A recordar, em memória do Cientista, Professor, António Joaquim Veloso (povoense)
Na antevéspera de Natal, todos os funcionários iriam confraternizar no final do trabalho. Iria haver uma festa com diversas comidas e bebidas e por fim sorteio do amigo oculto. Porém antes, no início do trabalho, dezenas de cartas dirigidas a Pai Natal recebidas do Correio foram sorteadas entre os empregados que se propuseram a atender algum pedido de crianças de famílias carentes desta cidade. Crianças que nenhum deles conhecia.
Thaís apanhou um envelope qualquer, abriu, mas para sua surpresa não era dirigido a Pai Natal, mas ao Menino Jesus. “Querido Menino Jesus, escrevo para Ti, pois agora sei que Pai Natal não existe e só Tu podes atender a meu pedido”. Há bastante tempo, quando eu tinha seis anos, minha mãe abandonou nossa casa e nunca mais voltou ou tive notícias dela. Ela teve razão para isso, pois meu pai quando bebia gozava-a, partia tudo, ameaçava bater-lhe e às vezes batia.
Foi embora dizendo que Deus não exige sofrimento, tristeza e sacrifício em nome do amor. Se o marido a maltratava era preciso pôr fim ao abuso para o bem dele porque ninguém é dono da vida de outra pessoa. Mas eu, quem eles dois colocaram no mundo, fiquei órfão de uma pessoa viva. Por favor, Menino Jesus! Encontre a minha mãe diga-lhe que sofro muito.”
Desde que ela abandonou o lar eu nunca mais me senti bem, adoeço com frequência e na escola sou um dos piores alunos. Minha avó e meu pai, quando sóbrio são bons para mim, mas ninguém pode substituir minha a mãe. Se ela souber que me encontro doente e não consigo melhorar, ela vai voltar para me ver. Menino Jesus diz para ela voltar, só Tu sabes onde ela está, eu não sei por onde anda mas ela sabe onde é nossa casa. Quando Thais leu isto, seus olhos se encheram de lágrimas. Era a carta de seu filho.
O grupo estava animado na confraternização de fim de ano que acontecia nessa noite. Mas o pensamento dela estava num subúrbio distante onde um dia foi o seu lar. Acreditou que não existe o acaso e que a carta não lhe chegou às mãos por casualidade, mas por desígnio divino. Virou-se para os colegas e disse: não vou à festa de logo, me perdoem, mas tenho um assunto urgente para resolver. Mas estavas tão animada, foi sua ideia do amigo oculto. Isso nada representa perto do que preciso fazer agora. Pegou um táxi e foi para o subúrbio. Bateu à porta, entrou. O marido embriagado nem a viu. Mas filho que estava encolhido num canto, correu para abraçá-la: Eu sabia que o menino Jesus ia trazer te para mim. Ela abriu os braços e disse apenas: Meu filho.
Exclusivo Revista Repórter X e Boletim da Universidade do Rio Janeiro
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