A História do Natal
Porque os eruditos da Igreja Católica assim entenderam, o Natal celebra-se a 25 de dezembro, data em que supostamente Jesus Cristo terá nascido em Belém.
Sabemos todos, que tal data e local não são passiveis de confirmação histórica, mas se aceitamos como boas as lendas do nascimento e vida da Maria da Fonte, de Pedro Álvares Cabral, ou até Cristóvão Colombo, muitíssimo mais recentes, porque não tomar como boas as teses de que foi em Belém no dia 25 de Dezembro que nasceu o filho de Maria, que tinha por marido José, o carpinteiro, pai de criação, já que rezam as escrituras, Maria concebeu por obra e graça do Espírito Santo, daí a manutenção da virgindade plena mesmo após ter dado à luz…
Ao longo dos séculos muitos foram os homens, leigos ou membros do clero, que se dedicaram ao estudo das escrituras, as velhas, adicionando-lhes novas, porque quem conta um conto, acrescenta um ponto, e chegámos à Bíblia, apelidada de sagrada, embora todos saibamos que foram homens, talvez comuns mortais, que a escreveram, compuseram e interpretaram…
De noites e noites de incessantes estudos, desde São Tomás de Aquino até aos nossos dias, muito se foi adicionando ao espírito de Natal, que na europa se celebra nesta data, desde o sec. XVI, na sequência da Bula papal de Gregório XIII que aprovava o Calendário Gregoriano, que entraria em vigor a 15 de outubro de 1582, e o qual se destinava a substituir o calendário Juliano, em vigor desde os tempos de Júlio César.
Ora a comissão nomeada pelo papa, encarregada de elaborar o novo calendário tinha como directiva principal a correcção do erro de 10 dias, que andavam meio perdidos no calendário Juliano, objectivo atingido com a adopção de 4 meses de 30 dias, os restantes de 31, e um de 28, a fixação de feriados, incluindo o Natal, e o inicio do ano, tudo bem aceite pela comunidade cientifica da época, sec. XVI, sendo a maior crítica a este novo(?) calendário a mobilidade da Páscoa, dia da ressurreição de Jesus, e por consequência também a mobilidade da terça feira de Carnaval ( Carne Valle) que ocorre 40 dias depois...
Tal critica, oriunda dos então pouco assumidos cépticos, era muito perigoso ser céptico no sec. XVI, numa Europa exageradamente católica, assentava na ideia de que para os Cristãos não há dúvidas no dia do nascimento de Cristo, mas ninguém tem a certeza da data da sua morte, logo a sua ressurreição também será, ela própria incerta…
Postos estes considerandos sobre a data, ou datas, já que a Igreja Ortodoxa também comemoram o Natal, mas no dia 7 de janeiro, realça-se que, apesar do calendário Gregoriano ser oriundo, e ter como principal destino, o mundo católico, á data concentrado no continente europeu, séculos volvidos, e depois da América protestante, a China e até a Rússia o terem adoptado, ele, Natal, não tem o mesmo significado em todos os continentes, nem tão pouco todas as efemérides são celebradas no mesmo dia.
