O polvo do 2.º pilar: uma família de Zurique mergulha na confusão do sistema suíço de pensões
Um cidadão residente no cantão de Zurique decidiu tomar a iniciativa de clarificar os direitos acumulados nos regimes de pensões profissionais (o chamado 2.º pilar) tanto seus como dos membros da sua família. O pedido, feito por escrito ao organismo nacional encarregado de centralizar as informações do sistema – a Zentralstelle 2. Säule – Sicherheitsfonds BVG, sediada em Berna – teve como resposta quatro cartas diferentes, cada uma remetendo o cidadão a contactar outras instituições dispersas pelo país: Tellco pk, Swiss Life, AXA e a Stiftung Auffangeinrichtung BVG.
O objectivo era simples: reunir, de forma clara e centralizada, os saldos e créditos existentes nas contas de previdência profissional de cada elemento da família, uma vez que todos trabalharam em diferentes empresas e acumularam descontos ao longo dos anos. A resposta, no entanto, revelou a verdadeira natureza do sistema: fragmentado, desarticulado e impermeável à lógica do serviço ao cidadão.
“A impressão que se tem é a de um polvo institucional, com mil tentáculos e nenhuma cabeça visível. Ninguém sabe ao certo onde estão os nossos descontos. E tudo parece feito para nos cansar”, desabafa o cidadão que, por razões de segurança, opta por manter o anonimato.
O mais preocupante é que este cenário não é exceção, mas antes regra. A Suíça orgulha-se de uma suposta eficiência, mas a realidade burocrática do 2.º pilar é outra. Não existe um único organismo responsável por emitir um extrato completo e histórico dos direitos acumulados. Cada instituição gere apenas o que lhe pertence, e cabe ao cidadão descobrir onde andaram os seus descontos, como se procurasse agulhas em diferentes palheiros.
“Queremos poder sair da Suíça sem perder direitos, saber o que temos, onde está, e poder movimentar os nossos fundos com dignidade e clareza”, afirma ainda o cidadão, que enviou agora cartas formais às quatro entidades indicadas pela Zentralstelle, exigindo respostas detalhadas.
Este é mais um caso a somar-se aos muitos que a Revista Repórter X tem vindo a recolher e a documentar. Casos de um país onde os sistemas se multiplicam, os centros se perdem, e os direitos se diluem entre a papelada institucional e o silêncio técnico das caixas postais.
Sem comentários:
Enviar um comentário