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quinta-feira, 9 de janeiro de 2025

Crítica: O Panteão Nacional – Homenagem ou Esquecimento Cultural?

Crítica: O Panteão Nacional – Homenagem ou Esquecimento Cultural?




A tradição de trasladar figuras públicas para o Panteão Nacional em Lisboa continua a suscitar debate e controvérsia. A questão que muitos colocam é se estas homenagens póstumas são verdadeiros tributos ou meras estratégias de autopromoção governamental.

Entre os nomes eternizados no Panteão estão Amália Rodrigues, Sophia de Mello Breyner Andresen, Eusébio, Humberto Delgado, Aquilino Ribeiro, João de Deus, Almeida Garrett, Guerra Junqueiro, Sidónio Pais, Teófilo Braga, Óscar Carmona e Manuel de Arriaga.

Mas o porquê de todos estes autores, escritores e personagens públicas terem lugar no Panteão? Será que têm mais valor ou capacidade do que outros que, em vida, contribuíram de igual forma para a cultura e história do país?

A questão levanta-se também quanto ao impacto cultural e local dessas trasladações. Quando um corpo ou cinzas são removidos do local onde estavam sepultados, as terras de origem perdem a sua ligação histórica e cultural com essas figuras. Locais que antes atraíam visitantes e romeiros veem-se empobrecidos, enquanto Lisboa se torna o centro exclusivo dessas memórias.

Um exemplo citado é o de Eça de Queiroz, cujo nome é hoje símbolo cultural, mas cuja trasladação levanta dúvidas sobre o desejo pessoal do próprio autor ou o impacto sobre a comunidade de onde provinha.

Esta centralização das memórias no Panteão Nacional levanta ainda dúvidas sobre a verdadeira intenção por trás dessas cerimónias. Serão realmente homenagens, ou apenas estratégias políticas para associar governantes a figuras prestigiadas?

Para muitos, o reconhecimento deveria ser dado em vida, quando os artistas, escritores e figuras públicas podem usufruir do apoio e valorização que merecem. Em vez disso, o Estado parece preferir enaltecer estas personalidades apenas após a morte, com cerimónias grandiosas que pouco contribuem para a continuidade do legado deixado.

A crítica vai mais longe, sugerindo que essas homenagens podem mesmo contrariar os desejos das famílias ou dos próprios homenageados. Afinal, será que todos eles gostariam de ter sido levados para o Panteão?

Enquanto autor, escritor, crítico e político, deixo claro que não quero ser levado para o Panteão. Prefiro ser lembrado pelo impacto das minhas palavras e ações enquanto estou vivo, do que ser transformado numa peça simbólica de um espetáculo público após a morte.

E digo mais: não me levem para o Panteão, porque, se me levarem, eu voltarei cá para vos atemorizar a vida, porque eu serei apenas cinza.

Por que razão continuamos a insistir nesta tradição? Será o Panteão um verdadeiro tributo ou apenas uma forma de apagamento cultural das origens e raízes daqueles que lá repousam?

Revista Repórter X Editora Schweiz Oficial

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