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sábado, 1 de novembro de 2025

Nota de Indignação; O mendigo que dorme de pé na Estação de Caminhos de Ferro de Bülach

Nota de Indignação; O mendigo que dorme de pé na Estação de Caminhos de Ferro de Bülach


Hoje de manhã lá estava ele outra vez, num canto a ler o jornal quase a dormir de pé, com o saco da sua tralha encostado a si como se fosse o seu armário. É o que lhe resta. Aquele saco é a sua casa, o abrigo é o espaço envidraçado da estação, o mesmo onde os passageiros esperam o comboio, o mesmo onde há mais de um ano dorme, vive e resiste.

Nada mudou. A Segurança Social, a Câmara Municipal, a Polícia, todos foram informados, todos sabem, todos dizem o mesmo: “ele não quer sair dali”. Mas a verdade é que também não querem tirá-lo dali com dignidade. O homem está preso entre a indiferença das instituições e o frio do vidro.

Há quem diga que “a polícia o vai buscar” ou que “aquilo é espaço privado”. São palavras fáceis de quem nunca passou uma noite ao relento. Outros, mais humanos, dizem: “se for preciso algo que eu possa fazer, digam… eu vou.” São esses que ainda fazem acreditar que nem tudo está perdido.

Este homem sofreu um acidente, ficou inapto, recebe uma pensão, mas não recebe atenção. Já disse que aceitava ajuda ao Quelhas da Revista Repórter X. E, quando alguém tenta ajudá-lo, dizem que ele recusa. Logo a seguir, a polícia empurra-o como se fosse incómodo. Mudam-no de canto, mas não mudam nada.

A estação cheira a abandono, e esse cheiro é o perfume do descuido. O homem está ali, entre o vidro e o vento, a ler o jornal como se fosse um cidadão qualquer, tentando existir no mesmo lugar como uma estátua móvel, onde a cidade finge que ele não existe.

É esta a verdade que dói: não é ele que está perdido, é a sociedade que o perdeu.

Nota: Um leitor escreveu a dizer que em Schlieren há pelo menos dez como ele, espalhados pelos cantos, dormindo nos bancos e sobrevivendo à base de cerveja. A pobreza cresce escondida, disfarçada sob a neve branca da Suíça, onde por dentro a podridão alastra em silêncio.

autor: Quelhas – Revista Repórter X


Revista Repórter X Editora Schweiz Oficial