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quarta-feira, 8 de janeiro de 2025

Eu não quero ir para o Panteão porque eu serei apenas cinza

Eu não quero ir para o Panteão porque eu serei apenas cinza



Eu não quero ir para o Panteão. Não me leveias. Que mania que os vivos têm de dar estátuas ou de fazer estátuas aos mortos quando, em vida, não lhes deram o seu devido valor.

O porquê de os vivos inteligentes quererem levar pessoas para o Panteão Nacional?

O porquê de os vivos inteligentes quererem levar pessoas para o Panteão Nacional?

O porquê de os vivos inteligentes quererem levar pessoas para o Panteão Nacional?

O porquê de os vivos inteligentes quererem levar pessoas para o Panteão Nacional?

Será que aqueles que estão no Panteão merecem mais do que eu quando eu morrer?

Será que merecem mais do que eu ou mais do que outros que também gostariam de ir para lá em vida?

Pensam em ir para lá, e se calhar, alguns que morreram nem gostavam de ter ido.

Essas famílias também são controversas porque, muitas vezes, não querem os seus a ir para lá.

Porquê? Porque quando um cantor, um escritor, ou outro qualquer, vai para o Panteão, como o caso do Eça de Queiroz, por exemplo, torna-se uma autopromoção do governo.

Os representantes do governo fazem dessas trasladações uma forma de autopromoção.

Pegam em figuras famosas ou tornam-nas famosas para ficarem associados a esses nomes.

Mas, no fundo, será que essas pessoas, quando morreram, queriam mesmo ir para o Panteão? Ou será que as famílias foram obrigadas a aceitar essa decisão?

Quando há uma trasladação de um corpo ou de cinzas de um chamado famoso para o Panteão, os romeiros, as pessoas da terra, as de fora, ou até os estrangeiros, deixam de visitar o local onde eles estavam sepultados ou onde tinham uma capela com as suas cinzas.

Esses locais, que culturalmente enriquecem as terras de onde essas figuras são originárias, acabam por perder a sua importância.

E quando são transladados para Lisboa, deixam para trás a história e o valor cultural que mantinham nessas terras, concentrando tudo num único lugar e empobrecendo as tradições e a memória local.

A questão sobre a trasladação de figuras notáveis para o Panteão Nacional levanta um debate profundo sobre reconhecimento e memória. Muitos questionam se a homenagem póstuma em forma de estátua ou sepultura em local de destaque é, de facto, um verdadeiro tributo, especialmente quando, em vida, essas personalidades não receberam o devido reconhecimento, apoio ou valorização.

O desejo de perpetuar a memória de certas figuras no Panteão pode ser interpretado como um esforço coletivo para redimir falhas passadas, preservar a história ou inspirar futuras gerações. Contudo, também pode ser visto como um gesto tardio e simbólico, que pouco acrescenta ao impacto real que essas pessoas tiveram durante a sua existência.

No Panteão Nacional em Lisboa encontram-se sepultados: Amália Rodrigues, Sophia de Mello Breyner Andresen, Eusébio, Humberto Delgado, Aquilino Ribeiro, João de Deus, Almeida Garrett, Guerra Junqueiro, Sidónio Pais, Teófilo Braga, Óscar Carmona e Manuel de Arriaga.

O porquê de todos estes autores, escritores e personagens públicas terem lugar no Panteão?

Será que têm mais capacidade?

O porquê de todos estes autores, escritores e personagens públicas terem lugar no Panteão?

Será que têm mais capacidade?

O porquê de todos estes autores, escritores e personagens públicas terem lugar no Panteão?

O porquê de todos estes autores, escritores e personagens públicas terem lugar no Panteão?

Sou autor, escritor, crítico e político. E digo claramente que não quero ir para o Panteão.

Não quero ser parte de uma tradição que ignora a memória cultural e as raízes locais para alimentar autopromoções governamentais.

Prefiro ser lembrado pelo meu trabalho e pelo impacto que tive em vida, em vez de ser usado como símbolo numa homenagem tardia que nada mais é do que um espetáculo público.

E digo mais, não me levem para o Panteão, porque, se me levarem, eu voltarei cá para vos atesorar a vida, porque eu serei apenas cinza.

Revista Repórter X Editora Schweiz Oficial

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