Sempre ouvi dizer que,
muitas vezes, dá mais quem menos tem!
Agora, não ouço só, sou
capaz de ver. Vejo que são as pessoas a quem a vida menos sorri a oferecer um
sorriso às pessoas com quem se cruzam. Vejo que são as pessoas a quem a vida
menos ajudou a estender a mão às pessoas que, de outra forma, deixariam cair os
braços. Vejo que são as pessoas para quem a vida menos olhou a olhar pelas
outras. Vejo que são as pessoas mais castigadas pela vida a perdoar primeiro.
Vejo que são as pessoas que a vida mais quis magoar a aliviar o sofrimento das
outras. Vejo que são as pessoas que não foram amadas como mereciam amar
desmedidamente as outras. Vejo que só compreende a vida quem teve de aprender
por si. Na dor pequena não cabe a grande, mas a grande todas as dores
compreendem. Há uns tempos, fui ao hospital acompanhar uma colega alemã que
estava doente e enquanto estivemos à espera que a minha colega fosse chamada
para fazer exames, outras pessoas aguardavam também a sua vez ou a da pessoa
que estavam a acompanhar. Entre essas pessoas, houve uma que me chamou a
atenção. Um homem, já não muito novo, com um casaco ao xadrez, talvez ainda
mais velho do que ele, que o engolia de tão grande que era, permanecia de pé ao
lado de uma maca, onde estava deitada uma senhora, que vim a perceber ser a sua
mãe. Eu gostava de ser capaz de descrever o olhar do homem descido sobre o
rosto da mãe, mas não sou. Havia amor e cansaço e medo. E, enquanto os dedos
magros do homem passavam pelos cabelos brancos da mãe, o casaco parecia ainda
maior e mais desbotado e pensei que talvez nos dias daquele homem, que se
abandonava assim à ternura dos gestos que repetia, tudo na vida o tivesse
abandonado e nada tivesse sido à sua medida, nada, a não ser o amor da mãe.
A minha colega lá foi
chamada diagnosticada. Viemos embora, mas sempre com a minha cabeça naquela
imagem de ternura...
Desejo a todos
assinantes e colaboradores e a todos que ajudam a Revista Repórter X a ter um
calor enorme através da sua escrita aos seus leitores.
Um Natal cheio de Saúde
Amor e que o Ano Novo traga paz ao mundo inteiro.
Maria Kosemund
Representante Alemanha
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