A RAV E O PESO DA INSENSIBILIDADE
Na terra onde o rigor se ergue como bandeira, há momentos em que a própria máquina da burocracia perde o rumo e esquece o ser humano.
Uma trabalhadora, recém-saída do turbilhão do parto e em plena luta pela recuperação da saúde, vê-se confrontada com uma exigência absurda: comparecer a uma consulta da RAV na mesma semana em que inicia um contrato de trabalho. Como pode alguém servir a dois senhores ao mesmo tempo, quando a prioridade deveria ser a integração no emprego e não a obediência cega ao calendário de um funcionário?
A empresa onde foi colocada revela-se instável, com dias em que há trabalho e dias em que sobra tempo forçado em casa, fruto do desequilíbrio entre o número de crianças e de assistentes. A trabalhadora enfrenta ainda consultas de psiquiatria e sociologia, baixas médicas, dores de corpo e alma, mas a engrenagem administrativa insiste em impor-lhe a procura de outro trabalho, como se a vida fosse apenas um cálculo de relatórios e penalizações.
E como se não bastasse, atiram-lhe a acusação mais injusta de todas: a de que “não deseja trabalhar”. Ofensa que não só fere a dignidade de quem cumpre como pode, mas também esquece o peso de ser mãe, o cansaço do corpo e a fragilidade do coração.
Na Suíça que se proclama justa, o que significa justiça quando a ameaça de sanções se levanta contra quem está ferido, doente, vulnerável? Que humanidade existe num sistema que obriga a escolher entre a saúde e o cumprimento de uma marcação?
Se a lei existe, que sirva para proteger, não para esmagar. Se as instituições existem, que se recordem da sua missão: dar apoio a quem precisa, não erguer muros de frieza.
autor: Quelhas
Revista Repórter X Editora Schweiz Oficial
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