Ressalve-se a propósito a importância do célebre dia de Acção de Graças americano, ou a celebração do Novo Ano Chinês…
A Europa, importou no Sec. XX todos os símbolos do Natal, que americanos foram aprimorando aos longo do tempos, de forma a estimular a economia, sendo o Natal o principal pico das transações económicas, de tal forma que hoje os países da europa celebram o Natal, com presentes para os amigos e conhecidos, com o pai Natal nas lojas a estimular a aquisição de brinquedos para as crianças, com uma proliferação, por vezes exagerada, de iluminações e músicas de Natal, quer pelas autoridades locais, mais uma vez como estímulo ao comércio, e nas casas das famílias, a época de Natal impõe enfeites sem fim, arvores de Natal, bolinhas , estrelas, pendentes, fadas, gnomos, pais natal, azevinho artificial, e luzes muitas luzes, no interior e exterior, sob pena das crianças lá de casa, se sentirem frustradas e/ou esquecidas, e a própria àrvore de Natal, cuja proveniência será consentânea com a vinda do Pai Natal dos países nórdicos, ou terras da neve, e que é obrigatória na sala, pode e deve ser também montada no exterior, para que não restem dúvidas que, ali, se celebra o Natal…
Entretanto, são os próprios americanos, que já sentem a frivolidade da comemoração do Natal, aos poucos, surgem aqui ou ali, sinais de que o “espírito de Natal” faz milagres, e surge uma nova forma, nesta altura é imperioso que se dê uma refeição, um agasalho quente aos sem abrigo, que nesta época, nos lembremos dos pobrezinhos, é o espírito do Natal…
Em boa verdade, quando noutros continentes se tenta inverter um Natal de puro comércio, a europa adere a ele cada vez mais…
Perdeu-se o velho hábito de ao longo dos meses ir construindo, com amor, um presente, ou poema, uma camisola… ou até mais simples fazer um doce, e oferecer…
Portugal, país eminentemente rural até aos anos /80 do Sec. XX, com a maior parte da população a viver em aldeias ou pequenas vilas, mantinha as suas ancestrais tradições de Natal, assentes na forma católica de viver a quadra, onde se celebrava a vinda do Menino Jesus, deixar um prémio no sapatinho dos meninos comportados e obedientes, e, dias antes dos campos, trazia-se o musgo para o presépio, onde de forma mais ou menos literal se colocavam as figuras bíblicas, feitas de madeira, cortiça, barro ou até mesmo cartão pintado pelas crianças, bastando o menino e o casal, e depois tudo o que a imaginação e as mãos dos artífices pudessem construir…
Nas terras do norte do país, não faltava a Missa do Galo, celebrada na noite de Consoada, ponto de encontro de todos, pobres e ricos.
O presépio simples de ontem
No sul, não havia esta tradição nas aldeias, consequência da ausência de igrejas, só as matrizes, nas sedes de concelho, e mesmo algumas freguesias onde houvesse uma igreja, não teriam Padre disponível para tal celebração a desoras, já que o normal seria um Pároco para 4 ou 5 freguesias, acrescido da ausência de estradas que só a revolução traria…
O sistema de latifúndio, e a imensidão de planícies e montados, desprovidos de caminhos transitáveis, trouxeram como consequência inevitável não só o isolamento dos alentejanos, como o seu desligamento das coisas da igreja, onde raramente punham os pés…
Na minha aldeia, não havia Igreja nem capela, nem estrada, sequer… nunca lá esteve um Padre, e o cemitério e Igreja na sede da Freguesia ficava a 17 quilómetros, que naquele tempo, quando necessário, eram feitos por carros puxados por mulas, ou éguas…
Vivia-se o Natal como um dia em que não se trabalhava a terra…
A Véspera de Natal, ou Consoada, era feita junto ao chupão, candeeiro a petróleo, luz, baixinha para não gastar muito, quem matasse porco, tirava do varal uma linguiça para assar no lume com pão torrado no braseiro, e comer ao serão, a acompanhar umas filhoses que as mulheres faziam durante a tarde.
De manhã, era uma correria para as crianças, a tentar adivinhar se haveria ou não prémio no seu sapatinho… não sei o que as outras crianças mais abastadas teriam no seu sapatinho, no meu, em regra, umas meias, uns ovos e um merendeiro da minha avó, umas nozes ou laranjas, da outra avó… e pouco mais.
Entretanto a minha mãe, na cozinha do quintal, para não deixar cheiro a fritos, batia os ovos, cortava o pão duro e fazia as fatias de ovos, cobertas de açúcar amarelo, uma verdadeira iguaria, para o pequeno almoço especial, porque naquele dia, era Dia de Natal…
Dra. Lídia Silvestre, jurista
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