O esquema de cobranças das seguradoras Suíças: justiça ou manipulação?
Uma recente situação expôs mais uma vez o funcionamento duvidoso do sistema de compensações das seguradoras suíças, revelando como o Estado e as instituições financeiras trabalham em conjunto para manter o controlo sobre os cidadãos, criando uma falsa impressão de justiça.
Tudo começou quando uma cliente, após um acidente ocorrido em 2016, recebeu em 2022 uma compensação transitória no valor de CHF 2.861,35, paga pela Suva. Na altura, ainda não estava claro se a cliente seria reintegrada no mercado de trabalho, pelo que a seguradora optou por conceder temporariamente a compensação. No entanto, mais tarde, a Suva determinou que a cliente não era elegível para qualquer benefício adicional, pois, segundo os critérios estabelecidos, a compensação transitória só é atribuída a quem pode regressar ao mercado de trabalho e se inscrever no centro de desemprego.
Na sua comunicação oficial, datada de 20 de janeiro de 2025, a Suva afirmou que não iria exigir o reembolso desse montante, assumindo a situação como encerrada. Contudo, o que parecia ser uma decisão definitiva revelou-se apenas uma manobra para contornar a realidade: pouco tempo depois, a CSS-Krankenkasse, através de uma agência de cobranças (Inkasso), exigiu à cliente a devolução de aproximadamente CHF 700.
O Ciclo Vicioso da Burocracia
Ao perceber que a cobrança estava a ser feita por uma entidade diferente, mas dentro do mesmo sistema, a cliente apresentou queixa ao tribunal e acionou a Protekta, seguradora de defesa jurídica. Como resultado, a Protekta cobriu a cobrança e o montante foi pago à CSS-Versicherung, mas sem que a cliente aceitasse a legitimidade da decisão.
Este caso expõe um mecanismo recorrente dentro do sistema suíço de seguradoras e tribunais:
Uma instituição afirma não exigir um pagamento, mas outra instituição ligada ao mesmo sistema faz a cobrança por outro meio.
O dinheiro circula entre seguradoras, tribunais e agências de cobrança, mas o lesado nunca sai beneficiado.
Quando um pagamento é contestado, a única solução viável passa por recorrer a outra seguradora (neste caso, a Protekta), que cobre o valor para que o cliente não seja penalizado financeiramente.
No fim, o montante pago regressa ao mesmo circuito financeiro controlado pelo Estado suíço, garantindo que nada sai realmente do sistema.
Uma Justiça Controlada pelo Mesmo Patrão
O que este caso evidencia é que o Estado suíço controla todo o processo, garantindo que o dinheiro nunca escapa ao seu domínio. Enquanto as seguradoras, os tribunais e as agências de cobrança funcionam como entidades separadas na teoria, na prática fazem parte do mesmo sistema, criando uma teia burocrática que força o cidadão a perder tempo, energia e recursos financeiros.
O caso da cliente demonstra que, mesmo quando se recorre aos meios legais, a estrutura mantém-se inalterada, pois a justiça parece funcionar, mas o verdadeiro patrão continua a ser o mesmo. O Estado e as seguradoras colaboram num jogo de aparências, onde a ilusão de imparcialidade serve apenas para disfarçar um sistema que, no fundo, favorece sempre os mesmos.
Se este sistema não for denunciado e enfrentado, continuará a penalizar aqueles que deveriam estar protegidos, perpetuando um ciclo de manipulação onde a justiça parece ser um direito, mas na realidade é apenas um mecanismo de controlo.
Revista Repórter X Editora Schweiz Oficial
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