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sexta-feira, 21 de novembro de 2025

A sina; uma sombra antiga e um futuro por nascer enquanto não aplicarem a lei da escola obrigatória aos ciganos

A sina; uma sombra antiga e um futuro por nascer enquanto não aplicarem a lei da escola obrigatória aos ciganos:


Aqui está a minha visão sobre o que vejo, o que vivi em comunhão, o que ouço e os vossos testemunhos recebidos, sob estudos feitos a uma etnia mal integrada em todo o mundo por culpa das ideias dos velhos enraizadas na sua cultura popular. Foi um estudo da revista Repórter X inteiro, profundo, extenso, com todas as ideias que conseguimos, sem tirar nada, apenas organizadas com verdade. São vários testemunhos de fôlego, como a ideia que tínhamos. Tudo o que disseram está aqui descrito sem atenuar, sem suavizar, sem trocar uma verdade por uma frase bonita. Mantivemos uma linha, a nossa e a vossa visão, sobretudo a exigência.

A sina, a raiz antiga e o confronto de hoje, um povo que caminha entre sombras e portas abertas, só depende deles...

Portugal guarda na sua memória o encontro longo e tenso com o povo cigano, encontro feito de séculos, de lutas, de medos, de gestos desconfiados e de caminhos que quase nunca se cruzaram da forma certa. Para compreender esta história, não basta olhar para uma só verdade, é preciso encarar todas, as que vêm do passado e as que se levantam diante dos nossos olhos hoje, sem medo, sem florear, sem esconder.

A origem, um povo vindo de longe:

Os ciganos nasceram na Índia, nas terras antigas do Punjab e do Rajastão. Partiram há quase mil anos, fugindo de invasões e fomes, carregando uma língua própria, uma estrutura familiar rígida, uma visão do mundo que nenhum outro povo da Europa conhecia. Percorreram a Pérsia, a Arménia, a Grécia e os Balcãs. Chegaram à Europa medieval quando o continente vivia entre a guerra e a superstição. Atravessaram a Península Ibérica e entraram em Portugal no século quinze, como artesãos, ferreiros, músicos e nómadas que não plantavam raízes.

Desde então caminham connosco, mas sempre na margem. Nunca desapareceram, nunca se misturaram, nunca se renderam ao ritmo do país. E essa distância, que vem do princípio, moldou tudo o que se seguiu.

A escola que esteve sempre aberta:

Uma verdade tem de ser dita com voz firme. Portugal não fechou a escola aos ciganos. Nunca. Ao contrário do que se repete em discursos fáceis, as portas estavam abertas, as salas esperavam, os livros estavam lá. O que muitas vezes fechou o caminho foram os próprios velhos da comunidade, agarrados a tradições rígidas que já não servem a dignidade de ninguém. Eram eles que impediam os jovens de estudar, que proibiam as raparigas de seguir a escola, que exigiam casamentos precoces, que mantinham o futuro debaixo de um manto escuro e pesado.

A escola não falhou. Falhou a vontade interna de mudar. Falhou a coragem de romper com hábitos antigos que seguravam as crianças no século passado. Esta verdade tem de ser dita com clareza, porque sem ela tudo o resto fica torto.

Os conflitos do presente, a razão pela qual a sociedade fecha portas:

Hoje, quando olhamos para o país real, para as ruas, para os bairros, para as feiras e para os cruzamentos da vida, vemos uma segunda verdade, que não pode ser apagada nem disfarçada.

A sociedade portuguesa rejeita muitos ciganos porque cerca de noventa por cento não trabalham. Apenas uma pequena parte, dez por cento, entra no emprego comum, paga impostos, segue o ritmo normal da vida laboral. A larga maioria vive de apoios sociais, não porque perdeu o trabalho, mas porque nunca entrou no trabalho para começar.

E este é o ponto onde a tensão se ergue. Há grupos que vivem do contrabando, dos contrafeitos, dos furtos, dos roubos na rua, dos conflitos que estalam sem aviso. Há confrontos, há ameaças, há violência, há mortes. Há zonas onde a lei é ignorada e substituída pela força. Tudo isto é realidade, tudo isto acontece, tudo isto pesa no coração do país.

E precisa de ser dito, porque esconder só alimenta o problema.

A exclusão que veio do Estado, mas não da escola:

O Estado português, ao longo dos séculos, empurrou os ciganos para as margens, não através da escola, mas através da vigilância, de expulsões, de repressões e de leis duras que duraram séculos. Esse peso histórico deixou marcas profundas, gerou pobreza extrema, criou dependência, afastou gerações do centro da vida social.

Mas essa história não explica tudo. Explica o ferimento, não explica o presente. Explica a dor, não explica os comportamentos que hoje agravam a rejeição. E é aqui que as duas verdades se encontram sem se anularem.

A responsabilidade que vem de dentro e a responsabilidade que vem de fora:

Portugal tem responsabilidade no abandono histórico. Mas a comunidade cigana também tem responsabilidade na rigidez que manteve e no rumo que escolheu em muitos dos seus gestos.

A mudança só nasce quando o Estado exigir o que tem de exigir, quando proteger as crianças, quando impedir casamentos infantis, quando impuser a escola obrigatória, quando garantir autoridade firme e justa. Mas também só nasce quando a comunidade decidir largar hábitos velhos que já não servem, quando escolher o trabalho em vez do subsídio, quando aceitar a lei em vez da força, quando abrir espaço para que os seus jovens vivam o século vinte e um como cidadãos inteiros.

O país diante do espelho:

Portugal precisa de olhar esta realidade sem romantismo e sem ódio, com firmeza e com justiça. A escola não fechou portas, a sociedade fechou algumas, sim, mas fechou-as por medo, por desordem, por delitos repetidos, por confrontos que nunca deviam acontecer. Isto é verdade. E a verdade tem de ser dita como uma lâmina, não como uma almofada.

Mas também é verdade que nenhum povo muda sem ajuda, sem exigência, sem oportunidade e sem lei. E nenhum povo se ergue sozinho depois de séculos a viver esmagado nas margens.

A verdade inteira:

O que é certo é isto, e está aqui inteiro com a verdade crua:

A escola esteve sempre aberta.
Foram os velhos ciganos que impediram os jovens de entrar.
A maioria não trabalha.
A maioria vive de subsídios.
Há contrabando, há contrafeitos, há delitos, há violência.
Há medo nas ruas.
Há portas que se fecham.
E há também uma origem antiga, uma viagem milenar e uma história que não se apaga.
E há um país que só será maior quando disser tudo isto de frente.

A etnia cigana pode ter oportunidades quando o governo obrigar perante a lei a que se cultivem, a começar na escola, para construir um futuro melhor e poderem ter empregos com igualdade de direitos.

Quelhas, director revista repórter X

Revista Repórter X Editora Schweiz Oficial

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