RETRATOS…
EMANUEL, NÃO SOU RICO
Só sai de casa para trabalhar, diz que vai
haver Domingão mais dois anos e que ganha bem, mas não é milionário. Estas são
confissões do cantor, feitas depois de sete horas em cima do palco. E ainda conta
como convenceu o “iluminado” Daniel Oliveira.
-
Emanuel, sete horas de trabalho seguidas…
- E gosto de trabalhar. Esta é uma profissão
muito agradável, em que se dá e se recebe, portanto não é assim tão difícil.
-
Não há cansaço?
- Não vou dizer que não há, mas nada de
preocupante. Foram cinco horas de camião, mais uma de preparação, mais uma hora
e meia de concerto, são oito horas sempre a dar, mas desde que a voz não falhe,
e fiz uma boa gestão hoje é tarde, o resto há energia para isso.
-
Como é essa gestão?
- De respiração, de cuidado, são muitos anos nesta
profissão. Há 28 anos que eu tive a sorte de me aparecer um sucesso, portanto
são muitos concertos e viagens por todo o Mundo em diferentes situações.
Aprendemos a racionar e a controlar o corpo para fazer aquilo que é preciso.
-
Como vai gerir a agenda de verão com os domingos na SIC?
- Aos domingos está sempre ocupada para concertos.
Só se juntarmos o Domingão com o concerto no mesmo dia e então faz-se. O
Domingão está primeiro. Quarenta e nove domingos estão sempre marcados. Só há
agenda para essa noite se for como eu disse.
-
Qual é o público que o ouve agora?
- Eu tenho público dos 13 aos 80 e alguns com
90 anos. Tenho essa sorte. Sou um músico e um compositor que compõe a vida e,
portanto, atinjo grandes massas.
-
Quando fez a proposta à SIC, do camião, achou que ia durar tanto tempo?
- Achava que ia ser
temporária, mas à medida que o programa foi avançando, e eu comecei a ver o fenômeno
em que a ideia se tornou, percebi que não ia parar e não vai, garantidamente,
mais dois anos, pelo menos. É imprevisível quanto esta ideia vai durar.
-
Como nasce esta ideia?
- O meu filho Samuel é arquiteto, como vocês
sabem, e é produtor da minha empresa. Ele criou este conceito e camião-palco.
Esta ideia de atuar em camiões é velha, mas era nos autocarros sem teto. Ele
criou um palco em cima de uma galeria de um camião. Foi uma ideia original dele
para o meu concerto. Como as câmaras anularam todos os concertos, com empregados
e ordenados para pagar, imaginem, porque eu não acredito naquelas coisas de que
vinham os subsídios, e tenha razão, tinha ordenados para pagar e fui à luta.
- E é aí
que surge a SIC?
- A ideia seguinte foi ´não há concertos,
vamos fazer uma coisa que nunca ninguém fez: um estúdio de televisão itinerante
para ir às aldeias e a todo o lado´. Nós temos lá tudo. Um estúdio de televisão
em miniatura, mas que funciona.
-
Tem casa de banho?
- O camião tem casa de banho, tem camarim, tem
sala de máquinas, tem cinco espaços de pequenas régies…
- E
o camião é seu?
- Sim. Esta ideia foi proposta ao Daniel, que
é um homem iluminado como todos sabem. Às 11 horas da noite mando-lhe um e-mail,
logo num 3 D, muito bem feitinho. Ao outro dia, por volta do meio-dia, ele disse:
`Emanuel grande ideia, vamos a isto´. E assim terminou a ideia e começou outra.
- A pandemia já lá vai e o camião ficou.
-
Quando as ideias são originais, são o princípio de alguma coisa e o resultado
tem mais probabilidade de durar, acho que é o caso.
-
Com os domingos todos ocupados, a família não chateia?
- Não, porque eu tenho os dias de semana. E
não tenho espetáculos todos os dias, eu trabalho em casa. Tinha um estúdio de
gravação que desmontei e, portanto, tenho o meu estúdio. Os meus filhos quando
saem de casa, eu estou lá a dormir, mas estou. Quando chegam estou em cada. É uma
vida muito porreira, muito sadia…
- O
que faz nos tempos livres?
- Eu não tenho
tempos livres. Eu sou viciado em trabalho, só que consigo conjugar trabalho com
família, porque estou em casa e, por sorte, os meus filhos, os que ainda estão
em casa, que são três, são muito parecidos comigo. Satisfazem-se com o seu eu e
não precisam do exterior para serem felizes, para se encontrarem. Não
precisamos de estar ali a toda a hora, temos os nossos momentos e a hora de
jantar é sagrada. Temos uma espécie de resumo do dia. Só saio para os concertos
e para o Domingão.
- Não
há nada que goste de fazer quando há tempos livre?
- Só se for para servir a família. Eu, de
resto, tenho tudo o que preciso. Tenho uma família fantástica, tenho uma
profissão maravilhosa, até sou bem remunerado, mas não sou rico. Sou saudável e
trato muito bem de mim, por dentro e por fora.
- O
que faz?
- Levo este corpo muito a sério.
Disciplinei-me a ponto de gostar de comida saudável. Faço exercício, faço umas
pequenas caminhadas e tenho um ginásio lá em casa. É tudo a que a disciplina
tem direito. Sou um homem de objetivos, muito focado. Eu foquei-me em ser um
homem saudável, em ser jovem mais tempo, 66 anos, para mim, é apenas um número.
Orlando
Fernandes, jornalista
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