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domingo, 23 de março de 2025

A comunidade albanesa na Suíça e o desafio da preservação da língua entre outras culturas

A comunidade albanesa na Suíça e o desafio da preservação da língua entre outras culturas:


A comunidade albanesa na Suíça tem crescido ao longo das últimas décadas, tornando-se uma das maiores diásporas do país. No entanto, apesar deste crescimento, a língua albanesa tem perdido espaço entre as novas gerações.

 

O fenómeno do desaparecimento gradual do albanês entre os descendentes de emigrantes tem sido estudado por especialistas, que apontam a integração na sociedade suíça e a falta de prestígio da língua como as principais razões para esta mudança. Muitos albaneses de segunda e terceira geração comunicam preferencialmente em suíço-alemão, restringindo o uso do albanês ao ambiente familiar, sobretudo no contacto com os avós. Contudo, nalguns locais de trabalho, como é o caso da gráfica Kyburz – onde sou o único português a trabalhar (João Carlos) – a situação inverte-se. (À parte, a sua cultura mantém-se na maioria, sendo as tradições gastronómicas e o Ramadão parte integrante dela). Muitos trabalhadores albaneses continuam a falar a sua língua de origem ou os dialetos provenientes da ex-Jugoslávia, para além da Albânia (Kosovo, Eslovénia, Croácia, Sérvia, Bósnia-Herzegovina, Montenegro e Macedónia), criando assim um ambiente linguístico misto, semelhante ao que se verifica entre portugueses, espanhóis e italianos, onde todos se compreendem – menos eu no meio deles.

 

O inverso ocorre quando outros grupos latinos conversam e um albanês se vê perdido no meio, tal como eu entre eles ou quando se misturam com outras etnias, pois, neste caso, já é exigido que se fale a língua alemã – uma regra comum no Cantão de Zurique. Nestes espaços fechados, o alemão acaba por não se desenvolver tanto.

 

O autor Quelhas destaca que esta tendência segue um padrão comum a outras comunidades migrantes, como a italiana, em que as gerações mais jovens acabam por perder a fluência na língua de origem. Salienta ainda que o albanês é visto de forma menos prestigiada em comparação com línguas como o inglês, o italiano ou o espanhol, o que contribui para que muitos jovens evitem usá-lo em público.

 

Apesar deste declínio, há esforços para manter a língua viva. Existem cursos extracurriculares de albanês em vários cantões suíços, mas a sua frequência é voluntária e, muitas vezes, implica custos que limitam a participação de crianças e jovens. Além disso, programas de rádio e televisão destinados à diáspora tentam reforçar a ligação com a cultura albanesa.

 

Casamentos entre albaneses da Suíça e cidadãos do Kosovo ou da Macedónia do Norte têm também contribuído para a preservação do idioma, uma vez que, nestes casos, a língua comum tende a ser o albanês.

 

Embora o albanês esteja a perder espaço, as estatísticas podem ainda não refletir esta mudança. Muitos descendentes de albaneses continuam a identificar-se como falantes da língua nas pesquisas oficiais, mesmo que o seu domínio seja limitado. Podem falar bem o alemão, mas a sua pronúncia denuncia a sua origem. Para muitos, a ligação ao albanês não é apenas uma questão linguística, mas também de identidade e de pertencimento cultural.

 

Com a divisão da ex-Jugoslávia, ainda hoje subsistem muitos ressentimentos entre os povos que outrora foram massacrados, mas o autor Quelhas relata que as novas gerações, com as quais trabalho, habituaram-se a respeitar-se mutuamente.

 

O povo albanês é acolhedor e também respeita as nossas culturas. Por exemplo, eu uso um crucifixo e, no início, usava-o dentro da t-shirt por receio – pois, certa vez, noutro espaço, o Espaço Judita, pediram-me para o meter dentro da t-shirt. Actualmente, uso-o abertamente no meu dia a dia no trabalho e não incomoda ninguém. No entanto, eu e os emigrantes em geral na Suíça já nos habituámos a respeitar as outras culturas, sendo a Suíça um dos países mais multiculturais do mundo. A maioria dos albaneses observa o Ramadão e, por vezes, até me custa beber uma água ou comer alguma coisa quando eles estão em jejum, mas é o caminho que escolheram e sei que também nos respeitam mutuamente. "O Ramadão, ou Ramadão, é o nono mês do calendário islâmico e o período mais sagrado do ano, segundo essa cultura."

 

Na Albânia, o Ramadão é praticado pelos muçulmanos, que constituem uma parte significativa da população. A principal religião que observa este período sagrado é o Islão, sobretudo nas vertentes sunita e bektashi. Embora o país tenha também cristãos ortodoxos e católicos, a Albânia é reconhecida pela sua diversidade religiosa e tolerância. O Ramadão é um mês de jejum, oração e reflexão, seguido por muitos albaneses muçulmanos, incluindo os que vivem na diáspora, como na Suíça.

 

O povo albanês esforça-se muito para ter bons carros, sobretudo Mercedes-Benz ou BMW. Trabalham muitas horas e uma grande parte alcança cargos de chefia em grandes empresas, fruto do seu trabalho, mas também porque aprendem rapidamente a língua. Sendo o albanês uma língua difícil para os europeus, isso facilita a sua aprendizagem de outros idiomas, permitindo-lhes relacionar-se bem com outros povos emigrantes.

 

Nota Histórica:

O antigo Reino da Jugoslávia foi proclamado em 1918. Nos anos seguintes, a região foi invadida e dividida, organizando-se politicamente num único país em 1945, com o término da Segunda Guerra Mundial. O território foi reordenado segundo as diferenças étnicas, linguísticas e religiosas, dando origem a seis repúblicas que, juntas, formavam a então Jugoslávia: Eslovénia, Croácia, Sérvia, Bósnia-Herzegovina, Montenegro e Macedónia. A mais importante delas era a Sérvia, que incluía as províncias de Kosovo e Voivodina. Na Sérvia situava-se também a capital jugoslava, Belgrado. A reorganização da Jugoslávia veio acompanhada pela instituição de um socialismo não alinhado à União Soviética.


 












A foto foi tirada na fábrica Kyburz, durante o despedimento de um trabalhador asiático que se reformou. Nesse banquete, o povo albanês não brindou com champanhe, por estar a cumprir o Ramadão, mas a sua presença fez-se sentir juntamente com outros trabalhadores de diversas nações e com os chefes da empresa, que constam na fotografia.



Revista Repórter X Editora Schweiz Oficial

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