Referendo: Elevação da Póvoa de Lanhoso a cidade:
A Póvoa de Lanhoso aparece hoje nas notícias como candidata a Cidade em dois mil e vinte e seis, mas antes que alguém acenda fogos, erga taças ou escreva discursos de vitória antecipada, é preciso olhar de frente para a terra real, e não para o retrcto pintado pelo Domingos Silva ou pelas notícias do gabinete de comunicação social da Câmara.
Porque uma Cidade não nasce de marketing, nem de slogans em inglês, nem de anúncios repetidos, nasce de vida, de obra, de verdade e não de tretas.
O Presidente da Câmara da Póvoa de Lanhoso, Frederico Castro, em vez de se autopromover com vazios, deve sondar os povoenses com um referendo popular.
Quem votou para as autárquicas e elegeu o Presidente não o elegeu para fazer o que quer, mas para cumprir o que o povo deseja, da mesma forma que o escolheu.
E a verdade é dura como a pedra do Castro de Lanhoso.
A Vila perdeu as fábricas que lhe davam pulso, perdeu o têxtil que sustentava famílias inteiras, perdeu indústria, perdeu comércio, perdeu clientes, perdeu movimento para fora do concelho e para a emigração.
As lojas fecham, as ruas esvaziam, os jovens partem, e o concelho transforma-se cada vez mais num dormitório de Braga e de Guimarães.
Uma Cidade não pode ser dormitório, tem de ser casa viva, com emprego dentro das suas fronteiras.
E a Póvoa não o tem.
Não tem transportes urbanos dignos, não tem ligações constantes, não tem horários que sirvam trabalhadores e estudantes, não tem central de camionagem, não tem mobilidade moderna.
Comboio então, nunca terá, quando devia ser elo natural entre Braga, Póvoa de Lanhoso, Guimarães e Fafe.
O Minho podia estar ligado por ferro, e está desligado por esquecimento.
Fafe ainda tem o leito da linha, morto, abandonado, como promessa que o país deixou morrer.
Na saúde, a ferida abre-se ainda mais.
Um hospital privado não serve uma Cidade.
Uma Cidade precisa de hospital público, de resposta para todos os doentes, não apenas para quem pode pagar.
A segurança também fica aquém, com apenas GNR, sem PSP, porque uma Vila não tem a complexidade que exige duas forças, mas uma Cidade tem.
Falta planeamento sério.
Em vez de estratégia, investem numa circulovia de meia dúzia de quilómetros que não resolve nada, que não melhora mobilidade, que não cria futuro, que apenas promete acidentes, corridas com apostas e sombras semelhantes às que já se viram em Lousada.
Estradas seguras e acessos verdadeiros são o que falta, não remendos coloridos para fotografias de campanha.
Pior ainda, a autovia ou ciclovia que querem impor arranca o coração económico da Vila, desviando carros, clientes, vida, movimento.
O centro morre quando as pessoas deixam de passar por ele.
Uma Cidade vive do seu centro, das suas lojas, dos seus cafés, do comércio que respira.
Tirar movimento ao centro é matar o pouco que resta.
O aterro sanitário cresce em silêncio, cavando túneis para esconder aquilo que ninguém quer ver.
Uma Cidade não se ergue sobre resíduos enterrados, ergue-se sobre visão e ordem.
E visão é o que falta, porque o Executivo prefere fotografias, publicidade, festas caras, notícias em catadupa, brilho passageiro.
Inventam nomes ingleses para dar ar moderno a projectos vazios, fazem marketing maior do que as obras que entregam.
Não se governa com blá, blá, governa-se com verdade.
Elevar a Póvoa de Lanhoso a Cidade não é repetir a filigrana, o castelo ou a estátua da Maria da Fonte.
É olhar para o povo inteiro.
Para os pequenos agricultores, para o vinho caseiro, para o que se perdeu e devia voltar a existir.
Uma Cidade sem raiz não é Cidade, é cenário da peça de teatro do Grupo Cénico Povoense.
Elevar a Póvoa não é ajudar apenas os grandes, não é gastar milhões em concertos para meia dúzia brilhar.
Com esses milhões podiam ajudar centenas, fortalecer a cultura local, levantar comércio, apoiar quem trabalha na sombra, dar vida à terra em vez de vida ao ego.
E diante de tudo isto, é justo perguntar:
Que vantagens reais traz ser Cidade?
Melhora alguma coisa para quem vive aqui?
Ou é apenas título bonito, placa nova, discurso inflado?
Haverá desvantagens?
Aumento de custos, mais exigências, mais burocracia, mais peso no bolso de quem já paga demais?
Quem paga o futuro que anunciam?
O povo.
Não seria correcto perguntar ao povo se quer esta mudança?
Um referendo seria o mínimo.
Porque uma Cidade faz-se com o povo, não contra o povo. Não por vaidade!
Para elevar a Póvoa de Lanhoso a Cidade não basta embelezar a Vila, é preciso que todo o concelho cresça como um só corpo vivo.
O Castro de Lanhoso, maior monípulo da Península Ibérica, ergue-se no topo com o castelo onde D. Teresa foi rendida pelo próprio filho, D. Afonso Henriques.
A encosta desce com a igreja do Pilar, o restaurante e as capelas alinhadas até à estrada.
Um telesférico que ligasse a Vila a este monte histórico traria turismo verdadeiro, renovaria movimento e daria vida económica a quem trabalha na terra da Maria da Fonte.
Os rios do concelho são riqueza esquecida.
O Cávado e o Ave podiam renascer em parques aquáticos e zonas de lazer.
A barragem das Andorinhas tem potencial para se tornar referência regional, capaz de atrair visitantes, criar emprego e fortalecer a economia.
O aeródromo é outra peça que falta.
Serviria urgências médicas, apoio à polícia, ligações rápidas a Braga, Bragança e outras terras, abrindo caminho ao turismo, à saúde e aos serviços modernos que hoje não existem.
E é preciso dizer o essencial:
Uma Cidade só nasce quando todas as freguesias crescem com ela.
No Alto e no Baixo concelho existem hotéis que lutam para sobreviver, com poucos clientes, porque a Vila não gera movimento suficiente para os alimentar.
O desenvolvimento não é só da Vila, é de cada aldeia, de cada povoação, de cada freguesia.
Só quando todas forem fortes, unidas num só corpo, o concelho inteiro se tornará bolo gigante, capaz de sustentar o nome de Cidade com verdade e dignidade.
Enquanto não houver respostas claras, transparentes e verdadeiras, a sensação é esta, simples como uma pedra que cai do camião do Sanfão num charco de água: este estatuto serve mais o ego de quem governa do que a necessidade de quem aqui vive.
A Póvoa de Lanhoso merece mais do que um título, merece verdade, trabalho, justiça e futuro.
E o futuro só começa quando deixarem de maquilhar a Vila e começarem realmente a construí-la.
autor: Quelhas
Revista Repórter X Editora Schweiz Oficial

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