A comunidade albanesa na Suíça e o desafio da preservação da língua entre outras culturas:
O fenómeno do desaparecimento gradual do albanês
entre os descendentes de emigrantes tem sido estudado por especialistas, que
apontam a integração na sociedade suíça e a falta de prestígio da língua como
as principais razões para esta mudança. Muitos albaneses de segunda e terceira
geração comunicam preferencialmente em suíço-alemão, restringindo o uso do
albanês ao ambiente familiar, sobretudo no contacto com os avós. Contudo,
nalguns locais de trabalho, como é o caso da gráfica Kyburz – onde sou o único
português a trabalhar (João Carlos) – a situação inverte-se. (À
parte, a sua cultura mantém-se na maioria, sendo as tradições gastronómicas e o
Ramadão parte integrante dela). Muitos trabalhadores albaneses continuam a
falar a sua língua de origem ou os dialetos provenientes da ex-Jugoslávia, para
além da Albânia (Kosovo, Eslovénia, Croácia, Sérvia, Bósnia-Herzegovina,
Montenegro e Macedónia), criando assim um ambiente linguístico misto,
semelhante ao que se verifica entre portugueses, espanhóis e italianos, onde
todos se compreendem – menos eu no meio deles.
O inverso ocorre quando outros grupos latinos
conversam e um albanês se vê perdido no meio, tal como eu entre eles ou quando
se misturam com outras etnias, pois, neste caso, já é exigido que se fale a
língua alemã – uma regra comum no Cantão de Zurique. Nestes espaços fechados, o
alemão acaba por não se desenvolver tanto.
O autor Quelhas destaca que esta tendência segue
um padrão comum a outras comunidades migrantes, como a italiana, em que as
gerações mais jovens acabam por perder a fluência na língua de origem. Salienta
ainda que o albanês é visto de forma menos prestigiada em comparação com
línguas como o inglês, o italiano ou o espanhol, o que contribui para que
muitos jovens evitem usá-lo em público.
Apesar deste declínio, há esforços para manter a
língua viva. Existem cursos extracurriculares de albanês em vários cantões
suíços, mas a sua frequência é voluntária e, muitas vezes, implica custos que
limitam a participação de crianças e jovens. Além disso, programas de rádio e
televisão destinados à diáspora tentam reforçar a ligação com a cultura
albanesa.
Casamentos entre albaneses da Suíça e cidadãos
do Kosovo ou da Macedónia do Norte têm também contribuído para a preservação do
idioma, uma vez que, nestes casos, a língua comum tende a ser o albanês.
Embora o albanês esteja a perder espaço, as
estatísticas podem ainda não refletir esta mudança. Muitos descendentes de
albaneses continuam a identificar-se como falantes da língua nas pesquisas
oficiais, mesmo que o seu domínio seja limitado. Podem falar bem o alemão, mas
a sua pronúncia denuncia a sua origem. Para muitos, a ligação ao albanês não é
apenas uma questão linguística, mas também de identidade e de pertencimento
cultural.
Com a divisão da ex-Jugoslávia, ainda hoje
subsistem muitos ressentimentos entre os povos que outrora foram massacrados,
mas o autor Quelhas relata que as novas gerações, com as quais trabalho,
habituaram-se a respeitar-se mutuamente.
O povo albanês é acolhedor e também respeita as
nossas culturas. Por exemplo, eu uso um crucifixo e, no início, usava-o dentro
da t-shirt por receio – pois, certa vez, noutro espaço, o Espaço Judita,
pediram-me para o meter dentro da t-shirt. Actualmente, uso-o abertamente no
meu dia a dia no trabalho e não incomoda ninguém. No entanto, eu e os
emigrantes em geral na Suíça já nos habituámos a respeitar as outras culturas,
sendo a Suíça um dos países mais multiculturais do mundo. A maioria dos albaneses
observa o Ramadão e, por vezes, até me custa beber uma água ou comer alguma
coisa quando eles estão em jejum, mas é o caminho que escolheram e sei que
também nos respeitam mutuamente. "O Ramadão, ou Ramadão, é o nono mês
do calendário islâmico e o período mais sagrado do ano, segundo essa
cultura."
Na Albânia, o Ramadão é praticado pelos
muçulmanos, que constituem uma parte significativa da população. A principal
religião que observa este período sagrado é o Islão, sobretudo nas vertentes
sunita e bektashi. Embora o país tenha também cristãos ortodoxos e católicos, a
Albânia é reconhecida pela sua diversidade religiosa e tolerância. O Ramadão é
um mês de jejum, oração e reflexão, seguido por muitos albaneses muçulmanos,
incluindo os que vivem na diáspora, como na Suíça.
O povo albanês esforça-se muito para ter bons
carros, sobretudo Mercedes-Benz ou BMW. Trabalham muitas horas e uma grande
parte alcança cargos de chefia em grandes empresas, fruto do seu trabalho, mas
também porque aprendem rapidamente a língua. Sendo o albanês uma língua difícil
para os europeus, isso facilita a sua aprendizagem de outros idiomas,
permitindo-lhes relacionar-se bem com outros povos emigrantes.
Nota Histórica:
O antigo Reino da Jugoslávia foi proclamado em
1918. Nos anos seguintes, a região foi invadida e dividida, organizando-se
politicamente num único país em 1945, com o término da Segunda Guerra Mundial.
O território foi reordenado segundo as diferenças étnicas, linguísticas e
religiosas, dando origem a seis repúblicas que, juntas, formavam a então
Jugoslávia: Eslovénia, Croácia, Sérvia, Bósnia-Herzegovina, Montenegro e
Macedónia. A mais importante delas era a Sérvia, que incluía as províncias de
Kosovo e Voivodina. Na Sérvia situava-se também a capital jugoslava, Belgrado.
A reorganização da Jugoslávia veio acompanhada pela instituição de um
socialismo não alinhado à União Soviética.
A foto foi tirada na fábrica Kyburz, durante o
despedimento de um trabalhador asiático que se reformou. Nesse banquete, o povo
albanês não brindou com champanhe, por estar a cumprir o Ramadão, mas a sua
presença fez-se sentir juntamente com outros trabalhadores de diversas nações e
com os chefes da empresa, que constam na fotografia.
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