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O Ritmo de trabalho na Suíça e o impacto no bem-estar: será o horário o verdadeiro vilão?
Na Suíça, muitos trabalhadores iniciam o seu dia laboral às seis da manhã e terminam às catorze horas. Outros, em regime de rotação, entram às catorze e saem às vinte e duas. Embora à primeira vista estes horários pareçam organizados, a realidade mostra que têm efeitos profundos e muitas vezes negativos no bem-estar físico e psicológico de quem os vive diariamente.
Trabalhar tão cedo implica acordar por volta das quatro ou cinco da manhã. Para muitos, que só conseguem deitar-se à meia-noite, isso traduz-se em quatro ou cinco horas de sono, no máximo. E, quando se chega a casa, o cansaço é tanto que só resta dormir novamente. É um sono partido, repartido entre dois momentos do dia, o que interfere com o equilíbrio do organismo e deixa pouco espaço para viver.
O intervalo para refeições, por exemplo, é reduzido a 30 minutos. Este tempo mal dá para comer com calma, muito menos para mastigar bem ou ir à casa de banho. A pressa em tudo aumenta o stress. O corpo não acompanha o ritmo imposto pelas tarefas e pelo relógio.
Se o horário fosse ajustado para começar às oito e terminar às dezasseis horas, a diferença seria substancial. Duas horas extra de descanso permitiriam um sono contínuo, mais saudável e restaurador. O mesmo se aplica ao turno da tarde: trabalhar das dezasseis à meia-noite manteria a carga horária, mas respeitaria melhor os ritmos biológicos. Muita gente que sai cedo, depois de um turno da manhã, regressa a casa apenas para dormir de novo, sem usufruir do tempo livre que teoricamente teria. E à noite, nem sempre o corpo colabora para dormir novamente. Resultado: o dia e a noite tornam-se um ciclo sem sentido.
O transporte público, frequentemente apontado como motivo para horários tão rígidos, não é obstáculo. Embora com horários diferentes durante o dia e a noite, os serviços continuam assegurados. Portanto, nada impede uma reestruturação lógica e mais humana dos horários de trabalho.
Chegar cedo a casa deveria significar mais tempo para viver — para passear, tratar de tarefas domésticas, fazer compras ou simplesmente não fazer nada. Mas a realidade é outra: a maioria recorre ao tempo livre apenas para recuperar energias. Trabalha-se para descansar. Vive-se para aguentar.
Dizem que a Suíça é um país muito stressante. E é verdade. Mas o stress não vem das pessoas — vem do sistema. Um sistema que exige muito, mas que oferece pouco descanso. Nos transportes públicos, vêem-se diariamente rostos exaustos, pessoas a dormir sentadas, encostadas às janelas, tentando recuperar o sono que lhes falta em casa. São cenas repetidas de manhã, de tarde e de noite. E ninguém parece questionar.
As consequências são conhecidas: fadiga extrema, distúrbios do sono, desequilíbrios alimentares, ansiedade e doenças do foro psicológico. O constante rodar de turnos perturba o metabolismo, altera os horários das refeições, desregula o sono e quebra todos os hábitos saudáveis. E tudo isto em nome da produtividade.
Rever os horários laborais não seria apenas uma questão de conforto, mas uma necessidade urgente de saúde pública. Afinal, duas horas podem parecer pouco, mas entre dormir quatro e seis horas ou dormir seis e oito, vai toda a diferença entre resistir e viver com dignidade.
(autor: Quelhas
Revista Repórter X Editora Schweiz Oficial
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