Assisti em tempos, ás mulheres que atravessavam o Santuário de Fátima até à Capelinha da Aparições, sempre de joelhos, por vezes já em ferida, porque a Senhora lhes devolvera o filho da guerra, ou porque a filha tivera um bom parto.
Mas Fátima, é pouco mais que nada comparado com Santiago de Compostela. Não há a grandiosidade arquitectónica, nem todo o aparato de ouro de Compostela…
São Tiago de Compostela
A
história das religiões também nos conta os diversos exageros, para não falar de
crimes, cometidos ao abrigo de uma fé professada por uns, e abominada por
outros, mas a verdade é que a coberto da expansão da fé cristã, junto daqueles
que a Igreja de Roma considerava infiéis, fizeram-se guerras, matando e
destruindo tudo aquilo que se lhes opusesse.
Há
alguns meses, tive o privilégio de visitar e passear pelas ruas de Guadix,
situada a poucos quilómetros de Granada, e pude constatar in loco, o que são as
casas Cuevas, ou em bom português, Covas, onde se abrigaram, e esconderam, os
mouros, literalmente debaixo da terra, quando os reis católicos, Isabel e
Fernando os expulsaram de Granada.
Os
ricos puderam regressar às suas terras em África, mas os pobres, que na sua
maioria já nascidos em solo castelhano, nada restava senão esconderem-se, e aí
sobreviver… são assim os homens…
Nem
nos esqueçamos que o nosso país à beira mar plantado, também teve na sua origem
uma das cruzadas do ocidente, dirigida por dois franceses, entre eles D.
Henrique, que viria a ser premiado com o casamento com a D. Teresa e com o
condado portucalense, e cujo objectivo era, como sempre, expulsar os infiéis,
que no caso deste reino só viria a acontecer lá por alturas do reinado de D.
Afonso III que pelo facto adoptou o título Rei de Portugal e dos Algarves…
O
homem, vestido da sua vulgar humanidade, não deve, nem pode, afirmar ser o seu
Deus, o verdadeiro, o único, nem tão pouco o seu corpo físico, dotado de razão,
permite afirmar, com científica probabilidade a sua real existência…
Ao
longo dos séculos foram os homens debatendo, pesquisando, estudando de forma a
obter inequívocas provas da magnânime existência de Deus…
Dúvidas
à parte, o certo é que a desde o amanhecer das civilizações que o cristianismo
se impôs na Europa, e se nos primórdios da sua fé se refugiavam em catacumbas,
escondidos para proteger as suas vidas, e aquilo em que acreditavam, breve se
tornariam os algozes de todos aqueles que duvidavam ou professavam outros
credos…
O
homem, sempre teve tendência para impor o seu ponto de vista… daí as cruzadas,
que sempre premiadas, e essas mesmas cruzadas serviriam para permitir que os
reis católicos de Castela pudessem expulsar os árabes da península, e sabe
Deus, se existe, com quanta maldade, tornando escravas as suas mulheres,
saqueando os seus haveres…
Sempre
em nome de Deus, ontem como hoje, muitos foram vilipendiados, mutilados,
desmembrados, e até pela Santa Inquisição queimados…
Tudo
isto a propósito da grandiosidade do que vi em Santiago de Compostela… é
verdadeiramente esmagador tanto esplendor, tanta riqueza…
É
inegável o legado cultural da Igreja Católica, durante séculos foram os únicos
a promover a arte, em todas as suas vertentes…não havia arte nem cultura senão
sob a égide dos mecenas das igrejas, que entre si competiam pela grandiosidade
e esplendor…
Assisti
em tempos, ás mulheres que atravessavam o Santuário de Fátima até à Capelinha
da Aparições, sempre de joelhos, por vezes já em ferida, porque a Senhora lhes
devolvera o filho da guerra, ou porque a filha tivera um bom parto.
Mas
Fátima, é pouco mais que nada comparado com Santiago de Compostela. Não há a
grandiosidade arquitectónica, nem todo o aparato de ouro de Compostela…
Em
Santiago, a Catedral irradia tamanho fausto e riqueza que nos sentimos
pequeninos, o conjunto transpira fausto e riqueza por todos os poros das suas
pedras. As Igrejas, os conventos de ancestrais pedras compõem todo o núcleo
histórico, não sendo difícil adivinhar a sua antiguidade.
Sentada
na escadaria, da entrada principal da Catedral, senti/vivi o contraste, o
esplendor dos edifícios, e a simplicidade, quase pobreza dos peregrinos que ali
vão prestar a sua homenagem, imbuídos de uma enorme fé, e pedir proteção a um
apóstolo de Jesus Cristo de nome Tiago, que reza a lenda ali estará sepultado.
O
peregrino, de mochila ás costas, ténis empoeirados, apoiado numa rude bengala,
chega cansado, mas feliz na sua fé, senta-se nas pedras do chão e olha a
imensidão do que os homens construíram para a Igreja, Reis, Papas e Bispos…
Como
admiro a fé do peregrino! E como sofro as dores de todos aqueles que com suas
mãos e rudes ferramentas construíram, a mando de quem tinha o poder, aqueles
monumentos verdadeiros obras de arte, que vieram de tempos idos, e ficarão
depois de nós, pelos séculos dos séculos, até que a fúria dos ventos esmague as
pedras que os sustentam…
Dra. Lídia Silvestre, jurista
Dra.
Lídia Silvestre na Galiza, na ria de Vigo a comer mexilhões gigantes!...
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