Chegou à redacção da Revista Repórter X uma notícia sobre o hospital de Bülach:
No hospital de Bülach, no cantão de Zurique, nasceu um modelo de trabalho que está a transformar de forma profunda a vida das equipas de enfermagem. Onde antes havia cansaço, rotatividade e incerteza, ergueu-se agora uma organização capaz de devolver ordem ao caos, serenidade ao quotidiano e dignidade a uma profissão tantas vezes esquecida nas decisões dos gabinetes. Esta mudança não caiu do céu, foi construída com paciência, escuta e coragem, e hoje serve de exemplo a todo o país.
Quando Manuel Portmann assumiu a direcção dos recursos humanos, encontrou uma casa como tantas outras, marcada pela falta de pessoal, pelos custos elevados com temporários e por um desgaste constante que parecia não ter remédio. As equipas viviam entre turnos imprevisíveis, noites sucessivas, faltas inevitáveis e um sentimento de que o sistema já não conseguia acompanhar a vida real das pessoas. Portmann, que conhecia de experiências passadas o poder de um horário justo, recuperou um modelo antigo que tinha aplicado décadas antes e moldou-o com sabedoria à realidade hospitalar.
Hoje, em Bülach, a enfermagem funciona segundo quatro graus de flexibilidade, que vão do “fixo” ao “superflexível”. O salário base é igual para todos, mas os subsídios variam de zero a trezentos e cinquenta francos mensais, reconhecendo o esforço de quem assume noites e maior disponibilidade. Quem trabalha com contrato fixo tem dias estáveis e não entra em nocturnos, quem escolhe o grau superflexível aceita mais noites, mais chamadas e mais responsabilidade. Esta divisão não separa, pelo contrário, permite que cada vida se alinhe ao seu tempo, que cada pessoa encontre um ritmo possível sem sacrificar a saúde nem a família.
O impacto foi imediato. A rotatividade, que rondava dezoito por cento, caiu para cinco. Os antigos oitocentos e cinquenta pedidos anuais de temporários reduziram-se a trinta. As camas já não ficam vazias por falta de cuidadores e o hospital tornou-se um lugar atraente para trabalhar. A força desta renovação está na liberdade de escolha, pois a cada três meses cada profissional decide em que nível quer trabalhar, conforme a sua vida, a sua energia e as suas necessidades.
Enquanto isso, no país, avança a iniciativa de apoio à enfermagem, que tem levado profissionais às ruas de Berna em busca de reconhecimento. Mas em Bülach, prova-se que as soluções podem nascer dentro de cada instituição, desde que haja vontade real de escutar e de construir algo melhor. A estabilidade conquistada mostra que as reformas não precisam de ser imposições rígidas iguais para todos, mas sim caminhos desenhados conforme a realidade de cada casa.
O modelo chamou a atenção de outros sectores que também vivem o ritmo de vinte e quatro horas por dia, de aeroportos a unidades prisionais, de fábricas a resorts de luxo. Todos querem saber como um método simples e humano conseguiu transformar um serviço inteiro, reduzir baixas, eliminar a dependência de temporários e ainda gerar saldo positivo no balanço anual, mesmo com o pagamento de subsídios adicionais. O segredo parece residir na confiança, na clareza e no respeito pela vida de quem trabalha.
A mudança, fortalecida pelos bons resultados, prepara-se agora para avançar além da enfermagem. Obstetrícia e radiologia serão as próximas áreas a adoptar o modelo, ampliando um movimento que devolve ao futuro a promessa que o tempo parecia ter apagado. Em Bülach, onde outrora reinava a inquietação, abre-se agora um horizonte firme, guiado pela ideia de que cuidar dos cuidadores é a única forma de garantir um amanhã mais justo.
Revista Repórter X Editora Schweiz Oficial

Sem comentários:
Enviar um comentário