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sábado, 23 de setembro de 2023

MEMÓRIA; LUÍS ALELUIA, ATÉ SEMPE

Orlando Fernandes,  jornalista, colaborador Revista Repórter X 2021 / 2023




MEMÓRIA; LUÍS ALELUIA, ATÉ SEMPE

 

Sem pré-aviso claro, Luís Aleluia, de 63 anos, o eterno e icónico “Menino Tonecas”, decidiu pôr termo à vida, na garagem da sua casa, no passado dia 23. A autópsia revelará as causas da morte e eventualmente outras situações que ultrapassam a decisão mais dolorosa para um ser humano – a de acabar com a sua própria vida. Poucas horas antes de partir, escreveu no seu Facebook:

“A memória de nós são pedaços da gente que se colam no coração dos que amamos. Façam o favor de ser felizes.” Ninguém percebeu que era uma despedida.

A mulher, Zita Favretto, e os filhos, José e João, estão em dor profunda pela sua partida fora do tempo, tal como os colegas. Noémia Costa terá sido a última pessoa que falou com Aleluia em vida. A atriz tornou pública a sua “dor enorme”, garante que não consegue dormir com os pensamentos que a têm assaltado e, de alguma forma, culpabiliza-se por não ter ajudado o amigo.

No programa Casa Feliz, SIC Noémia deu testemunho da dor que está a viver e revelou pormenores sobre os últimos momentos de vida do ator, com quem contracena em Patrões Fora, a sitcom da SIC:

“Éramos aqueles irmãos do corarão que a vida dá. Conheci muito bem o Luís e com ele chego à conclusão de que nunca conhecemos, muito bem, alguém. Não sabemos o que vai dentro da mente. Questiono-me porque é que ele não me pediu ajuda. Fui a última pessoa com quem falou, mas ele não disse. Porque é que não gritou por socorro?”

Prestes a começar as gravações da próxima novela da SIC, com nome provisório de Preço de Fama, que versa sobre os dramas do teatro e que também será gravada no Parque Mayer, a catedral dos artistas, em Lisboa, a atriz está em choque.

“Questiono-me só por isso, porque sentimo-nos tão impotentes. Achamos sempre que podíamos fazer alguma coisa e acabamos por não conseguir fazer nada.” Momentos antes do ator ter posto fim à vida, os dois trocaram mensagens: “Percebi logo que havia qualquer coisa que não estava muito bem, mas depois das mensagens que fomos trocando, no fim, o Luís liga. E porque é que eu não percebi aí?”

O homem que arrancou sorrisos a várias gerações e que foi coprotagonista com José Morais e Castro do fenómeno televisivo As Lições do Tonecas, RTP 1, avançou, no Alta Definição, da SIC, em 2018, sinais das mágoas do passado que ainda o feriam. O ator recordou a sua infância difícil.

Revelou ter sabido da morte do pai com tuberculose por telegrama. Confessou a violência doméstica às mãos de um padrasto alcoólico. E recordou a importante da sua passagem pela Casa do Gaiato, em Setúbal, onde entrou aos 9 anos, para depois ser resgatado pela mãe, aos 16.

“Não sou amargo perante os outros, mas sou amargo por dentro. Sou uma pessoa triste, ao contrário do que as pessoas pensam”, reconheceu neste magazine, em que falou também da paixão de ser ator e da gratidão que sentia pelo público que enche uma sala: “Posso ser feliz, agora trago dentro de mim uma mágoa.”

A questão sobre o que diria se lhe pedissem para escrever uma frase para ser lida 50 anos mais tarde, Luís Aleluia foi lapidar: “Fiz o que pude.”

Foi relembrada agora cedo demais.

Zita Favretto, a mulher, tornou pública a sua consternação:


“Luizinho, estou sem chão! O meu grande amor preferiu partir mais cedo…Não estou de acordo! Mas só me resta aceitar a tua última vontade. Que Deus te guarde lá no céu, como eu te guardarei sempre no meu coração. Hoje partiu um homem bom, como conheci muito poucos…descansa em paz, meu amado. Até sempre. Vou tentar dar mais aos nossos meninos tudo o que sempre desejámos e tentarei fazer deles uns bons seres humanos. O teu bom exemplo vai ajudar-me, certamente. Amo-te e amar-te-ei sempre! Havemos de nos encontrar um dia.”

 

Orlando Fernandes

jornalista

 

Revista Repórter X Editora Schweiz Oficial

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