A Ilha não aguenta mais:
Turismo de massas, falta de civismo e o silêncio político na Madeira
Nos últimos anos, a Madeira tornou-se um destino cobiçado a nível global, celebrada por revistas de viagens, influencers, agências como uma “pérola do Atlântico” e políticos sem a mínima noção da realidade da ilha e dos madeirenses.
Por trás desta imagem sedutora, cresce um problema profundo que muitos insistem em ignorar: a pressão insustentável do turismo de massas, a falta de respeito por parte de alguns visitantes, e a ausência de vontade política para proteger o que é de todos, mas pertence primeiro aos madeirenses pois a ilha sempre foi a sua casa.
A natureza, que durante séculos foi o escudo e o orgulho da ilha, começa a mostrar sinais claros de esgotamento. As levadas, os trilhos e os miradouros já não são espaços de contemplação, mas sim corredores, de passagem acelerada, muitas vezes marcada por lixo, barulho e comportamentos irresponsáveis. O conceito de “turismo sustentável” parece ter ficado nos folhetos promocionais, sem tradução na prática.
Pior ainda, a relação entre visitantes e residentes deteriora-se à medida que o civismo se perde. O pós COVID, trouxe um boom turístico abrupto, mas também um novo tipo de visitante: mais exigente, menos sensível ao contexto local, e frequentemente desrespeitador. Há relatos de turistas a acampar ilegalmente, a invadir propriedades privadas, a tratar os espaços públicos como se fossem extensões de ressorts. Tudo isto enquanto muitos madeirenses são afastados das suas próprias zonas por causa da especulação imobiliária, trânsito insuportável e perda de identidade comunitária.
E onde está a resposta política? Silenciosa, vaga, lenta. Medidas eficazes de regulação do turismo são prometidas, mas raramente aplicadas. Há falta de fiscalização real nos trilhos, ausência de limites na carga turística e pouca aposta em sensibilização para turistas e locais. O medo de “estragar a economia” parece justificar a destruição progressiva do equilíbrio ambiental, cultural e social da ilha, onde andam os reais defensores da ilha e da natureza? Não, aqueles que por ocasião das eleições prometem tudo e no final dão uma mão cheia de nada.
É possível viver do turismo sem se tornar escravo dele. É possível receber bem sem se anular. Mas para isso, é preciso coragem política, participação cidadã e um novo modelo que priorize o bem-estar da ilha, dos madeirenses, do meio ambiente a longo prazo, e não apenas os lucros para alguns a curto prazo.
A Madeira é mais do que um destino bonito.
É casa, é história, é natureza viva. E ela não pode continuar a pagar o preço da indiferença.
Chefe, José Maria Ramada
Revista Repórter X Editora Schweiz Oficial


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