Alma Viva, o filme português premiado em Cannes. Depois a cineasta dá entrevista à Repórter X. Mais tarde ganha os Globos de Ouro na SIC...
Alma Viva, o filme português premiado em Cannes
À
conversa com Cristèle Alves Meira, na companhia de João Carlos `Quelhas´,
Fernando Leão e a voz de introdução de Euclides Cavaco.
Nascida em Montreuil, Seine-Saint-Denis,
França, a 18 de Fevereiro de 1983. É realizadora do filme “ALMA VIVA”,
actualmente em exibição.
É também actriz e argumentista, sendo uma
cineasta, professora de cinema, directora de teatro, roteirista e
documentarista. Estudou na Universidade de Paris.
O filme está a ser passado nas salas de
cinema europeias, sendo a sua realizadora proposta para uma homenagem na 11ª
Gala da Revista Repórter X, que será realizada em 27 de Maio corrente.
O pai nasceu em Subportela, Viana do
Castelo, e a mãe nasceu em Junqueira, Vimioso, distrito de Bragança.
A Cristèle fez um documentário em Cabo
Verde, intitulado “Som Morabeza” e outro em Angola, intitulado “Born
em Luanda”. Depois, fez curtas metragens ficcionais em Portugal, tais como
“Sol Branco” e “Campo de Figuras” (seleccionado para o festival de cinema
de Cannes), estando já a preparar outra, “Invisível Herói”. Fez
encenações e filmes, chegando agora ao “Alma Viva”, já apresentado no
festival de Cannes.
A realizadora confessa que sentiu enorme
orgulho em representar Portugal. Sobretudo, por ser uma luso-descendente
francófona. Recorda que tem sucesso, depois da vida dura que obrigou os pais a
fugir da precariedade portuguesa, no tempo de Salazar. Por outro lado, sente
que os portugueses não vêem muito bem os emigrantes na sua terra de origem, e
que estes também têm dificuldade de integração nos países de acolhimento, pelo
que esta sua vitória sabe ainda melhor e é um apontamento positivo na vida
difícil dos emigrantes, que têm de trabalhar muito. Presentemente, sente
orgulho em ter dupla nacionalidade, por se sentir integrada e acolhida pela
crítica nos dois países, tanto que fala bem as duas línguas. Nas suas idas a
Portugal, descobre as tradições e as memórias, junto dos avós, e que procurou
colocar no filme “Alma Viva”, falando das mitologias da aldeia e da cultura
popular portuguesa, sendo um elogio à língua de Camões. Cristèle teve a sorte
de frequentar cursos de português em França, com lições de história e
geografia, por acção da embaixada e consulados, colaborantes entre os dois
países. Infelizmente, os filhos da cineasta já não têm essa possibilidade. A
seu custo, a cineasta procurou ter um ritual familiar, de falar português com
os filhos, nas histórias, cantigas e rezas, que lhes contava. Contudo, os filhos compreendem razoavelmente
o português, mas não o falam. Mesmo assim, colocou como protagonista do filme a
própria filha, o que obrigou a um curso intensivo, para ela, em Vimioso,
durante um trimestre, integrada na quarta classe, para poder ter a capacidade
de falar com a avó. Lamenta que os políticos tenham deixado de se interessar
pela língua portuguesa para os emigrantes e luso-descendentes.
Cristèle resumiu o filme, descrevendo a
história de uma família e a relação de uma neta com a avó, que morre em
circunstâncias estranhas. Isso provoca o regresso da família à terra de origem,
em Portugal, accionando outras personagens, com a particularidade de um irmão
estar desavindo com a família e não querer saber do funeral, nem da herança,
não se deslocando dos Açores à terra. Uma herança pobre, mas bem feita e sem
falsidades. Foi buscar actrizes ao filme “Gaiola Dourada” do Ruben
Alves.
O filme retrata a paisagem rural, os
rebanhos, a gastronomia, os cafés, as festas de aldeia e as conversas de lazer.
O filme é o sentimento inverso da ida de férias à aldeia portuguesa; é um
momento de dor, que fala de catástrofe, que fala dos contraditórios entre
religião e bruxaria. Embora, no filme, ela tenha ido buscar também os
preconceitos da bruxaria francesa, porque a humanidade vive muito dessa
contradição. De que alguém quer o nosso mal, semeando as relações difíceis na
comunidade e entre vizinhos. É disso que o filme trata. Trata da dificuldade da
relação entre as pessoas. A própria cena de pescar à bomba, feita por um cego,
que se armava em feiticeiro, retrata isso. A própria ideia de que as aldeias
valem mais com os emigrantes é tratada, mostrando que a própria aldeia tem
muito para contar e muitos valores para explorar.
O filme vai estrear também na Suíça, no
cinema Gruleti, onde será feita uma apresentação com ela, dia 1 de Maio.
Depois, em Lausanne, no cinema City club.
A cineasta estava muto preocupada em
despachar a amena conversa, pois que tinha uma aula para dar.
Em resposta à curiosidade de se ter
borrifado a morta e se ter adiado o funeral, a cineasta explica que isso é a
consequência de o regresso dos emigrantes trazer muitas prendas para a aldeia,
e quiseram não desperdiçar o que traziam. A cena da mosca, no nariz da defunta,
que era uma boneca muito realista, retrata o reforço da morte e decomposição. A
morte das galinhas é outra temática ligada à bruxaria, mas que desmistifica a
própria bruxaria. O funeral, sem padre, retrata o paganismo sem a religiosidade.
Com a entrada na conversa, de Fernando
Leão, levou-se o tema para o elogio do papel da cineasta na divulgação da
cultura portuguesa, que até surpreende, por serem os mais novos a fazer isso,
já desligados de Portugal. Por isso, quis agradecer muito o empenho da cineasta
nisso, classificando-a como uma pérola da nossa cultura, e era por isso que
estava nomeada, para ser condecorada na Gala da Revista Repórter X.
A cineasta agradeceu e mostrou receptividade
para isso, e até para dinamizar convívios musicais de portugueses. Igualmente,
deixou o desafio para as pessoas se inscreverem nas páginas sociais da cineasta
e poderem trocar informação e acções de divulgação literária da língua
portuguesa.
Encerrou-se a conversa, voltando a
referir a biografia da cineasta, que Fernando Leão voltou a louvar, referindo
que as sucessivas gerações de portugueses emigrados mantêm a nossa cultura e
nome de Portugal bem alto e rejuvenescido.
Foi relatado o patrocínio da Agência
César’s AG à conversa, agradecendo particularmente ao Sr. André Lopes, pelo
apoio à revista, a qual também patrocina estas conversas com portugueses de
excelência.
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