supimpa,
professor de Física e Filosofia, que me presenteou com uma de suas Cobras,
Terceira Margem, e, hoje meu amigo, é alguém que me descreve melhor que eu
mesma poderia.
Ele diz que sou “alguém que confia na divindade abstracta,
metafísica, criadora e que, sob tal tutela, nada me derrubará. Grega por opção,
e esse amor põe no meu sangue a Filosofia que me inspira – talvez esteja aí
nossa maior afinidade; somos como uma floresta de letras, tentando encontrar
respostas”.
E que falo do amor pela vida como Belchior e, embora ele fosse convicto
que sou ateniense (eu sou!), reconhece em mim uma espartana, que “escreve
inspirada pela tragédia grega e pelo vento do Mediterrâneo. E que, entender
esse verão interior, fica por conta de quem ousar decifrá-lo, ou correr o risco
de desfrutá-lo. Ama o Presente, e no presente, quer amar. Respeita a
diversidade e espera paz para o futuro, mas para isso, sabe que precisa lutar.
Ainda vou perguntar-lhe: Clea, quais são as suas armas?”; digo-te, Os Amigos!
Pretendia enveredar na zootecnia e cuidar dos cavalos, minha paixão, mas
minha mãe ficou frustrada; acho que ela esperava mais de mim, algo que me
fizesse parecer com ela e, então, fiz três tentativas diferentes; Licenciatura
em Português e Espanhol (fui aprovada para a UERJ, mas eu não queria o óbvio),
Comunicação Social - Editoração em Relações Públicas, passei na UFRJ apenas
para o segundo semestre e desisti por medo da localização - eu poderia explicar
melhor, mas agora eu não sei- e Publicidade - Faculdade Hélio Alonso, também
segundo semestre, mas por ego; eu tinha pontuação para primeiro lugar em
Turismo, e então essa foi minha opção. Porém, fiz apenas um semestre e migrei
para Publicidade! Eu sei, foi patético (risos).
Enfim, e nessa dicotomia, eu tinha-me tornado aluna nota dez em marketing
- e suas especializações:; desportivo, político, cultural etc., Estética -
estudávamos a influência das Artes nos mídia; eu fui destacada nessa matéria
pelo gosto peculiar que demonstrei por Camille Corot, em especial a Obra
"O Vento". No Direito - o que me influenciou na escolha do MBA que
fiz em Segurança Pública e, como era obrigatória escolha de outras matérias,
destaquei-me em Redacção em Revista, Fotografia em Jornal, Produção e Áudio em
RTVC e, pasmem, Radialismo - embora eu tenha feito teste para a Rádio Manchete
AM e não fui aprovada, o que me desanimou noutra tentativa.
A minha experiência em publicidade foi ínfima, confesso. Alguns
trabalhos de criação, onde destaco apenas o tratamento de imagens que fiz para
a exposição "África" no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) e
criação da fachada do restaurante Pirandello, em Ipanema, que eu amei! E quando
Sue Lyon, que interpretou Lolita, faleceu e um amigo me convidou a fazer
tratamento de imagem de fotos do filme para o Jornal do Brasil, que foi uma
honra, pois ele sabia de minha admiração pela Obra.
Porém, a saga continua e lá estava eu em mais um curso de extensão de
Marketing (Digital, agora) e, no intervalo, avistei o edifício do Tribunal de
Justiça do Rio de Janeiro pela janela e disse aos colegas; próxima paragem!
Eles riram. Até eu ri depois; afinal quem iria dar-me uma chance lá, se eu não
era jornalista. Mas a roda da fortuna girou a meu favor. Um dia, entediada no
bureau de Criação, que eu trabalhava em Copacabana, decidi fazer sorteio com as
oportunidades de emprego oferecidas na Faculdade e liguei para o que tinha o
contacto com nome diferente e, voilá, era no Tribunal; porém iria trabalhar na
EMERJ, Escola de Juízes.
Participei da disputa pela vaga com mais 6 candidatas e, segundo o meu
ex-chefe José Tedesco, consegui a vaga pela pergunta inusitada que fiz após ele
indagar se eu tinha alguma dúvida e respondi "sim, quando eu
começo?". Nossa, por essa nem eu esperava (risos).
"Tedesco foi a melhor escola que tive" - eu poderia citar o
Tribunal em si, onde fiz muitos amigos e inimigos "não declarados"
(sim, eu era jovem, bonita, cheia de gás e inteligente! - e isso era uma
afronta para alguns), mas com o meu ex-chefe pude estagiar na empresa
particular dele (a RTT) e as oportunidades foram únicas em minha vida.
O meu primeiro dia foi acompanhando Pedro Bial, jornalista da TV Rede
Globo, mais tarde com trabalhos para a Qantas Airlines, RioTur, campanhas
políticas, Museus etc. Entre muitos trabalhos que tive, a honra de participar
estão no "Prémio AMIL Resgate e Saúde", que ocorreu na torre do Hotel
Le Meridien (atual Hilton) e a entrega do "Prémio Embratel de
Jornalismo" (2001), no Golden Hall do Copacabana Palace - onde conheci
Ronaldo Rosas (jornalista e radialista, que, mais tarde, foi inspiração do meu
projecto final para Edição em Rádio e TV), em 1999, na extinta Rede Manchete.
Mais tarde, reencontramo-nos no Facebook e ele, gentilmente, após eu contar a
minha traumática entrevista para a tal Rádio citada, decidiu ser o meu cicerone
em locução, por um tempo, ministrando aulas particulares na Multi-Rio.
Feitiço; Um dia uma sócia, em agradecimento ao atendimento que lhe dei,
presenteou-me com chocolates suíços
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Acredito eu que o contacto com a justiça me fez querer mais; então,
tomei coragem e aventurei-me em estudar para a Polícia Federal; na época foi-me
oferecida a chance de estudar para todas as polícias, caso eu fizesse MBA em
Segurança Pública - e foi o que fiz. Comecei, então, a trabalhar com o Dr.
Henrique Fernandes (Inspetor da Civil "in memoriam") e sua equipa de
Detectives particulares, por três anos. Mas era muita aventura "com o
crime", para alguém romântica como eu.
Então, como a vida não é um conto de Alice, tampouco a saga do Pequeno
Príncipe, a carreira que nem iniciou, desmotivou-me; retirei, então, tudo do
meu currículo e fui em busca de algo diferente.
Fui parar como assistente administrativa, vestindo terninho e salto alto
de novo, mas agora noutra "Escola"; o Clube dos Caiçaras, no coração
da Lagoa Rodrigo de Freitas. Lá, eu tive a oportunidade de trabalhar em todos
os sectores e conhecer a sua gestão. E, mesmo com as dificuldades laborais, eu
era apaixonada pelo Clube! Um dia, uma sócia em agradecimento ao atendimento
que lhe dei, presenteou-me com chocolates suíços e disse "que você
desfrute deles na Suíça um dia!". "Eu? Na Suíça? Eu quero ir para a
Grécia!" - pensei. Eu fui, mas nas férias do ano passado, com a esperança
de "um dia hei-de regressar".
A Roda girou novamente e vim parar na Suíça!
Aqui, entendi as dores e delícias de ser o Pequeno Príncipe e os surtos
psicóticos de Alice - em que acha que todos são bons e melhores que ela e tenta
se encaixar aqui e ali para ser aceite. Mas, meu lado Anne Frank me ajuda a ver
beleza até na dor e aqui estou, escrevendo aqui e ali sobre coisas que vi, vivi
e senti, sobrevivendo de faxinas e sonhos, apesar do pouco dinheiro. Mas sempre
contando com a ajuda celestial dos amigos - os anjos que Deus insiste em
enviar-me. Logo eu tão errada, tão nada, sou agraciada por almas bondosas, que
vêem em mim algo que eu nunca imaginei, que poderia tornar-me em inspiração,
mesmo fazendo que as minhas Obras sejam inéditas.
Gratidão eterna aos que me permitiram estar aqui contando isso hoje; Sr.
Quelhas e Sr. Ramada (pelo Repórter X e Alma Latina), mas eu nada seria sem Vai,
Arpan, Isaac Derro e Dr. Amit (India), Gabriela, Mattero e Thommas (EUA),
Tatiane, Patricia Freixo, as Cristinas da minha vida, Marcia, Beth, Sylvio,
Durval, Supimpa, Artan, Claudia, Nathan, Edilani, Dina, Guilherme, Flavia,
Marco e Simone Vieira, Marlene, Patrick, Jorge Ohara, Liborio, meus irmãos e
Washington, Tio Elizeu, Zélia, Rogerio, Mauro, Dayse, Murilo, Aécio, Glauce,
meus atuais chefes, inclusive.
Clea Vieira
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