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domingo, 30 de novembro de 2025

Suíça, entre seguros, instâncias e silêncios: quando a verdade de um trabalhador é ignorada

Suíça, entre seguros, instâncias e silêncios: quando a verdade de um trabalhador é ignorada:


Na Suíça, país que tantos apontam como modelo de rigor e justiça, há histórias que revelam a face escondida de um sistema que funciona para uns, mas que falha miseravelmente quando o trabalhador estrangeiro deixa de produzir e começa a precisar de apoio. Este é um caso que é espelho de muitos outros, caso que atravessa seguradoras, instituições estatais, tribunais, empresas e burocracias que se protegem umas às outras enquanto deixam cair quem mais precisa.
Trata-se de um trabalhador que exerceu sempre o seu posto a 100%, cumprindo horários, regras, deveres e obrigações com pontualidade suíça. Sempre recebeu o seu ordenado a 100% durante os períodos de trabalho. Apenas recebeu 80% quando estava de baixa médica, e esses 80% dizem respeito unicamente à indemnização legal da baixa, nunca ao trabalho. Esta distinção é tão simples como a luz da manhã, mas foi deliberadamente ignorada.
Primeiro, a responsabilidade estava na AXA Seguros, através da empresa 3S Reinigung, onde a trabalhadora desempenhou funções a 100%. É prática comum que a AXA pague dois anos completos de baixa antes de qualquer transferência para a SUVA. Mas aqui não seguiram a prática, e a responsabilidade foi passada para a SUVA sem transparência nem explicação. A SUVA pagou durante algum tempo e, sem aviso, deixou de pagar.
Quando a SUVA deixa de pagar, a responsabilidade passa para a IV / SVA, conforme a lei. E foi isso que aconteceu. Mas, em vez de proteger o trabalhador, o resultado foi uma pensão miserável de 770 francos suíços mensais, valor que não permite sobreviver na Suíça, nem permite regressar a Portugal sem abandonar filhas e netos. Nenhuma instituição explicou porquê. Nenhuma assumiu o que lhe cabia.
E isto apesar de a trabalhadora ter exercido actividade também noutras empresas, como Enzler e SHS Hotel, acumulando funções, horários e contributos. Todo este percurso está documentado, e a documentação foi enviada. Comprovativos oficiais de trabalho a 100%, relações de trabalho, declarações de empresas, tudo entregue. E ainda assim, tudo ignorado.
O erro agravou-se quando a SVA Zürich, responsável pelo cálculo dos anos contributivos, recusou reconhecer os períodos de baixa com o devido valor de 80% da indemnização, recusou reconhecer o posto de trabalho a 100%, e insistiu em tratar o trabalhador como se tivesse exercido actividade reduzida ou insuficiente, iludindo-se voluntariamente perante provas claras. Contaram os anos de baixa de 80% para não ter direito aos 100% de trabalho anteriormente trabalhado. Isto é máfia!
Para piorar, contabilizaram o rendimento do cônjuge como se fosse salário fixo, quando na verdade é trabalho temporário, incerto, dependente de empresas de trabalho intermitente, marcado por períodos sem actividade e problemas de saúde. Mesmo assim exigem cálculos, valores, rendas, seguros obrigatórios, tudo como se a vida fosse perfeita e contínua, quando a vida real é feita de falhas, doenças, despedimentos e limitações.
A SVA continua a exigir respostas em 30 dias, mas quando é ela a responder, pode demorar meses. Não há equivalência, não há reciprocidade, não há humanidade. Pedem documentos que já têm, forçando o cidadão a repetir envios, como se o objectivo silencioso fosse cansar, desgastar, forçar à desistência. Pedem datas que podem solicitar directamente à SUVA, valores que podem pedir à AXA, confirmações que podem obter das empresas onde o trabalhador exerceu funções. Mas não fazem. Empurram. Fogem. Prolongam.
E é assim que trabalhadores estrangeiros, que deram a vida inteira ao país, que alimentaram a economia, que respeitaram leis e obrigações, caem na pobreza extrema. Caem no desespero psicológico. Caem na sensação de abandono. São tratados como Auslanders, como estrangeiros de segunda categoria, úteis enquanto produzem, invisíveis quando adoecem.
Prometeram-lhes uma Suíça justa. Deram-lhes uma Suíça burocrática que não quer ver a verdade quando essa verdade implica responsabilizar instituições.
A Repórter X denuncia este caso porque representa milhares.
Representa um país que se esquece, por vezes, que justiça não é papel; é dignidade.
Representa trabalhadores que fizeram tudo a 100%, mas que recebem apenas 770 francos como recompensa final, omitindo o ordenado na totalidade.
Representa um sistema que precisa de ser visto, questionado, escrutinado. Mas as leis foram pensadas nisto e apenas podemos gemer, mais nada!
E representa, acima de tudo, a certeza de que a verdade, por mais abafada que tentem deixá-la, acaba sempre por se levantar como uma alvorada teimosa. Vamos continuar a dar voz a quem não tem voz...

Revista Repórter X Editora Schweiz Oficial

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