MULHERES, BRUXAS E A HISTÓRIA DA CERVEJA
Por José Rafael Trindade Reis
Se pensares no termo
“mestre-cervejeiro”, muito provavelmente virá à tua mente a figura de um homem
de bigode, loiro, um pouco acima do peso, vestido com um traje típico de
tirolês a segurar numa bela caneca de cerveja carregada de espuma. Talvez, para
a geração Z, a imagem seja de um homem, de barba longa, vestido com uma camisa
de flanela xadrez.
Em ambos os casos, a figura
imaginada é masculina. Contudo, a produção de cerveja e a masculinidade é uma
combinação recente na história da civilização humana. Na antiguidade e idade
média, uma boa parte da produção cervejeira era feita pelas mulheres.
Na antiga civilização da Suméria,
nos primórdios da civilização, a divindade a que se atribuía o milagre da
produção da cerveja era feminina e chamava-se Ninkasi. Isso acabava por
refletir a divisão do trabalho naquela época, os homens eram caçadores, e as
mulheres cuidavam da plantação de cereais e, consequentemente, da produção da
bebida fermentada.
Na Idade Média, mulheres que faziam
cerveja eram conhecidas como “alewives” (o termo “brewster” também pode ser
encontrado). Algumas eram viúvas, ou mulheres que nunca se casaram e que tinham
os seus próprios negócios cervejeiros. Outras faziam cerveja em parceria com os
maridos. Sem esquecer as que faziam cerveja em casa, como parte das tarefas do
seu lar.
Algumas fontes sugerem que a
iconografia das bruxas que conhecemos hoje em dia (chapéu pontiagudo, vassoura,
gato preto) é proveniente dessas cervejeiras medievais. Porém, uma pesquisa
mais aprofundada revela que esses ícones não vieram diretamente das cervejeiras,
mas também de outras imagens e fontes associadas à bruxaria.
O que se tem em concordância é que
muitas mulheres cervejeiras foram acusadas de bruxaria, e até executadas, por
uma questão económica e de competição comercial. Assim, de forma gradual, a
posse dos meios de produção de cerveja foi passando das mulheres para os
homens, até se consolidar de vez na Revolução Industrial, como se pode observar
nesta matéria.
Nos dias atuais, os cargos em
cervejeiras, e o mercado cervejeiro de uma maneira geral, ainda é
maioritariamente masculino. Porém, a participação feminina tem aumentado nos
últimos anos, voltando à antiga tradição das mulheres no cenário cervejeiro.
Exemplo disso, é a nossa mestre-cervejeira da Nortada!
Sempre que estiveres a beber a tua
cerveja bem fresca, lembra-te de todas as cervejeiras da história que ajudaram
a moldar a cultura e tradição da nossa tão adorada bebida!
Saúde a todas elas!
Vítor Hugo Meirelles – Beer
Sommelier.
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