Escola de
vida de um Barman na primeira pessoa
Fernando Leão
Representante Repórter X, França
Colaboração; Catarina Gonçalves
Tinha eu cinco anos de idade, acabava de imigrar
“para fora cá dentro”, da terra que me viu nascer; Freamunde, Paços de
Ferreira, no qual fui obrigado, olhando ao emprego do meu pai (carteiro), que
ficou como efectivo na terra que ainda hoje vivo, que é Rebordosa, Paredes e
pretendo continuar até aos fins da minha vida. Tivemos que nos adaptar a novas
pessoas, novos amigos e a família Lopes em Santa Luzia, (nossos senhorios),
foi a primeira a entrar no nosso coração. Então fomos viver para o
rés-do-chão e logo ficou uma afinidade, porque sentíamos necessidade de nos
ligar a alguém para nos sentirmos mais em casa e desta forma, encontramos
carinho e apoio que necessitávamos e foi uma forma de nos sentirmos mais
amparados.
Aos poucos fui frequentando a casa comercial
Lopes, casa farta com mercearia, tasca, café́, casa de pasto e também uma
pequena fabrica de móveis. Então fui de pequenino acompanhando todas as lides
desta Grande casa na altura: ajudar na cozinha a descascar batatas, por a mesa
para as diárias que se serviam, principalmente aos trabalhadores, depois
arrumar e limpar, no café́ tirava cafés, servia as bebidas, lavava a loiça,
fazia a limpeza geral no bar. Recebia e dava trocos aos clientes, pois a Sra.
Tina já́ fazia confiança em mim, sendo eu uma criança, mas felizmente já tinha
bons valores, porque esta senhora e seu marido, o Sr. Lopes, fizeram de mim, um
Homem para a vida comercial e pessoal (bem como os meus queridos pais, foram
um complemento reforçando a Humildade e seriedade, diziam eles que eram os
melhores valores para chegarmos bem longe, com essa boa escola de vida).
Todos esses valores foi um bom início para a minha vida de
restauração/cafeteria, que ainda hoje continuo a trabalhar no mesmo ramo (apesar
de uma interrupção de 8 anos como empregado de escritório, mas não era com isso
que eu me identificava). Tenho um episódio que nunca irei esquecer e foi
marcante para toda a minha vida. A Sra. Tina tinha o hábito de ficar com moedas
que viriam a sair de circulação, para dar umas quantas a cada e filho e netos.
Então eu também queria ter uma dessas moedas (eram de 1 escudo e 50
centavos, diziam que eram de prata, penso eu), então eu tirei uma de cada
para mim.
Resultado; a Sra. Tina veio ter comigo e
perguntou-me por aquelas duas moedas que faltavam na gaveta (naquele tempo
em gavetas de madeira, não tão sofisticada como nos dias de hoje),
disse-lhe que tinha pegado numa de cada para mim. Então disse-me textualmente:
- Sabes Nandinho, o que tu fizeste,
inconscientemente pensas-te que não tinha mal algum, mas sim tem mal e sabes
porquê?
Isso pôde-se considerar um roubo. Eu sei que a
tua intenção eras das melhores, mas não. Que te sirva de Lição, sempre que
quiseres alguma coisa, não pegues, pede-me que eu dou-te. Assim sendo estás a
ser um Homem sério para a nossa sociedade e verás que vais ser sempre um Homem
de muito respeito e não precisas de ser rico. Hoje posso dizer que foi uma
grande Lição de vida para mim. Como diz o provérbio popular; «Não quero ser
um homem rico, mas sim um rico homem». Sinto um grade orgulho em conhecer
esta Grande Senhora Dona Albertina e seu marido António Lopes, porque toda esta
escola que me incutiram e com a dos meus queridos pais, posso dizer que cheguei
a um dos mais altos patamares da vida, os bens materiais não são os melhores,
os morais são os mais importantes. E para rematar esta história verídica, uma
pessoa que esteja à frente de um balcão, tem que adquirir este grande curso de
vida, para saber estar e sobretudo ter bastante psicologia, para saber lidar
com todo o tipo de pessoas.
Disse-me um dia um Senhor:
- O Sr. Fernando tem uma grande psicologia para
além da média, porque podem estar aqui ao redor do balcão17 pessoas e ele
consegue ir ao encontro de cada um e adapta-se a forma de ser de cada um deles.
Nós barman´s somos mais uns confidentes que propriamente empregados de balcão,
porque para funcionar bem, principalmente com pessoas alcoolizadas, nós temos
que ter essa psicologia para saber gerir tudo isso, para que tudo corra pelo
melhor para que não haja confusão. Há́ pessoas que se refugiam nos bares, quando
têm problema familiar, seja com os filhos ou com a sua mulher ou mesmo
problemas financeiros, eles procuram alguém que os saiba ouvir e saibam
guardar. Quantas vezes uma pessoa desabafa que tal pessoa que lhe fez isto ou
aquilo e vem a outra de seguida dizer o mesmo da mesma. O que temos que fazer
é ouvir ambos os lados e deitar água na fervura para que as coisas não se
compliquem.
No nosso tempo, não haviam telemóveis,
telefonavam para combinarem certas saídas e se nós fôssemos pessoas de
confusões, tínhamos estragado muitos lares e felizmente vivem muito felizes,
porque um Homem sabendo ocupar o seu lugar é uma grande virtude. O maior
orgulho que eu posso ter nesta vida amargurada e difícil, nunca tive alguém que
viesse ter comigo a dizer que eu criei qualquer tipo de confusão, seja com quem
for. Por isso a grande escola de vida que cultivei com os meus pais mais e a
dos meus segundos pais, fizeram de mim o Homem que ainda hoje sou humilde,
Generoso e educado para com a nossa sociedade.
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