MEMÓRIA; LUÍS ALELUIA, ATÉ SEMPE
Sem pré-aviso claro,
Luís Aleluia, de 63 anos, o eterno e icónico “Menino Tonecas”, decidiu
pôr termo à vida, na garagem da sua casa, no passado dia 23. A autópsia
revelará as causas da morte e eventualmente outras situações que ultrapassam a
decisão mais dolorosa para um ser humano – a de acabar com a sua própria vida.
Poucas horas antes de partir, escreveu no seu Facebook:
“A memória de nós são pedaços da gente que se colam no coração dos que
amamos. Façam o favor de ser felizes.” Ninguém percebeu que era uma despedida.
A mulher, Zita Favretto,
e os filhos, José e João, estão em dor profunda pela sua partida fora do tempo,
tal como os colegas. Noémia Costa terá sido a última pessoa que falou com
Aleluia em vida. A atriz tornou pública a sua “dor enorme”,
garante que não consegue dormir com os pensamentos que a têm assaltado e, de
alguma forma, culpabiliza-se por não ter ajudado o amigo.
No programa Casa Feliz,
SIC Noémia deu testemunho da dor que está a viver e revelou pormenores sobre os
últimos momentos de vida do ator, com quem contracena em Patrões Fora, a sitcom
da SIC:
“Éramos aqueles irmãos do corarão que a vida dá. Conheci muito bem o Luís e
com ele chego à conclusão de que nunca conhecemos, muito bem, alguém. Não
sabemos o que vai dentro da mente. Questiono-me porque é que ele não me pediu
ajuda. Fui a última pessoa com quem falou, mas ele não disse. Porque é que não
gritou por socorro?”
Prestes a começar as
gravações da próxima novela da SIC, com nome provisório de Preço de Fama, que
versa sobre os dramas do teatro e que também será gravada no Parque Mayer, a
catedral dos artistas, em Lisboa, a atriz está em choque.
“Questiono-me só por isso, porque sentimo-nos tão impotentes. Achamos
sempre que podíamos fazer alguma coisa e acabamos por não conseguir fazer
nada.” Momentos antes do ator
ter posto fim à vida, os dois trocaram mensagens: “Percebi logo que havia
qualquer coisa que não estava muito bem, mas depois das mensagens que fomos
trocando, no fim, o Luís liga. E porque é que eu não percebi aí?”
O homem que arrancou
sorrisos a várias gerações e que foi coprotagonista com José Morais e Castro do
fenómeno televisivo As Lições do Tonecas, RTP 1, avançou, no Alta Definição, da
SIC, em 2018, sinais das mágoas do passado que ainda o feriam. O ator recordou
a sua infância difícil.
Revelou ter sabido da
morte do pai com tuberculose por telegrama. Confessou a violência doméstica às
mãos de um padrasto alcoólico. E recordou a importante da sua passagem pela
Casa do Gaiato, em Setúbal, onde entrou aos 9 anos, para depois ser resgatado
pela mãe, aos 16.
“Não sou amargo perante os outros, mas sou amargo por dentro. Sou uma
pessoa triste, ao contrário do que as pessoas pensam”, reconheceu neste magazine, em que falou também da
paixão de ser ator e da gratidão que sentia pelo público que enche uma sala:
“Posso ser feliz, agora trago dentro de mim uma mágoa.”
A questão sobre o que
diria se lhe pedissem para escrever uma frase para ser lida 50 anos mais tarde,
Luís Aleluia foi lapidar: “Fiz o que pude.”
Foi relembrada agora
cedo demais.
Zita Favretto, a mulher, tornou pública a sua consternação:
Orlando Fernandes
jornalista
Sem comentários:
Enviar um comentário