TRABALHO, NÃO ESMOLA —
Vive sempre com DIGNIDADE
Revista Repórter X
Por Quelhas
No
coração de um dos países mais ricos da Europa, um trabalhador português
enfrenta o labirinto cruel das instituições helvéticas. Carrega no corpo a
marca de um transplante renal, mas
também a força interior de quem nunca virou
a cara ao trabalho.
Hoje,
labora em regime temporário numa gráfica,
ambiente duro, extenuante, fisicamente incompatível com a sua condição.
Trabalha durante alguns meses, e noutros vê-se forçado a permanecer em casa por
falta de ocupação. Durante esse tempo, subsiste com o apoio da RAV, onde está legalmente inscrito para
receber os subsídios de desemprego sempre que o trabalho escasseia.
Agora,
faltam-lhe apenas alguns dias para esse apoio terminar.
Dizem-lhe
que os seus direitos chegaram ao fim. Alegam que, apesar de não ter ainda cumprido dois anos de apoio, os
pagamentos mensais foram “mais elevados”, e por isso o Fundo-desemprego foi antecipadamente esgotado. Ignoram,
porém, que trabalhou vários meses nesse
período, com os devidos descontos
para o seguro feitos pelo empregador, o que, pela lógica da justiça e
da legalidade, deveria prolongar o tempo
de direito ao subsídio.
Mas
não se trata de alguém que perdeu o emprego. Trata-se de alguém que sempre quis
manter-se ligado ao mundo laboral, mesmo
em condições precárias e sob risco para a saúde. O seu objectivo é
claro e digno: abandonar o trabalho
temporário e a gráfica, que respeita mas já não pode suportar, e
conseguir um trabalho adaptado,
com carga horária entre 50% e 100%,
onde possa continuar a contribuir de
forma íntegra, útil e diária.
O
sistema suíço, porém, responde com frieza.
Ele identificou na Fundação Wisli
uma possível oportunidade de emprego compatível com a sua saúde. Mas, para ali
trabalhar, dizem-lhe que tem de estar no
IV (invalidez), mesmo estando apto
e disposto a trabalhar. Para receber algum tipo de apoio, apontam-lhe
a assistência social (Sozialhilfe).
Uma teia institucional que, em vez de abrir caminhos, empurra para o abismo da exclusão e do carimbo da inutilidade.
Mas
ele não quer IV.
Não quer Sozialhilfe.
Não quer RAV.
Quer
apenas um posto de trabalho digno e
compatível com a sua condição física.
Quer um futuro, não um subsídio.
A Revista Repórter X denuncia, com veemência, o desrespeito pelas
contribuições legítimas feitas ao sistema por este trabalhador. Denuncia o
absurdo de empurrar alguém para a reforma antecipada por invalidez, quando esse
alguém ainda pode, quer e precisa de
trabalhar.
Exigimos
das autoridades cantonais e federais, da RAV
de Bülach, da UNIA, do SECO, e da Fundação Wisli, uma
resposta transparente, justa e humana.
Porque
um sistema que destrata quem quer
trabalhar não é sistema de progresso, mas sim instrumento de controlo e
exclusão.
O
caso de Mário do Carmo não é
isolado.
Mas é exemplo. É símbolo. É grito.
E
por isso não ficará calado.
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