Catarina Martins, um retracto para discurso presidencial:
Catarina Soares Martins nasceu no Porto em Setembro de 1973, filha de um tempo em mudança, criada entre São Tomé e Cabo Verde, trazendo dessas ilhas a primeira visão do mundo, vasta como o horizonte que a acompanharia toda a vida. Formou-se em línguas, aprofundou a linguística, dedicou-se ao estudo da palavra, essa matéria que molda consciências e move sociedades. Casou, foi mãe de duas filhas, e nunca perdeu o rumo do dever público.
Desde jovem se ergueu nas lutas estudantis, primeiro contra a Prova Geral de Acesso, depois contra as propinas em Coimbra. A política nasceu no mesmo gesto que a cultura, quando co-fundou a companhia Visões Úteis e participou em movimentos artísticos que procuravam dar voz a quem dela precisava. Em 2009 entrou no parlamento, eleita pelo Bloco de Esquerda, e ali permaneceu até 2023, atravessando com firmeza comissões, debates e tempestades.
Assumiu a liderança do partido em 2012, sucedendo a Francisco Louçã, primeiro ao lado de João Semedo, depois como coordenadora única. No seu tempo, o Bloco alcançou o melhor resultado de sempre, conquistou 19 deputados e ultrapassou o meio milhão de votos. Em 2015, uma publicação internacional viu nela o rosto da esquerda europeia, o sinal de que havia na política portuguesa uma força capaz de quebrar rotinas e estremecer o velho edifício do poder.
Em 2023 deixou a liderança e o parlamento, numa fase em que o Bloco descia de 19 para cinco deputados. Em 2024 foi eleita deputada ao Parlamento Europeu, levando para a Europa a voz que sempre ergueu.
E assim chega ao presente, pronta para nova travessia, onde as presidenciais lhe pedem palavra e horizonte. Na sua história vive a persistência de quem acredita que o país pode ser mais justo, mais culto, mais livre. E no seu percurso estão as sementes do que poderá dizer, quando falar ao povo, olhando o futuro com a mesma coragem com que atravessou o passado.
No debate televisivo
Catarina Martins tenta colar António José Seguro a Passos Coelho e à Troika, gesto antigo de quem recorre ao passado para moldar o presente. Seguro responde com o apelo ao voto útil, esse chamamento que tantas vezes surge nos momentos decisivos. E no meio do embate, o país observa, perguntando-se quem realmente tem destino a oferecer.
Num debate à esquerda
Ela reclamou para si a luta pela defesa da Constituição no tempo da Troika e as conquistas da geringonça. Seguro mostrou que a disputa não era pessoal. E a Revista Repórter X recorda, clara, como água, Catarina e o Bloco fizeram parte da geringonça, assim bem como o PS, o PSD, o CDS e o PCP, todos sustentaram António Costa, partilharam decisões, victórias, recuos. Não podem agora falar como observadores distantes nem lançar críticas como se nunca tivessem estado dentro da máquina que hoje apontam.
O passado não se apaga e a responsabilidade não se desfaz ao vento.
“Ventura é um bully político”, diz Catarina.
E Quelhas, João Carlos Veloso Gonçalves, o ex. pré-candidato à presidência da república portuguesa, responde com verdade simples, ela fala muito e acerta pouco. Nada deu ao país como líder do Bloco e nada dará agora na corrida presidencial. O país já percebeu que a força das palavras não basta quando a obra ficou por nascer. A estrada presidencial não pede frases sonoras, pede substância, coragem e verdade.
Sobre unir a esquerda contra a extrema-direita
Catarina diz que Ventura quer condicionar todos os debates da democracia e que se deve lutar contra isso. Mas lutar ela própria tem de lutar, porque o seu partido quase desapareceu nas últimas legislativas. E chamar extrema-direita a uns abre a porta para que chamem extrema-esquerda ao Bloco e às suas figuras. A linguagem corta nos dois sentidos, e a política precisa de responsabilidade, não de rótulos fáceis.
No debate com Cotrim de Figueiredo
Ambos criticam o Ministério Público, cada um ao seu estilo. Cotrim exige uma justiça livre de corporativismos, Catarina quer mais escrutínio autónomo. Mas nela há uma repetição, concorda muito para sair bem do debate, fala bonito, mas não acende. Quando discorda, foca a direita, calculando alianças futuras. Não tendo caminho para vencer, evita hostilizar a esquerda, talvez para apoiar alguém no fim da corrida, talvez para tentar salvar o pouco que resta do Bloco. Mas reconstruir exige mais do que prudência, exige verdade.
Sobre as escutas a António Costa
Catarina considerou “caso gravíssimo” escutas sem autorização judicial. Mas quem a ouviu lembrou-se de algo simples, ela defende o antigo primeiro-ministro porque caminhou com ele, porque participou no poder que agora critica. Quem governa fiscaliza, quem apoia vigia. E se falhou o escrutínio, ela estava lá. Comeu com eles, como diz o povo, e só agora ergue a voz, quando a distância política lhe convém.
O país não se alimenta de espantos tardios.
Catarina Martins critica o Estado por falhar “ao sabor de apetites gananciosos”
Diz que a saúde, a educação e a habitação tremem sob políticas contraditórias e ineficientes. Mas quem a ouviu lembrou-se de que, quando teve força na geringonça, nada fez que transformasse verdadeiramente a vida dos portugueses. Muita uva e pouco vinho. O Bloco encolheu, perdeu voz e perdeu chão. Catarina pode falar alto, mas o país ouve com reservas, porque o tempo provou que o discurso não bastou para mudar o destino.
E talvez, como a vida às vezes sugere, o teatro abra-lhe mais portas do que a política. Porque futuro exige obra, não apenas palavras. Para fala-barato, já temos a Rita Matias.
Com muita pena minha os média e os partidos do sistema apenas exibem oito candidatos como se fossem os únicos dignos de palco, dizem que têm ido a debates, mas aquilo não são debates, são vitrinas. O entrevistador fala da Ucrânia, da política externa distante, e esquece os residentes e os emigrantes, esse povo espalhado pelo mundo que sustenta o país com trabalho, sacrifício e esperança.
E pergunto, qual foi o candidato que falou verdadeiramente dos emigrantes, aqueles que o Quelhas defende com firmeza e que o Chega levou à Assembleia da República para discussão séria. Ninguém quer tocar no tema porque não dá votos fáceis, porque exige coragem e verdade.
O que chamam debates mais parece um circo, onde eles representam como palhaços e nós assistimos como público, tristemente conscientes da farsa. Luís Marques Mendes, André Ventura, Henrique Gouveia e Melo, António José Seguro, António Filipe, Catarina Martins, João Cotrim de Figueiredo, Jorge Pinto, são sempre os mesmos nomes a girar no carrossel televisivo, como se o país fosse apenas isto e nada mais existisse para além deste pequeno núcleo protegido.
As televisões tornaram-se um monopólio partilhado pelos partidos do sistema, um pacto silencioso que decide quem aparece e quem desaparece, quem tem voz e quem é apagado. E assim o país segue, empurrado por interesses velados, enquanto a verdade, essa, aguarda quem a ouse levantar com coragem e futuro.
autor: Quelhas

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