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segunda-feira, 10 de março de 2025

O fim de uma era baseada em valores

O fim de uma era baseada em valores


Paulo Pisco

A União Europeia está desorientada com a mudança radical da nova Administração norte-americana. Os Estados Unidos mudaram de campo e estão agora alinhados com a Rússia e claramente determinados em enfraquecer a UE. Como já tinha demonstrado no primeiro mandato, Donald Trump admira mais as autocracias do que as democracias e isso terá repercussões funestas em todo o mundo. O alinhamento dos EUA com a Rússia, depois de três anos de destruição e morte com a invasão da Ucrânia, só pode causar choque e pavor.

Se o mundo estava perigoso, agora pode mesmo estar à beira do abismo. A UE baseou sempre a sua ação na defesa do multilateralismo, do direito internacional, dos direitos humanos e numa ética global, mesmo com as suas imperfeições. O oposto total do que Trump agora impõe na geopolítica, a que se acrescenta um desprezo pelos aliados históricos.

Está hoje muito claro que os EUA estão dispostos a abandonar não apenas a Ucrânia, o que já mostraram com o congelamento da ajuda militar, mas também a UE, com consequências muito imprevisíveis devido a um maior envolvimento que os europeus terão de assumir nos esforços de guerra e na instabilidade e incerteza que isso vai criar nas nossas sociedades.

A degradante encenação em direto da humilhação do Presidente Zelensky na Sala Oval revela não apenas indiferença pelo destino da Ucrânia e por todo o sofrimento causado pela guerra, mas também uma forma de desprezo pelos europeus e pelos esforços que têm sido feitos para salvar a relação transatlântica, de que os recentes encontros de Emmanuel Macron e Keir Starmer com Donald Trump são apenas um exemplo. É o fim de um consenso no mundo ocidental que nasceu dos escombros da Segunda Guerra Mundial e da construção da União Europeia.

A questão agora é saber até onde poderão ir os EUA neste alinhamento com a Rússia, que pode trazer humilhações irreparáveis e tensões muito mais graves do que as guerras comerciais com o aumento das tarifas ou mesmo com as absurdas propostas de anexar o Canadá, expulsar dois milhões de palestinianos da Faixa de Gaza ou usar a força para ficar com a Gronelândia. À conta dos caprichos e delírios do Presidente dos Estados Unidos, a situação geopolítica está cada vez mais instável e a transformar-se num pesadelo a nível global.

O grande problema é que a UE não tem apenas inimigos e adversários fora do seu espaço geográfico. Eles estão também entre os Estados-membros e dentro deles, que surpreendentemente e paradoxalmente são os amigos da Rússia e fazem o seu jogo de querer destruir a UE, e também do Presidente Trump e do que ele representa, como claramente o demonstram os partidos de extrema-direita e as suas agendas radicais inspiradas nas autocracias, nos fascismos, nos nacionalismos e no ultraconservadorismo, que têm destruído a coesão das nossas sociedades, sempre apoiados na manipulação dos factos e na desinformação.

Trump tem poder e está a usá-lo de maneira imperial, obrigando todos a seguirem-no como nas autocracias e fazendo purgas que envergonham qualquer democracia. Como grande potência global democrática, ou pós-democrática, já não se sabe bem, os Estados Unidos tinham o dever de proteger uma ética global em defesa da democracia, da Carta das Nações Unidas e dos direitos humanos.

Em vez disso, um poder muito inquietante está a consolidar-se nos EUA, com raízes na supremacia branca, com alianças com quem despreza o direito internacional e faz prova de desumanidade extrema, como a Rússia ou Israel. É um sinal de como as forças destrutivas estão a marchar contra as democracias, as liberdades e os direitos dos povos e das nações. Os EUA estão a destruir a atual ordem global assente em regras e valores, no multilateralismo como forma de evitar e apaziguar conflitos e trazer estabilidade, justiça e desenvolvimento.

Este é o momento, pois, para os europeus estarem unidos, preencherem o vazio deixado pelo afastamento dos Estados Unidos e também para todos aqueles que seguem a extrema-direita internacional perceberem que, se o mundo tal como o conhecemos ruir, também eles ficarão debaixo dos escombros.

Deputado do PS

Revista Repórter X Editora Schweiz Oficial

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