Número total de visualizações de páginas

Traductor de Português para outras línguas

quinta-feira, 8 de agosto de 2024

MULHERES, BRUXAS E A HISTÓRIA DA CERVEJA

MULHERES, BRUXAS E A HISTÓRIA DA CERVEJA

 

Por José Rafael Trindade Reis

 


Se pensares no termo “mestre-cervejeiro”, muito provavelmente virá à tua mente a figura de um homem de bigode, loiro, um pouco acima do peso, vestido com um traje típico de tirolês a segurar numa bela caneca de cerveja carregada de espuma. Talvez, para a geração Z, a imagem seja de um homem, de barba longa, vestido com uma camisa de flanela xadrez.

Em ambos os casos, a figura imaginada é masculina. Contudo, a produção de cerveja e a masculinidade é uma combinação recente na história da civilização humana. Na antiguidade e idade média, uma boa parte da produção cervejeira era feita pelas mulheres.

Na antiga civilização da Suméria, nos primórdios da civilização, a divindade a que se atribuía o milagre da produção da cerveja era feminina e chamava-se Ninkasi. Isso acabava por refletir a divisão do trabalho naquela época, os homens eram caçadores, e as mulheres cuidavam da plantação de cereais e, consequentemente, da produção da bebida fermentada.

Na Idade Média, mulheres que faziam cerveja eram conhecidas como “alewives” (o termo “brewster” também pode ser encontrado). Algumas eram viúvas, ou mulheres que nunca se casaram e que tinham os seus próprios negócios cervejeiros. Outras faziam cerveja em parceria com os maridos. Sem esquecer as que faziam cerveja em casa, como parte das tarefas do seu lar.

Algumas fontes sugerem que a iconografia das bruxas que conhecemos hoje em dia (chapéu pontiagudo, vassoura, gato preto) é proveniente dessas cervejeiras medievais. Porém, uma pesquisa mais aprofundada revela que esses ícones não vieram diretamente das cervejeiras, mas também de outras imagens e fontes associadas à bruxaria.

O que se tem em concordância é que muitas mulheres cervejeiras foram acusadas de bruxaria, e até executadas, por uma questão económica e de competição comercial. Assim, de forma gradual, a posse dos meios de produção de cerveja foi passando das mulheres para os homens, até se consolidar de vez na Revolução Industrial, como se pode observar nesta matéria.

Nos dias atuais, os cargos em cervejeiras, e o mercado cervejeiro de uma maneira geral, ainda é maioritariamente masculino. Porém, a participação feminina tem aumentado nos últimos anos, voltando à antiga tradição das mulheres no cenário cervejeiro. Exemplo disso, é a nossa mestre-cervejeira da Nortada!

Sempre que estiveres a beber a tua cerveja bem fresca, lembra-te de todas as cervejeiras da história que ajudaram a moldar a cultura e tradição da nossa tão adorada bebida!

Saúde a todas elas!

 

Vítor Hugo Meirelles – Beer Sommelier.

 


Revista Repórter X Editora Schweiz Oficial

Sem comentários: