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domingo, 12 de novembro de 2023

Alma Viva, o filme português premiado em Cannes. Depois a cineasta dá entrevista à Repórter X. Mais tarde ganha os Globos de Ouro na SIC...

Alma Viva, o filme português premiado em Cannes. Depois a cineasta dá entrevista à Repórter X. Mais tarde ganha os Globos de Ouro na SIC...




Alma Viva, o filme português premiado em Cannes

 

À conversa com Cristèle Alves Meira, na companhia de João Carlos `Quelhas´, Fernando Leão e a voz de introdução de Euclides Cavaco.

 

Nascida em Montreuil, Seine-Saint-Denis, França, a 18 de Fevereiro de 1983. É realizadora do filme “ALMA VIVA”, actualmente em exibição.

 

É também actriz e argumentista, sendo uma cineasta, professora de cinema, directora de teatro, roteirista e documentarista. Estudou na Universidade de Paris.

O filme está a ser passado nas salas de cinema europeias, sendo a sua realizadora proposta para uma homenagem na 11ª Gala da Revista Repórter X, que será realizada em 27 de Maio corrente.

 

O pai nasceu em Subportela, Viana do Castelo, e a mãe nasceu em Junqueira, Vimioso, distrito de Bragança.

 

A Cristèle fez um documentário em Cabo Verde, intitulado “Som Morabeza” e outro em Angola, intitulado “Born em Luanda”. Depois, fez curtas metragens ficcionais em Portugal, tais como “Sol Branco” e “Campo de Figuras” (seleccionado para o festival de cinema de Cannes), estando já a preparar outra, “Invisível Herói”. Fez encenações e filmes, chegando agora ao “Alma Viva”, já apresentado no festival de Cannes.

 

A realizadora confessa que sentiu enorme orgulho em representar Portugal. Sobretudo, por ser uma luso-descendente francófona. Recorda que tem sucesso, depois da vida dura que obrigou os pais a fugir da precariedade portuguesa, no tempo de Salazar. Por outro lado, sente que os portugueses não vêem muito bem os emigrantes na sua terra de origem, e que estes também têm dificuldade de integração nos países de acolhimento, pelo que esta sua vitória sabe ainda melhor e é um apontamento positivo na vida difícil dos emigrantes, que têm de trabalhar muito. Presentemente, sente orgulho em ter dupla nacionalidade, por se sentir integrada e acolhida pela crítica nos dois países, tanto que fala bem as duas línguas. Nas suas idas a Portugal, descobre as tradições e as memórias, junto dos avós, e que procurou colocar no filme “Alma Viva”, falando das mitologias da aldeia e da cultura popular portuguesa, sendo um elogio à língua de Camões. Cristèle teve a sorte de frequentar cursos de português em França, com lições de história e geografia, por acção da embaixada e consulados, colaborantes entre os dois países. Infelizmente, os filhos da cineasta já não têm essa possibilidade. A seu custo, a cineasta procurou ter um ritual familiar, de falar português com os filhos, nas histórias, cantigas e rezas, que lhes contava.  Contudo, os filhos compreendem razoavelmente o português, mas não o falam. Mesmo assim, colocou como protagonista do filme a própria filha, o que obrigou a um curso intensivo, para ela, em Vimioso, durante um trimestre, integrada na quarta classe, para poder ter a capacidade de falar com a avó. Lamenta que os políticos tenham deixado de se interessar pela língua portuguesa para os emigrantes e luso-descendentes.

 

Cristèle resumiu o filme, descrevendo a história de uma família e a relação de uma neta com a avó, que morre em circunstâncias estranhas. Isso provoca o regresso da família à terra de origem, em Portugal, accionando outras personagens, com a particularidade de um irmão estar desavindo com a família e não querer saber do funeral, nem da herança, não se deslocando dos Açores à terra. Uma herança pobre, mas bem feita e sem falsidades. Foi buscar actrizes ao filme “Gaiola Dourada” do Ruben Alves.

 

O filme retrata a paisagem rural, os rebanhos, a gastronomia, os cafés, as festas de aldeia e as conversas de lazer. O filme é o sentimento inverso da ida de férias à aldeia portuguesa; é um momento de dor, que fala de catástrofe, que fala dos contraditórios entre religião e bruxaria. Embora, no filme, ela tenha ido buscar também os preconceitos da bruxaria francesa, porque a humanidade vive muito dessa contradição. De que alguém quer o nosso mal, semeando as relações difíceis na comunidade e entre vizinhos. É disso que o filme trata. Trata da dificuldade da relação entre as pessoas. A própria cena de pescar à bomba, feita por um cego, que se armava em feiticeiro, retrata isso. A própria ideia de que as aldeias valem mais com os emigrantes é tratada, mostrando que a própria aldeia tem muito para contar e muitos valores para explorar.

 

 

O filme vai estrear também na Suíça, no cinema Gruleti, onde será feita uma apresentação com ela, dia 1 de Maio. Depois, em Lausanne, no cinema City club.

A cineasta estava muto preocupada em despachar a amena conversa, pois que tinha uma aula para dar.

 

Em resposta à curiosidade de se ter borrifado a morta e se ter adiado o funeral, a cineasta explica que isso é a consequência de o regresso dos emigrantes trazer muitas prendas para a aldeia, e quiseram não desperdiçar o que traziam. A cena da mosca, no nariz da defunta, que era uma boneca muito realista, retrata o reforço da morte e decomposição. A morte das galinhas é outra temática ligada à bruxaria, mas que desmistifica a própria bruxaria. O funeral, sem padre, retrata o paganismo sem a religiosidade.

 

Com a entrada na conversa, de Fernando Leão, levou-se o tema para o elogio do papel da cineasta na divulgação da cultura portuguesa, que até surpreende, por serem os mais novos a fazer isso, já desligados de Portugal. Por isso, quis agradecer muito o empenho da cineasta nisso, classificando-a como uma pérola da nossa cultura, e era por isso que estava nomeada, para ser condecorada na Gala da Revista Repórter X.

 

A cineasta agradeceu e mostrou receptividade para isso, e até para dinamizar convívios musicais de portugueses. Igualmente, deixou o desafio para as pessoas se inscreverem nas páginas sociais da cineasta e poderem trocar informação e acções de divulgação literária da língua portuguesa.

 

Encerrou-se a conversa, voltando a referir a biografia da cineasta, que Fernando Leão voltou a louvar, referindo que as sucessivas gerações de portugueses emigrados mantêm a nossa cultura e nome de Portugal bem alto e rejuvenescido.

Foi relatado o patrocínio da Agência César’s AG à conversa, agradecendo particularmente ao Sr. André Lopes, pelo apoio à revista, a qual também patrocina estas conversas com portugueses de excelência.

 

Revista Repórter X Editora Schweiz Oficial

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