FOGO
NO MATAGAL...
Do
alto do seu sétimo andar, fazendo uso dos binóculos com que, habitualmente,
mirava os namorados nas dunas, Miguel assistia ao incêndio que, naquele
momento, lavrava a pouco mais de quinhentos metros do seu prédio.
As
chamas avançavam tão rapidamente que, por instantes, lhe deu a impressão de ser
o governo a queimar os nossos impostos; Mas não, não podia ser ou o avanço
seria ainda muito mais rápido e tudo arderia muito mais depressa.
Munidos de baldes, canecos, bacias e até
penicos, os populares tentavam retardar o avanço da chamas. Pelos
resultados,pareciam as medidas do governo para fomentar a economia.
No
meio de toda aquela azafama um velho deficiente, conhecido na localidade por
Nibinho do Cavaco, tentava acalmar as chamas com um conta gotas onde, em
tempos, se alojara o seu remédio para os ouvidos... Felizmente para ele e
infelizmente para muitos não se queimou...
Levando
tudo á frente, as chamas rapidamente atingiram um celeiro de dois andares onde,
no rés do chão, se armazenava a palha para os animais. Num ápice os fardos de
palha foram consumidos pelas chamas e Miguel pensou que, desta forma, o governo
ficaria sem alimentos para o inverno que se avizinhava.
No
segundo andar um velho banco de plástico estava prestes a arder mas um piparote
de um coelho desajeitado e em aflição fizeram-no caír dentro do tanque de rega
para, desta forma, se salvar.
As
sirenes e os pirilampos anunciaram a chegada do bombeiros que, com as
mangueiras entesadas, penetraram as Portas e partiram as janelas apontando as
agulhetas para o centro do celeiro onde se concentrava a força motriz daquele
fogo ameaçador.
Com
a coragem própria de heróis desconhecidos os bombeiros, mesmo sem equipamentos
de proteção, subsidio de alimentação, reforma após oito anos de serviço, cartão
de crédito, viatura e chauffeurs ao seu serviço nem um carro oficial para levar a
esposa ao cabeleireiro, rapidamente controlaram o fogo.
Durante
o rescaldo, no meio de animais mortos, apareceu, aos pinchos, o Coelho que se
salvara porque, durante todo aquele tempo, tinha permanecido na toca.
No
final de tudo apareceu o Seguro que disse declinar qualquer responsabilidade
porque a causa que dera inicio ao terrível incêndio não estava prevista nas
clausulas contratuais...
Manuel
A.P. Sousa
Sem comentários:
Enviar um comentário